segunda-feira, 30 de junho de 2008

Fóssil do Mioceno


A estirada para Tule avançava, diminuía o percurso. A paisagem da juventude Petrofaminta que enchia baldes com água para lavar carros e solidificar a fé comestível, não melhorava. Jovens dengosas auscultavam nos vidros dos carros e trocavam impressões sobre o preço da carne. Os seguranças permaneciam encostados, apoiados nos pilares. Outros sentados em improvisadas cadeiras.

De repente o ambiente intempesta-se. Dois desabridos seguranças manifestam dor da alma. Um narra para os colegas os últimos acontecimentos. Roga apoio, mas os colegas limitam-se a ouvi-lo, porque ao mínimo deslize perdem o emprego.
-… O director da empresa da vanguarda Incendiária apresentou lamentos: Descobriu que algumas alvíssaras se evadiram dos cofres. Vai daí, nada mais fácil do que culpar os seguranças. O indistinto prosélito, qual mastodonte fóssil do Mioceno ordenou: «chamem a polícia Incendiária». A polícia chegou, ele deu-lhes a quantia necessária para as investigações e actuaram de imediato. Cismaram para quatro seguranças, arrastaram-nos e divertiram-se muitas horas a cascar-lhes chapadas com catanas nas costas e nas faces. Num deles, os Incendiários arrancaram-lhe as unhas dos dedos das mãos. Depois atiraram-nos para um albergue, com os ossos tão amassados, que alguém se lembrou de dizer: «essa pasta óssea dá para fazer pastilha elástica».

- Mentor… é doença mental?
- Hum, hum. Prometeram-lhes mundos e fundos, deram-lhes uma chave falsa para a felicidade eterna. No princípio é fácil abusar da boa fé das pessoas, tiram-se muitos dividendos, mas com o tempo tudo se desmorona. É como a prisão perpétua.
Gil Gonçalves

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