domingo, 29 de junho de 2008

A Espada de Urundi Suspensa


A geratriz das ideias expõe o fervor ideológico. Perde-se o senso moral, abandona-se o bom samaritano. O perigo da política sectária acirra e confronta os espíritos, anima a imersão de conflitos civis. Quando um dos lados está contra tudo e todos, o poder salta-lhe à vista. Os anarquistas omnipresentes lançam poeira nos olhos incautos.
- Há alguém que consiga fugir da prisão preventiva das cidades? Que não se canse de fazer amor, sempre com a mesma mulher?
- Eleições, com biliões? Quando a bondade se vê e deseja…é escarcéu… os Petrofamintos e os Incendiários são guerreiros, a eleição será pautada à paulada, cacetada. Se os Petrofamintos ganharem, os Incendiários amarram o jogo, virarão o resultado.

Aliançados com grandes negócios, não darão as costas a midas. Se os Incendiários perderem – tem que ganhar – os militares estão lá para resolver, para decidir a contenda favorável aos Incendiários. É assim que sobrevive uma nação guerreira, com o seu líder eterno colocado nas nuvens. Com ar de mistério no mar desencontrado.
- A espada da barbárie de Urundi suspensa.
- Para cada quadrilha de malfeitores há sempre um herói. Como Bat Masterson e Wyatt Earp, o panteão da história lembra-os.
- Na história da caubóiada.
- Nas leis da história. Os heróis são necessários, entram em acção e repõem a ilegalidade.

O receio da cólera feria as mentes, congestionava as vias públicas. A cólera é pungente porque o poder não se sente. É sonho diurno. A lábia dos boca a boca interrompeu-se. Radiodifundia-se actualização do vibrião.
- Aguentem a cavalaria! Vai sair locução dos números epidémicos.
- Muda para a Rádio do Oráculo, a outra faz desconto.
- Já está! Deixem radiar!
Rádio Oráculo. Números da cólera…quarenta e dois mil infectados e mil e seiscentos mortos.
Mais informação com o nosso correspondente:
… Desencontro-me no desertus mirabilis. O barqueiro Caronte tem a situação controlada. Desviou um afluente do rio Estige que inunda o desertus mirabilis. As vítimas excedem-se. Os defuntos progridem com os vivos. Estes, para escaparem dos fluidos de Caronte, saltam pelas janelas do hospital, que parece o anjo da morte Mengele. O cheiro dos cadáveres é insuportável. Há mais de um mês que as autoridades locais guardam silêncio. A cólera espalha-se como uma invasão de gafanhotos. Quem divulgue informação do que se passa, as autoridades ameaçam com tribunal ad hoc. No momento em que vos falo, os Incendiários montam-me guarda. Dizem que vão cursar-me tratamento de choque informativo. Que tempos coléricos estes. Ó da guarda! Digo adeus ao mundo!
- Mentor…
- Minha Jasmim, a cólera encoleriza os cegos de espírito.
Gil Gonçalves

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