quinta-feira, 26 de junho de 2008

Discursos Políticos (FIM). Agostinho Neto


Eu não fiquei contente, por exemplo, que nós estivéssemos a discutir problemas dos funcionários da OUA. Eu não gosto dos funcionários. Gosto mais dos combatentes. Mas o que é certo é que estivemos a discutir problemas dos funcionários. E isto foi um desprazer para muita gente, para muitos chefes de Estado.
Se nós continuarmos a consentir que o nosso Partido, o nosso Governo, tenha uma predominância de elementos da pequena burguesia, ou influenciados pela pequena burguesia, o que vai acontecer daqui a dois ou três anos? O que vai acontecer é que nós vamos mudar de orientação com as mesmas palavras de ordem, não cumprir aquilo que foi determinado pelo nosso Congresso e nós voltaremos a uma fase de capitalismo não confessado.
Nós não temos em Angola uma burguesia com poderes. Não temos, mas podemos ter no futuro, se não tomarmos cuidado.
Agostinho Neto. 27 De Julho de 1979. Discurso na cidade do Lubango.

Será que o Socialismo será manter populações sem habitação condigna, sem serem alfabetizadas, sem ter os liceus, os estádios, sem ter a possibilidade de desenvolvimento para as crianças, sem ter a necessária condição para a mulher poder trabalhar e criar os seus filhos?
Eu penso que ainda estamos muito longe do Socialismo. Socialismo para nós é uma intenção não é ainda uma realidade.
Quando não houver classes que se estejam a explorar umas às outras; quando não tivermos dentro do País um grupo ou vários grupos de pessoas a quererem ter mais vantagens do que os outros.
Nós diremos que estaremos a construir o Socialismo quando tivermos a paz. Quando for possível termos a paz.
E houve uma promessa de toda a população no sentido de acabar com o analfabetismo dentro do prazo o mais curto possível.
Isso é importante para a aquisição de ideias, para aprender as ciências, para aprender no futuro a governar o nosso País.
Nós não queremos cópias de outros países. Temos que organizar o nosso próprio País de acordo com as condições que aqui existem. Não queremos cópias, porque não podemos viver de cópias. Vamos, sim, aprender tudo aquilo que existe no Mundo e que seja útil para o nosso Povo. Vamos aprender todos os dias; pedir conselhos. Mas não copiar mecanicamente porque isso seria contraproducente.
Agostinho Neto. 18 De Agosto de 1979. Discurso em Malanje.

E a situação financeira depende de quê? Depende da nossa produção. Nós não podemos viver de importações, estar a importar sempre, pagando àqueles que nos vendem; precisamos nós de realizar os bens necessários para o nosso Povo.
Ainda temos problemas com a burocracia, com a burocracia que existe no nosso País e que se preocupa muito com os papéis – muitos papéis, muitos relatórios, muitas palavras e poucas obras. Temos de fazer com que o Partido corrija essa situação em cada província, em cada área do nosso País. Não podemos viver somente da burocracia, não podemos viver de papéis, de palavras, temos de viver dos actos!
E por não terem servido, eles foram afastados e o que acontece nessas situações é o seguinte: cada um que se sente afastado, pensa sempre na sua vingançazinha, pensa que é o homem ou a mulher mais importante do país e portanto pensa na sua vingançazinha.
A Revolução vai continuando, a revolução vai triunfar. Alguns de nós podem desaparecer. Alguns de nós podem ser liquidados na primeira esquina., mas a revolução vai continuar.
Agostinho Neto. 19 De Agosto de 1979. Discurso em Malanje.

Não se pode pensar na organização do País sem o Partido.
É evidente que nem todos podem pertencer ao Partido, nem todos têm a capacidade, nem a vontade e não é necessário obrigar cada um a pertencer ao Partido.
Agostinho Neto. 22 De Agosto de 1979. Discurso na cidade do Uíge.


Perguntam se o país é viável. Será? E o que é “um país viável?” Deveremos também perguntar se o seu povo é viável? Se os indivíduos desse povo são viáveis? Um índio é viável? Um americano é mais viável que um índio, ou que um negro? A República Sul-Africana é viável?
Trata-se de realidades e não de eventuais viabilidades. Os minúsculos Luxemburgo, Liechtenstein ou Mónaco são muito menores que a Guiné-Bissau, e existem, prosperam. O próprio conceito de viabilidade mostra a que ponto a economia como ciência e como sistema produtivo se distanciou de seus objectivos iniciais, que eram responder às necessidades da população.
Ladislau Dowbor Guiné-Bissau. A busca da independência económica. Editora Brasiliense-1983

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