Feiticismo
Os Portugueses, desde os primeiros contactos com os povos negro-africanos que estes adoravam feitiços e ídolos. Filipo Pígafetta e Duarte Lopes, na sua Descrição do Reino do Congo, publicada em 1591, afirmavam: «E vimos inúmeros objectos, pois cada qual adorava o que mais gostava, sem regra nem medida, nem razão de qualquer espécie… Escolhiam, como deuses, cobras, animais, pássaros, plantas, árvores, diversas figuras de madeira e pedra, e imagens que representavam estes seres já enumerados, pintadas ou esculpidas em madeira, pedra ou outro material…
Os ritos eram variados, mas todos cheios de humildade, como, por exemplo, ajoelhar-se, prostrar-se de rosto em terra, cobrir a face com pó suplicando ao ídolo e fazendo-lhe oferenda dos bens mais estimados. Também tinham bruxos que os enganavam fazendo crer a esses ignorantes que os ídolos falavam.»
Ao formar as categorias dos seres existentes, eles raciocinaram por “exclusão”. Se não, vejamos: o Pré-Existente não encontra lugar na lista. Não é nem “Muntu”, homem, nem, “Kintu”, coisa, nem “Hantu”, localização, nem, com mais razão, “Kuntu”, modo de ser.
A. Kagame insiste em que o Deus bantu não pertence à categoria de «ntu» (ser finito): porque a noção do ser não é unívoca, e sim análoga.
Embora seja mais comum chamar a Deus de Pai, em alguns grupos aparece como Mãe. Um velho soba quimbundo chamava sempre a Deus «Mama Nzambi» (Deus-Mãe) e não «Tatá Nzambi» (Deus-Pai), que seria o comum.
Referimo-nos apenas aos nomes usados em Angola. A denominação mais comum na área banta e empregada em 24 línguas é a de Nzambi, com estas variantes: Nyambe, Njambi, Nzambe, Nzame, Nzama, Njambe, Nsambi, Tshambe, Inambie, Inandzambi, Nhambe e outros.
O. Ribas afirma que deriva de «Kuzamba»: «presentear (a vida, o mundo)»: «dizer, fazer, executar, modelar, ordenar», isto é, «aquele que cria, fala, organiza e faz».
Pode também originar-se da raiz «Yamba» (recompensar, remunerar). Nzambi seria «o remunerador, o benfeitor», ou do radical «mbi», essência pessoal. Expressaria uma entidade abstracta. Em quicongo chamam-lhe «Nzambi-Mpungu» «o grande, o forte, o todo-poderoso, o perfeito, o bondoso, o imenso, o excelente», talvez, porém, por influência cristã.
De qualquer forma, «o sentido original de Nzambi… permanece obscuro, como diz Van Wing. Não obstante, esta obscuridade será relativamente menos densa, uma vez que os dois significados «dizer e fazer» poderiam referir-se a «criar pela palavra e pela acção».
Outro grupo de nomes provém dos radicais «umba, panga, unda, tongla, ilola e, sobretudo, unga» que dão uma noção de «criar fabricando, dando forma, modelando». Assim «Mbunda, Pamba, Umbumbi, Maunda, Karunga, Kalanga, Katonga, Umbumba e Kalunga».
Kalunga (Deus) aparece em vários grupos etnolinguísticos angolanos, norte da Namíbia, fronteira de Angola (nordeste) com o Congo (Zaire) e em grupos junto ao lago Kivu e lago Tanganica. Kalunga, etimologicamente, significa «aquele que, por excelência, reúne». Em diversas línguas bantus, significa também o mar, o oceano, o infinito, a morte, o rei do mundo subterrâneo ou mar, o que atrai a chuva. Kalunga
Encerra um significado real de Grandeza, Imensidão, Infinidade.
Não há certeza sobre o sentido etimológico dos nomes de Deus «Suku, Huku, Sugu».
Alguns os deduzem do verbo «oku-huka»: sobressair, exceder, sobrepujar. Assim, Deus seria «O Altíssimo, o Excelso, o Grande, o Impenetrável.»
Campbel opina que «Sku» quer dizer: «O que socorre as necessidades de suas criaturas».
Outros opinam que poderia derivar-se da palavra umbunda «esuku» (medula das árvores) ou de «uasuku» (o último). Suku seria, assim, o «primeiro de todos».
Parece mais acertado derivá-lo das palavras, também umbundas, «sekulu» e «ise-yukulu» («o velho dos velhos»),« a raiz dos velhos» Deus seria «o pai mais velho de todos os pais humanos.
Tipo cuvale (Kuvale). Puros pastores nómadas do grupo Herero. Somatologia mista caucasóide-bantu: as tradições e diversos traços culturais acusam origens camitas.
Encontra-se uma infinidade de alusões ao controlo divino do universo. Não duvidam de que é o Senhor do mesmo, o seu dono, que vê e conhece os segredos da criação e do homem. Para Deus não há mistérios. «Os Ba-Nhanekas e os Ba-kumbis designam com o nome de Huku ou Suku… ao Deus invisível que vê o que nós fazemos, ouve o que dizemos, e sabe o que pensamos.
In Cultura Tradicional Bantu. Pe. Raul Ruiz de Asúa Altuna. Edições Paulinas
Gil Gonçalves
Imagem: http://www.macua.org/livros/olhar1np.html
Os Portugueses, desde os primeiros contactos com os povos negro-africanos que estes adoravam feitiços e ídolos. Filipo Pígafetta e Duarte Lopes, na sua Descrição do Reino do Congo, publicada em 1591, afirmavam: «E vimos inúmeros objectos, pois cada qual adorava o que mais gostava, sem regra nem medida, nem razão de qualquer espécie… Escolhiam, como deuses, cobras, animais, pássaros, plantas, árvores, diversas figuras de madeira e pedra, e imagens que representavam estes seres já enumerados, pintadas ou esculpidas em madeira, pedra ou outro material…
Os ritos eram variados, mas todos cheios de humildade, como, por exemplo, ajoelhar-se, prostrar-se de rosto em terra, cobrir a face com pó suplicando ao ídolo e fazendo-lhe oferenda dos bens mais estimados. Também tinham bruxos que os enganavam fazendo crer a esses ignorantes que os ídolos falavam.»
Ao formar as categorias dos seres existentes, eles raciocinaram por “exclusão”. Se não, vejamos: o Pré-Existente não encontra lugar na lista. Não é nem “Muntu”, homem, nem, “Kintu”, coisa, nem “Hantu”, localização, nem, com mais razão, “Kuntu”, modo de ser.
A. Kagame insiste em que o Deus bantu não pertence à categoria de «ntu» (ser finito): porque a noção do ser não é unívoca, e sim análoga.
Embora seja mais comum chamar a Deus de Pai, em alguns grupos aparece como Mãe. Um velho soba quimbundo chamava sempre a Deus «Mama Nzambi» (Deus-Mãe) e não «Tatá Nzambi» (Deus-Pai), que seria o comum.
Referimo-nos apenas aos nomes usados em Angola. A denominação mais comum na área banta e empregada em 24 línguas é a de Nzambi, com estas variantes: Nyambe, Njambi, Nzambe, Nzame, Nzama, Njambe, Nsambi, Tshambe, Inambie, Inandzambi, Nhambe e outros.
O. Ribas afirma que deriva de «Kuzamba»: «presentear (a vida, o mundo)»: «dizer, fazer, executar, modelar, ordenar», isto é, «aquele que cria, fala, organiza e faz».
Pode também originar-se da raiz «Yamba» (recompensar, remunerar). Nzambi seria «o remunerador, o benfeitor», ou do radical «mbi», essência pessoal. Expressaria uma entidade abstracta. Em quicongo chamam-lhe «Nzambi-Mpungu» «o grande, o forte, o todo-poderoso, o perfeito, o bondoso, o imenso, o excelente», talvez, porém, por influência cristã.
De qualquer forma, «o sentido original de Nzambi… permanece obscuro, como diz Van Wing. Não obstante, esta obscuridade será relativamente menos densa, uma vez que os dois significados «dizer e fazer» poderiam referir-se a «criar pela palavra e pela acção».
Outro grupo de nomes provém dos radicais «umba, panga, unda, tongla, ilola e, sobretudo, unga» que dão uma noção de «criar fabricando, dando forma, modelando». Assim «Mbunda, Pamba, Umbumbi, Maunda, Karunga, Kalanga, Katonga, Umbumba e Kalunga».
Kalunga (Deus) aparece em vários grupos etnolinguísticos angolanos, norte da Namíbia, fronteira de Angola (nordeste) com o Congo (Zaire) e em grupos junto ao lago Kivu e lago Tanganica. Kalunga, etimologicamente, significa «aquele que, por excelência, reúne». Em diversas línguas bantus, significa também o mar, o oceano, o infinito, a morte, o rei do mundo subterrâneo ou mar, o que atrai a chuva. Kalunga
Encerra um significado real de Grandeza, Imensidão, Infinidade.
Não há certeza sobre o sentido etimológico dos nomes de Deus «Suku, Huku, Sugu».
Alguns os deduzem do verbo «oku-huka»: sobressair, exceder, sobrepujar. Assim, Deus seria «O Altíssimo, o Excelso, o Grande, o Impenetrável.»
Campbel opina que «Sku» quer dizer: «O que socorre as necessidades de suas criaturas».
Outros opinam que poderia derivar-se da palavra umbunda «esuku» (medula das árvores) ou de «uasuku» (o último). Suku seria, assim, o «primeiro de todos».
Parece mais acertado derivá-lo das palavras, também umbundas, «sekulu» e «ise-yukulu» («o velho dos velhos»),« a raiz dos velhos» Deus seria «o pai mais velho de todos os pais humanos.
Tipo cuvale (Kuvale). Puros pastores nómadas do grupo Herero. Somatologia mista caucasóide-bantu: as tradições e diversos traços culturais acusam origens camitas.
Encontra-se uma infinidade de alusões ao controlo divino do universo. Não duvidam de que é o Senhor do mesmo, o seu dono, que vê e conhece os segredos da criação e do homem. Para Deus não há mistérios. «Os Ba-Nhanekas e os Ba-kumbis designam com o nome de Huku ou Suku… ao Deus invisível que vê o que nós fazemos, ouve o que dizemos, e sabe o que pensamos.
In Cultura Tradicional Bantu. Pe. Raul Ruiz de Asúa Altuna. Edições Paulinas
Gil Gonçalves
Imagem: http://www.macua.org/livros/olhar1np.html
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