Iniciação feminina
Os ritos de passagem e iniciação da rapariga púbere não tem quase relevo nas sociedades matrilineares. Ou desapareceram ou ficaram reduzidos a insignificantes ritos simbólicos.
Em Angola, a iniciação é praticada por vários grupos: Ganguela, Tshokwe, Nhaneka-Humbe, Ambó.
A rapariga deve ser iniciada quando lhe aparece a primeira menstruação. Nalguns grupos, iniciam-se antes e, noutros, depois de passar dois anos ou mais, ou associam-na ao contrato matrimonial.
Nalguns ritos, estes ritos duravam meses e até anos. Assim as instruíam e preparavam para todas as funções femininas. Normalmente duram poucos dias, apenas três ou quatro. Reduziram-se a uma cerimónia única, e realizam-se nas aldeias e na casa paterna.
A rapariga deve apresentar-se virgem a estes ritos, de contrário sofre vexações e paga uma indemnização, além de atrair a vergonha para ela e para a sua mãe, responsável pela sua educação. Antes, podiam ser mortas com uma lança.
Se aparecer grávida, a desonra assume a maior gravidade. Costumavam ser mortas. Se uma rapariga cuanhama dava à luz, antes da «efundula» (assim se chamam os ritos iniciatórios), prenunciava a morte do soberano. O nascimento dum menino, cuja mãe não passou por estes ritos, é um indício muito funesto.
Entre os Cuanhamas, no segundo dia da «efundula», as raparigas bebem uma cerveja especial, misturada com drogas, em que se incluiu um pouco de esperma dum circuncidado doutro grupo, já que eles não praticam a circuncisão.
No «olufuko» dos Cuamatos, a mestra anciã prepara uma cerveja com drogas da qual retira uma porção numa taça; nela, um circunciso lava o seu membro viril três vezes. A rapariga, que desconhece estas práticas, bebe um gole. O resto, a mãe vai-lho derramando pelo baixo-ventre até correr por uma enxada, que lhe colocaram debaixo dos membros inferiores.
Mutilações sexuais
Bastantes povos negro-africanos praticam a excisão ou clitoritomia. Aparece como excepção entre alguns grupos bantus.
Numa operação dolorosa e cruel extirpam o clítoris com uma faca candente, com pedaços de vidro, com uma lâmina de barbear, com uma faca de sílex ou com um tição incandescente. Muitas vezes também cortam os lábios pequenos e grandes da vulva. A operação é feita por mulheres especializadas, que, nalguns lugares, aplicam urtigas como dolorosa anestesia. Costumam fazê-la quando a jovem chega à puberdade e, nalguns grupos, logo que chega aos oito ou nove anos.
A excisão pratica-se sobretudo nos países árabes ou islamizados: Egipto, Sudão, Djibuti, Emirados Árabes Unidos, Omã. Na África negra: na Nigéria, Mali, Guiné, Costa do Marfim e outros povos da África oriental. Os Kikuyus, povo bantu do Quénia, parece que são os únicos que exigem inexoravelmente a excisão a todas as mulheres. Jomo Kenyatta nem concebia que se pusesse em dúvida o valor social e até religioso, além de ético, desta horrível prática. A clitoritomia é uma iniciação pela qual a jovem alcança o estatuto social de mulher. Nenhum kikuyu casará com uma mulher não iniciada, e, inclusivamente, é perigoso magicamente relacionar-se sexualmente com quem não sofreu a excisão.
… Noutros lugares, como a Etiópia, pensam que é uma medida higiénica com consequências morais positivas que garante a feminilidade. Na Costa da Marfim, convencem-nas de que doutra forma não terão filhos.
Esta prática vergonhosa já foi denunciada pela ONU, que avalia em 70 milhões as mulheres mutiladas.
À infibulação, precedida ou não da clitoritomia, sujeitam-se as mulheres dos países islamizados do nordeste africano, Sudão, Etiópia, Somália, Eritreia, Djibuti, Chade.Quase exclusiva dos muçulmanos, parece que esta prática não se conhece na área bantu.
… A ruptura do hímen é mecânica e é feita por uma mulher idosa com os dedos ou utilizando um pequeno instrumento. «Na Costa ocidental da África, as jovens são desfloradas com a ajuda dum bambu, que conservam dependurado da vagina cerca de três meses. À volta da vulva colocam formigas que devoram as ninfas e o clítoris».
O substantivo da língua quimbunda «kilembu» significa «soma de géneros, artigos ou dinheiro». E o verbo, também quimbundo, «kulemba» significa «prestar homenagem ao futuro sogro por meio de presentes convencionais». Alambamento deriva directamente deste verbo, depois de suprimir o radical do infinito «ku» e de lhe acrescentar a desinência «mento» por influência do português. Do mesmo modo surgiram outras palavras como «xinguilamento», «sunguilamento», «sabulamento».
Poliandria
…. Existe entre alguns grupos esquimós que praticam o infanticídio das meninas pelo encargo que representam.
Entre os tibetanos agricultores, vários irmãos compartilham a mesma esposa. Parece que tentam reduzir assim o número de herdeiros para que o património se transmita indiviso.
Os Wahumas da África oriental praticam-na ocasional e temporariamente. Quando os irmãos ajudam um seu irmão a preparar o alambamento, tem direito a partilhar a esposa a qual fica a pertencer exclusivamente ao marido, a partir da gravidez. Os pastores Todas, do Sul da Índia, também fazem uma mulher esposa de todos os irmãos até à sua gravidez.
In Cultura Tradicional Bantu. Pe. Raul Ruiz de Asúa Altuna. Edições Paulinas
Gil Gonçalves
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