Elas, duas jovens que conseguiram viajar até aos vinte e cinco anos da lisonjeira imaturidade, andavam na estatal Universidade. Perguntadas se já chegaram, estudaram o Keynes ou o Adam Smith, responderam que não, não sabiam quem eram, nunca tinham ouvido falar.
Tinham tudo. Conquistaram com uma luta de libertação. Iludiram o Povo dizendo-lhes que as riquezas são nossas, são populares, do Povo. É tudo do Povo. Fácil foi iludir os idiotas populares, citadinos. Porque as quadrilhas petrolíferas e diamantíferas abundam nas cercanias. Assim, como mais uma das milhentas vezes que há-de porvir na História, os categóricos do marxismo-leninismo impuseram sem mais delongas a independência, ás pressas, à toa, assim como agora no Tribunal Constitucional.
Em nome da religião marxista-leninista, é tudo uma mera questão de religião, juraram que o Povo jamais seria escravizado, martirizado, esfomeado, aldrabado. Vai daí, em nome do Povo, tudo em nome do Povo, quadrilharam o petróleo e os diamantes. Como não queriam dividir com ninguém, onde já se viu quadrilha organizada dividir o saque com mais alguém?
E consumou-se. Afinal era tudo um erro de semântica. Povo, somos nós, o partido marxista-leninista. Os nossos ideais são puros e inocentes, como a extracção petrolífera e diamantífera, efectuadas pelas empresas estrangeiras nossas amigas. E agora também as nossas empresas pessoais, de direito quadrilheiro.
Porra! Até agora conseguimos aguentar-nos trinta e tal anos sempre em nome do Povo. Povo é o nosso petróleo e diamantes. Mas, estamos agora num momento de mortais consequências imprevisíveis. Os idiotas estão a ficar espertos, despertos, e já dizem que as estrelas não são mais do Povo. Tramamo-nos, tramam-nos, que a Revolução Francesa é a única coisa da História que se repete, e desesperançados desesperamos já despencados.
Convictos de que seria sempre assim, uma independência sem objectividade, sem liberdade e tudo, tudo em nome do Povo nas suas mãos, nos nossos cofres, nas nossas contas estrangeiradas, bem guardadas, cifradas.
Se não fossem Locke e Voltaire, estaríamos eternamente no poder, poderosos com a ajuda e vontade de Deus, que nos deu estas riquezas pessoais e do Povo impessoais.
Grande Maka: agora vem com essa das eleições. Vamos perdê-las, porque decifraram que nós somos piranhas importadas, de bantus disfarçadas. Querem a parte que lhes pertence, mas não nos convence. Mas qual quê! Com que direito! Que se atrevam! Tudo, mais-que-tudo, está com a nossa família. Da nossa herança marxista-leninista nunca, jamais abdicaremos. Petróleo, diamantes, bancos, bancas, bancadas, tudo o que é e não é comunicações, supermercados, aviões, e tantas e tantas outras confusões.
Se tudo é nosso, tutelado, da nossa família, tal e qual a herança de Constantino, como ousais inventar eleições perdíveis, para nos magnetizarem as riquezas obtidas, dos nossos dedos desgastados, engatilhados nas armas do sílex revolucionário.
Idiotas eleitores, cândidos, ingénuos! Como possibilitam a existência de eleições, com todas as riquezas do nosso país nas nossas mãos, da nossa família camorra!
É o martírio das eleições clânicas, das fogueiras da inquisição medieval.
Inicialmente publicado no semanário Folha 8
Gil Gonçalves
Tinham tudo. Conquistaram com uma luta de libertação. Iludiram o Povo dizendo-lhes que as riquezas são nossas, são populares, do Povo. É tudo do Povo. Fácil foi iludir os idiotas populares, citadinos. Porque as quadrilhas petrolíferas e diamantíferas abundam nas cercanias. Assim, como mais uma das milhentas vezes que há-de porvir na História, os categóricos do marxismo-leninismo impuseram sem mais delongas a independência, ás pressas, à toa, assim como agora no Tribunal Constitucional.
Em nome da religião marxista-leninista, é tudo uma mera questão de religião, juraram que o Povo jamais seria escravizado, martirizado, esfomeado, aldrabado. Vai daí, em nome do Povo, tudo em nome do Povo, quadrilharam o petróleo e os diamantes. Como não queriam dividir com ninguém, onde já se viu quadrilha organizada dividir o saque com mais alguém?
E consumou-se. Afinal era tudo um erro de semântica. Povo, somos nós, o partido marxista-leninista. Os nossos ideais são puros e inocentes, como a extracção petrolífera e diamantífera, efectuadas pelas empresas estrangeiras nossas amigas. E agora também as nossas empresas pessoais, de direito quadrilheiro.
Porra! Até agora conseguimos aguentar-nos trinta e tal anos sempre em nome do Povo. Povo é o nosso petróleo e diamantes. Mas, estamos agora num momento de mortais consequências imprevisíveis. Os idiotas estão a ficar espertos, despertos, e já dizem que as estrelas não são mais do Povo. Tramamo-nos, tramam-nos, que a Revolução Francesa é a única coisa da História que se repete, e desesperançados desesperamos já despencados.
Convictos de que seria sempre assim, uma independência sem objectividade, sem liberdade e tudo, tudo em nome do Povo nas suas mãos, nos nossos cofres, nas nossas contas estrangeiradas, bem guardadas, cifradas.
Se não fossem Locke e Voltaire, estaríamos eternamente no poder, poderosos com a ajuda e vontade de Deus, que nos deu estas riquezas pessoais e do Povo impessoais.
Grande Maka: agora vem com essa das eleições. Vamos perdê-las, porque decifraram que nós somos piranhas importadas, de bantus disfarçadas. Querem a parte que lhes pertence, mas não nos convence. Mas qual quê! Com que direito! Que se atrevam! Tudo, mais-que-tudo, está com a nossa família. Da nossa herança marxista-leninista nunca, jamais abdicaremos. Petróleo, diamantes, bancos, bancas, bancadas, tudo o que é e não é comunicações, supermercados, aviões, e tantas e tantas outras confusões.
Se tudo é nosso, tutelado, da nossa família, tal e qual a herança de Constantino, como ousais inventar eleições perdíveis, para nos magnetizarem as riquezas obtidas, dos nossos dedos desgastados, engatilhados nas armas do sílex revolucionário.
Idiotas eleitores, cândidos, ingénuos! Como possibilitam a existência de eleições, com todas as riquezas do nosso país nas nossas mãos, da nossa família camorra!
É o martírio das eleições clânicas, das fogueiras da inquisição medieval.
Inicialmente publicado no semanário Folha 8
Gil Gonçalves
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