Lisboa - A mudança que os angolanos clamam não é indubitavelmente a mesma que os políticos clamam. Enquanto os angolanos urbanos, habitantes dos centros urbanos e periferias clamam por uma melhor qualidade de vida ou seja, mais luz eléctrica, água corrente ininterrupta nas torneiras, melhor segurança pública, melhorias no saneamento básico e descongestionamento do tráfego rodoviário. Os políticos da cidade clamam pelo derrube do Estado e refundação do Estado, pela mudança do regime, pela alteração dos símbolos da República e pela revisão da Constituição.
Fonte: Club-k.net
A mudança que os angolanos clamam
Os angolanos do interior do país, maioritariamente rurais, clamam por mais apoios do Governo com fertilizantes, sementes, adubos entre outros meios tais como, charruas, arados, enxadas, materiais de construção, por mais uma escola, outro posto médico e “chuva”. Os políticos rurais, clamam por apoios de meios rolantes para divulgarem a mensagem dos respectivos partidos junto das povoações, disputam acerrimamente o aumento do número de acólitos e têm na troca de denúncias a arma do jogo político.
Os angolanos da diáspora clamam por uma Angola moderna e sonham em regressar ao país, em participarem activamente no seu crescimento, no seu desenvolvimento porque se sentem como flores transladadas. Os políticos da diáspora cada vez mais escassa clamam por uma Angola ao exemplo do mundo em que cada um deles está “acantonado”. Neste segmento sociopolítico e psico-motivacional as diferenças urbanas e rurais são exíguas.
Em 1975 os angolanos clamavam pela liberdade de conduzirem o seu próprio destino, sair do jugo colonial. Ninguém questionava o modelo político, o regime de Estado nem a tipologia de Governo. O povo aderiu e apoiou. Cada cidadão à sua maneira apoiou o movimento que lhe era fácil de chegar. Essa ajuda quase sempre determinados mais pelos laços de proximidades do que por ordem ideológica. Apenas “os cabeças” dos movimentos tinham a sua agenda secreta, relativamente a conquista do poder. A luta contra o colono unia Angola e os angolanos.
Em 1975 um dos três, seria naturalmente o poder. Ganhou quem melhor “driblou” os outros. Neto, inteligentemente, conseguiu vencer os seus opositores internos, os revoltosos das duas facções, conseguiu fragilizar a força imponente dos militares da FNLA e a extravagância do menino do mato recebido em Luanda como o libertador. Pouco importa os contornos ulteriores e posteriores das agendas políticas nacionais e internacionais. Os três nunca se entenderam. É histórico! Nem em Argel, Lisboa ou Congo os três conseguirem ser um só povo. E no final nasceu Angola de Cabinda ao Cunene, um só povo uma só Nação. A mudança que os angolanos clamam na voz dos políticos terminou em 1975 com a conquista da independência.
Depois de 1975 não foi o povo, foram os políticos que não aceitaram a derrota do póquer viciado à partida pelos três e decidiram fazer a longa marcha inspirados em Mao Tsé-Tung, novamente, em nome das mudanças que os angolanos clamam. O povo, esse, havia corrido o branco. Angola era livre. Este povo mudara-se dos musseques, dos kimbos, das sanzalas para as cidades, substituíram os brancos na administração e ocuparam as casas, prédios, lojas, quintas, fazendas quando não fossem queimadas pelo poder popular. A independência nos deu a liberdade, casa, trabalho, igrejas, tudo. Lutar para o quê, contra quem e porquê?
Desde 11 de Novembro de 1975 à 1991, a UNITA decidiu que a independência angolana era nominal. A FNLA de Holden, rapidamente percebeu que não vencendo o póquer nada mas tinha a fazer. A sua missão altruísta estava concluída, o branco já não era o dono e senhor de Angola. Exilou-se e dissolveu a FNLA. Jonas Savimbi, jovem, destemido, ambicioso e obcecado pelo poder (experimentara o gosto do poder, pelo menos, por um ano como Presidente da República Democrática de Angola que proclamara simultaneamente com Neto em Luanda), controlava o centro sul de Angola embora não fosse reconhecido internacionalmente.
Para os seus apaniguados que dos mabululus, quimbos e arredores saíram para viverem nas luxuosas vivendas coloniais das cidades do Huambo, Kuito, Benguela, Lobito e Lubango, não foi difícil para o Savimbi os convencer a seguir a luta de resistência porque o Neto, o MPLA e os Cubanos os matariam assim que entrassem pelas cidades. Estava dado o motim, para um novo ciclo de guerra em nome de uma nova liberdade contra a ocupação russa-cubana como se a UNITA e FNLA não tivessem também tido apoio dos sul-africanos, zairenses entre outros.
Entramos num longo período sangrento em que o povo passou a clamar pelo fim da guerra. Afinal quem passou a morrer era o povo, o filho do povo, os mais instruídos das zonas urbanas morriam menos e, os menos instruídos, sobretudo, rusgados no interior morriam mais. Do lado da UNITA a mesmíssima coisa. Anos após anos, geração após gerações, foram emergindo novas culturais sociais. Um êxodo populacional. De um lado, o povo das cidades e do outro, o povo do interior. Duas barreiras se interpunham. A UNITA passou a ser o Robin dos Bosques para os angolanos que desconheciam a mão do governo. O Governo passou a ser o buda gordo e rico que tinha de alimentar e sustentar todos os governados por si. A guerra consumia todas as forças de uma jovem Nação.
Quanto maior era a centralização do Estado pela extensão de todo o território nacional menor era a sua eficácia. As redes viárias estavam cada vez mais difíceis. A UNITA viria a crescer ao se afirmar como elemento chave na geopolítica e geoestratégia em Angola. Falo da guerra fria. Essa posição da UNITA veio fragilizar ainda mais a governabilidade do país, independentemente do tipo de regime, natureza e organização de Estado adoptada após independência. A Igreja era a única fé de quem perdera a crença na independência.
A UNITA explora até o limite a vantagem de “elemento chave” e passa a acreditar, novamente na conquista do poder pela via militar, pelas eleições imediatas ou no impossível pela imposição de uma partilha de poder até a realização de novas eleições. Como justificar os anos de guerra? Novo bluff no novo póquer nacional: lutamos pela democracia e libertação de Angola da ocupação de forças estrangeiras; cubanos, soviéticos, vietnamitas, búlgaros, etc. Três gerações haviam passados desde a data da independência. Um terreno fértil para todo o tipo de contra informações. O MPLA ficara com o passivo de totalitário e a UNITA do destruidor do País.
Renasce a esperança para todos os angolanos que clamavam pela mudança de um Estado de Guerra para um Estado de Paz com a assinatura dos acordos de Bicesse em 1991. Como em 1975, Savimbi é acolhido em Luanda como o libertador. Voltara a recuperar o seu Ego, rapidamente inicia a reocupação dos prédios que ocupara em 1975. Orgulhosamente afirma: ”desta vez eu não perdi a guerra, um exército convencional que não vence uma guerrilha é quem perde a guerra. Agora vou ao Huambo lá onde eu deixei tudo em 1975”. O Huambo era para Jonas Savimbi a sua Jóia da coroa.
O mundo mudou. A guerra fria acabou. O MPLA rapidamente liberaliza a economia, a política, o associativismo, tudo de tal maneira que os menos patriotas, intelectualmente mais capazes e os mais “vijotas” adquirem empresas, terras, patrimónios, bancos ao preço de banana. Surge uma camada desmesuradamente rica que tornar-se-iam multimilionários com o eclodir de um novo ciclo de guerra.
A UNITA, como em 1975, rejeita o resultado do vencedor. Embora em 1975 não ocorressem eleições, em 1992 a UNITA fez uma campanha arrogante, não soube respeitar as instituições do Estado. Angola aparecia novamente com vários exércitos, não se sabia quem era o Estado. A UNITA colocara barricadas lá onde houvesse agrupamentos seus, no interior do país os administradores perdiam a autoridade, nas províncias existiam autoridades paralelas, todos estes factores permitiu que o MPLA usasse habilmente o poder popular, os médias de informação e alguma manipulação de votos para impedir a todo custo que Angola caísse nas mãos de Jonas Savimbi. Felizmente para o MPLA, a arrogância de Savimbi reacendeu o medo e o povo maioritariamente concentrado nos centros urbanos votou esmagadoramente contra a UNITA.
Mais 10 anos passaram de destruição, mortes e lutos entre as famílias angolanas, numa época em que a aposta na paz era generalizada. Vários factores contribuíram para este sentimento, quer interna como externamente. Entramos num mundo cada vez mais globalizado. Com um mercado de capitais cada vez mais internacionalizado. A guerra passa a ser outra: económica e financeira. E não mais extorsão de riquezas dos povos. A UNITA continua imparável na sua luta pela conquista do poder em nome da democracia e da mudança de regime. Enquanto nos centros urbanos emergem novas classes sociais. Novos empresários, os novos fornecedores de serviços ao Estado. Um Estado novamente fragilizado com o esforço da guerra.
Globalmente os maiores empresários são-nos também os quadros governantes em funções executivas. Com os dez anos de guerra simplesmente estes empresários/governantes são hoje os proprietários das maiores fortunas no país. E por militância são membros do MPLA. E são também os vencedores da guerra. Uma guerra que só o Savimbi apostou. Tanto que ao longo da última década foi perdendo à favor do MPLA os seus melhores generais e quadros políticos. Muito por culpa deste facínora, alguns oportunistas do MPLA ganham milhões de dólares porque negociavam com ambos. O Samakuva chegou a vender diamantes a membros do MPLA enquanto negociador de Paz.
Por isso e para terminar, as mudanças que os angolanos clamam é indubitavelmente falaciosa na voz dos políticos e dos aspirantes a políticos angolanos. O povo quer paz, liberdade de pensamento e de culto religioso, quer o comboio a circular, que haja chuva, pão, mandioca, possa cultivar a lavra e vender os seus produtos, melhor escolas, hospitais e o resto é conversa para boi dormir. Que importa a um povo, a mudança tanto clamada pelos políticos se tiver comida, trabalho, saúde e família? Nada! Seja o Presidente Eduardo dos Santos a governar 20 ou 30 ou 50 anos ou outro qualquer é a mesmo coisa. Basta olharmos em Portugal que tem um regime democrático para vermos que existem presidentes de Câmaras com mais de 26 anos no poder, isto, para não falarmos no João Jardim da Madeira.
Mudar por mudar não resolve os nossos problemas. Temos isso sim, de corrigir certas práticas e melhorar os mecanismos de fiscalização do Estado e moralizar o perfil do servidor público. Neste momento em Angola não há uma cultura de quadros e inteligências profissionalmente fortes e economicamente sólidos que não sejam membros do MPLA. Temos de mudar é a cultura dos quadros e educar os funcionários públicos com a aplicação da justiça e das leis já criadas, doa a quem doer. A UNITA é um partido útil para o fomento da cultura democrática tem é de provar que é de facto um partido responsável com ambição de poder alternativo ao MPLA sem bluffs mas com sentido de Estado.
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