sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Editoria. Raptos e resgates em Maputo



Maputo (Canalmoz) – No País, mais propriamente em Maputo, estão a seguir-se raptos de empresários bem sucedidos, uns atrás dos outros, e as autoridades continuam mudas como se nada estivesse a perturbar a tranquilidade dos cidadãos, como se nada houvesse.
Esta semana, mais propriamente na segunda-feira, mais um empresário foi raptado e libertado um dia depois, a troco de um resgate de valor elevado.
Já foram raptados mais de uma dezena de empresários, sobretudo muçulmanos e hindus, todos eles moçambicanos e, desde que estes casos começaram a registar-se o ano passado, não se ouve uma palavra do Governo, nem das autoridades policiais a tranquilizar as famílias das vítimas e os demais empresários que apesar de ainda não ter chegado a vez de passarem por tormentas semelhantes, pelo que nos dizem, andam apavorados com a situação, pois ninguém está agora livre de poder vir a ser a próxima vítima.
Todas as vezes que sucede algo, o silêncio impera. Não se vê, nem se sente o mais pequeno interesse em esclarecer de uma vez por todas quem está por trás destes macabros acontecimentos.
Já se deram mais de uma dezena de casos e o Governo que deveria ao menos aparecer a tranquilizar o País, continua mudo e a fingir que tudo o que está a acontecer é normal.
As pessoas próximas dos raptados dizem-nos que há fortes suspeitas de estarem envolvidos nos raptos elementos da Polícia da República de Moçambique e de outras instituições similares, com figuras bem conhecidas e imigrantes que têm arquivos bem completos das suas vítimas. Nada está provado, mas todas as indicações coincidem com esse pressuposto.
Suspeita-se ainda que a rede de criminosos que têm estado a actuar impunemente baseia-se em dados de funcionários bancários com acesso aos saldos das contas das vítimas que têm sido escolhidas a dedo.
Os casos estão a suceder-se com intervalos que variam entre 30 e 45 dias.
Os ciclos são demasiadamente regulares para se poder continuar a imaginar que se trata de um grupo de malfeitores de ocasião. Ao ritmo e tendo em conta os valores dos resgates, estamos a falar já em mais de 10 milhões de USD.
O grupo criminoso actua com o mais atrevido à vontade. Pressupõem as vítimas que se trata sempre do mesmo grupo que não se faz ao terreno encapuçado, o que dá bem a ideia da protecção que estão a beneficiar ao mais alto nível.
A veleidade com que os criminosos actuam, a escolha metódica das suas vítimas chega a deixar no ar a ideia de que se pode tratar de um grupo que persegue objectivos que ultrapassam a mera criminalidade motivada pelas dificuldades do dia-a-dia.
Estamos seguramente perante um grupo de criminosos com ligações internacionais que a musculatura que a Polícia tem procurado mostrar contra civis indefesos não é suficiente para travar, demonstrando isso uma total inaptidão ou uma total cumplicidade. Fala-se sobretudo em cumplicidade…
Também nos impressiona que as associações empresariais não tenham dado ainda qualquer passo para que se ponha termo de uma vez por todas à impunidade com que actuam os raptores.
Quando se deu o primeiro caso, a ideia geral foi de que se tratou de um episódio como qualquer outro de natureza criminal, susceptível de acontecer em qualquer parte do mundo. Mas o ritmo a que tudo se vem repetindo e quando já se deram mais de uma dezena de casos confirmados de raptos sujeitos a operações de resgate de valores acima de um milhão de dólares americanos, a total indiferença do Governo e dos mais altos comandos das instituições de defesa e segurança deixa preocupado qualquer cidadão, porque expõe a vulnerabilidade a que todos estamos sujeitos enquanto governados por gente insensível e até que mostre trabalho que demonstre o contrário, completamente irresponsável.
A indiferença do Governo não só permite que os cidadãos deste nosso Estado estejam em permanente risco, como até permite o descrédito de Moçambique como destino aconselhável de capitais nacionais e estrangeiros.
Um Governo que se diz interessado em incentivar investimentos e depois não é capaz de garantir segurança a quem acredita em Moçambique como base dos seus negócios e interesses legais, perante os sucessivos casos de rapto e resgate não esclarecidos, devia estar a preocupar-se profundamente com o que está a suceder, mas constata-se que estamos perante gente sem o mínimo sentido de Estado.
É urgente que o Governo, no mínimo o ministro do Interior, promova uma conferência de Imprensa para se explicar, para esclarecer que Polícia temos nós que não consegue explicar e resolver um único caso de rapto e resgate.
O dilema chegou a um ponto nunca visto. De um momento para o outro, qualquer cidadão com economias mais substanciais poderá vir a ser a próxima vítima. Se ainda ninguém se preocupou com o que está a suceder, talvez seja pelo segredo que tem rodeado os vários episódios. Mas é conveniente entender-se que o silêncio das vítimas e suas famílias deve-se ao medo que têm de voltarem a ser importunados.
O medo deve-se certamente a alguma certeza de que nisto estão envolvidos nomes sonantes do mundo do crime em Moçambique. Só pode! É impossível que nisto não haja “gato escondido com rabo de fora”.
Se nós outros nos calarmos, o próximo pode ser você mesmo que nos está a ler.
Hoje o problema não é meu, é do vizinho, mas amanhã a mesma desgraça poderá bater à porta de quem por ora se mantém indiferente à onda de raptos que está a ocorrer.
Todos temos a ver com isto com preocupação e determinação. Quanto antes melhor. “É preciso matar-se o jacaré no ninho”.
O que tem o Governo a dizer? Nada? Vai continuar calado? Que respeito e confiança se pode ter num Governo assim? É apenas mais uma das muitas que conhecemos de quem se julga imprescindível e depois só nos sabe oferecer a sua evidente incapacidade. (Canalmoz / Canal de Moçambique)
Imagem: Hélder Xavier. @VERDADE - 09.12.2010
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