Luanda - O ex-primeiro ministro angolano, Marcolino Moco, defende “respeito pelos princípios democráticos”. Em entrevista à DW África afasta ainda a possibilidade de se candidatar às presidenciais.
Fonte: DW Club.k-net
DW África: Recentemente publicou um ensaio intitulado “Angola - a terceira alternativa” no qual apresenta propostas para a construção de sociedade aberta. Em que consiste exatamente essa “terceira alternativa” ?
Marcolino Moco: Bem, eu chamo primeira alternativa às práticas do regime atual na sua arrogância, no seu descaramento em relação ao desvio dos bens públicos para utilização pessoal, na sua ideia de secar toda e qualquer opinião, na sua ideia de centralizar tudo em Luanda. A segunda alternativa é algo que já se começa esboçar e pode vir a desembocar numa revolução porque as pessoas, decorridos dez anos sobre o fim da guerra, começam a reagir contra este tipo de situação. E por fim a terceira alternativa que é um conjunto de propostas que eu apresento centrado no diálogo e no conceito de que governar é servir e não é servir-se. Exemplo mais flagrante é o da espoliação que deve parar. As pessoas, a família do presidente que têm as coisas que fiquem com elas. Mas que parem de uma vez com isso e que comecem a investir o dinheiro que arrecadaram no país e que comecem a submeter-se às regras. Assim começaríamos a construir um país de democracia aberta adaptado ao continente africano.
DW: Diz que as eleições do tipo ocidental não resolvem questões de fundo e que tem sido a mãe de muitas tragédias, particularmente em África. Quer explicar melhor esse ponto de vista no que concerne ao seu país?
MM: Está a vista de todos que as pressões que o Ocidente faz para a realização de eleições que nunca resolveram os problemas e nunca resultaram em grandes coisas, temos exemplos do Gabão e do Quénia. Enquanto antes das eleições não se resolvem os problemas fundamentais, as eleições não servem para nada. Eu costumo usar a seguinte parábola: quando você usa perfume no corpo sem primeiro tomar banho, o resultado é um cheiro nauseabundo, e por vezes é o que se faz aqui em África. Nas próximas eleições angolanas ou vai haver a rejeição dos resultados, ou então o regime vai se reforçar ainda mais. E a fraude já começou, porque o único candidato que domina todos os meios de comunicação públicos é José Eduardo dos Santos, e os meios privados que chegam ao interior do país são dos filhos dele e dos seus próximos e a falta de transparência na utilização dos bens económicos e financeiros é muito descarada.
DW África: Fala-se de uma aproximação do presidente José Eduardo dos Santos a outras figuras e partidos em Angola como interpreta esta aproximação?
MM: Esta aproximação enquadra-se naquilo que eu chamo a solução de primeira alternativa, que é dividir para reinar. Neste momento é claro que com as manifestações dos jovens e com a proximidade de eleições José Eduardo dos Santos está a fazer todos os jogos para dizer que zela pelo diálogo. Mas é um diálogo ínvio porque assenta não no interesse do país mas nos seus próprios interesses.
DW África: Vai candidatar-se às presidenciais?
MM: Não, como seria possível? O Presidente mudou as coisas de tal modo que só os partidos têm essa possibilidade ou então as coligações. Eu prefiro continuar como estou a fazer uma intervenção cívica política.
DW África: E nem como vice-presidente? Ou seu nome não foi apontado?
MM: Onde? Nem pensar. Eu não estou na direção do partido pelo que não posso ser apontado, nem aceitaria enquanto aqueles pontos que coloquei no meu ensaio não forem publicamente esclarecidos. Qualquer contato comigo só poderá ser feito na base desses dez pontos porque
Angola tem de começar a respeitar os direitos fundamentais das pessoas.
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