sábado, 21 de junho de 2008

Discursos Políticos (VII). Agostinho Neto


É uma questão importantíssima porque nós pretendemos sempre agir em nome da justiça, agir em nome do progresso, mas nem sempre os nossos actos coincidem com a justiça e com o progresso. Ainda praticamos, aqui, muitas injustiças, ainda há homens, cidadãos do nosso país, que praticam a arbitrariedade. Precisamos de vigiar melhor o direito de cada um dos nossos compatriotas de gozar uma vida livre e uma vida em que se possa dizer realmente defendida pelo Estado e pelo Partido.

Hoje, em Luanda, não temos sapateiros, nem carpinteiros, nem marceneiros. Porquê? Porque todos foram para a função pública.
Bom, os camaradas bateram palmas, mas devem saber que não é fácil, não é nada fácil. É necessário ter princípios, ser-se coerente, honesto e modesto. É preciso reunir uma série de qualidades para se poder ser comunista.
Alguns dos nossos compatriotas poderão, talvez, ter o seu próprio carro, a sua camioneta, a sua carrinha para resolver os problemas do comércio e outros problemas.

A construção de habitação, por cada um, já não é proibida, hoje. Cada um pode construir a sua casa onde melhor lhe convém, obedecendo é claro, aos planos de urbanização.
Os homens e mulheres que vivem no campo, sofrem imenso, porque não podem comprar, porque não podem vender e, dificilmente, podem produzir.
Mas aqueles que podem resolver os problemas sozinhos, ou pensem que podem resolver os problemas sozinhos, vamos dar-lhes essa possibilidade de resolverem os seus problemas.
Agostinho Neto. 10 De Dezembro de 1978. Discurso no acto central do 10 de Dezembro.


Estamos a recorrer a técnicos estrangeiros. Teremos de recorrer sempre, porque não teremos a técnica durante este ano, não teremos a técnica dentro dos próximos dez anos. Vamos recorrer sempre à ajuda estrangeira.
Temos muitos analfabetos e as crianças, os homens, as mulheres devem aprender a ler e a escrever.

Vamos preocuparmo-nos com a formação de quadros para a agricultura. Os nossos jovens, quando se fala em formar técnicos agrícolas ou técnicos para apoio às empresas industriais, riem-se um pouco, dizem que isso não é ofício para uma pessoa que já sabe alguma coisa e querem ser advogados, médicos…

Formem-se os técnicos, mecânicos para a organização de uma secção de transportes, para a condução de tractores, para a utilização de tractores. Formem-se os técnicos que podem organizar os transportes, formem-se os técnicos para poder dirigir instalações eléctricas etc., porque aí está a base, está o futuro da nossa vida.
Temos energia eléctrica a instalar em várias províncias que ainda não têm energia eléctrica. Temos bairros em Luanda mal servidos de energia eléctrica.

Há pouco tempo os camaradas, pelo menos em Luanda, das Comissões Populares de Bairros, estiveram reunidos com o camarada ministro da Construção e habitação, para ver como é que vamos resolver o problema da habitação nesta cidade que está a crescer de dia para dia.
Bom, desde que se tratou este problema, já começaram as construções sem licença de ninguém.
Cada um apanha duas chapas de zinco, dois adobes, três pedras e faz a sua casa. E faz a sua casa de maneira a tapar a rua, tapar o acesso à população a determinados locais. Enfim está-se a fazer uma aplicação muito má do princípio que nós temos admitido, como uma probabilidade num futuro próximo. Quer dizer que não constroem com a licença do Comissariado Municipal, não constroem com a licença do Ministério da Construção e vamos tendo a cidade tapada em várias ruas. Não pode ser! Vamos construir sim, mas com a licença do Comissariado Municipal, com o acordo do Ministério da Construção em todo o País.

Quem tem os seus meios, quem tem material, pode construir, pode ter a sua casa para viver mas respeitando os planos de urbanização, os planos de organização de cada cidade dentro do País. Não vamos construir de uma maneira selvagem, de uma maneira anárquica. Temos de construir de maneira que tudo esteja ordenado, porque senão, bom, o tractor vai passar por cima. Não teremos outro remédio. Vamos pôr os tractores em cima dessas casas que estão a tapar as ruas e aqueles que já começaram é melhor parar.
Agostinho Neto. 4 De Fevereiro de 1979. Discurso no acto central do 4 Fevereiro.
Gil Gonçalves

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