Brasil - Reza a lenda, na mitologia grega, que Esfinge, uma criatura mitológica das civilizações do Egipto e da Mesopotâmia tendo invadido a cidade de Tebas e destruído todas as plantações dirigiu-se ostensivamente aos seus habitantes que não conseguissem decifrar o seu enigma dizendo: decifra-me ou te devoro! O insólito episódio que reconduziu recentemente Suzana Inglês ao topo do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) flagrantemente ao arrepio da Lei e, mais grave ainda, caucionado pelo Conselho Superior de Magistratura (CSM) coloca-nos diante de um desafio semelhante ao enfrentado pelos cidadãos de Tebas: ou deciframos o enigma Suzana Inglês ou arriscamo-nos a ser devorados. Obviamente elegemos decifrar o enigma. Porque razão só Suzana Inglês pode ser Presidente do CNE, mesmo que para o efeito seja necessário atropelar a Lei?
Fonte: Club-k.net
É simples: porque o Camarada José Eduardo dos Santos quer a Camarada Suzana Inglês. E porque razão o Camarada José Eduardo dos Santos quer tanto a Camarada Suzana à frente da CNE? Porque à semelhança do que ocorreu com a Constituição atípica (a expressão é do próprio Camarada Presidente), faz parte da estratégia do Camarada Presidente de se reeleger e estender por mais uns anos o seu já longevo consulado autoritário. Esta estratégia não se coaduna com uma Comissão Eleitoral Independente equivocadamente consagrada pelo art. 107º da Constituição e, portanto, a fórmula encontrada para esvaziar o caráter independente do CNE é, justamente, manter no seu topo a Camarada Suzana Inglês. Assim, há que recorrer à já esvaziada independência do judiciário para satisfazer os caprichos do ditador e, sem argumentos para justificar legalmente a medida o Senhor doutor Juiz veio nos dizer que afinal, a camarada Suzana nunca deixou de ser magistrada mesmo se durante todos estes anos se dedicou à advocacia. O erro foi do pobre Lázaro Dias que, coitado, já nem sequer se pode defender, pois, já não faz parte do mundo dos vivos.
Que cobardia Senhor Juiz! Mas, o Senhor doutor Juiz vai mais longe, toma-nos a todos como um bando de macacos imbecis e sai-se com a estapafúrdia desculpa de que ser da OMA não significa necessariamente ser do MPLA. Por amor de Deus, Senhor doutor Juiz, para satisfazer os caprichos do ditador precisa ainda de nos ofender a todos? Cada um de nós está munido do seu equipamento cognitivo, Senhor doutor, não somos nenhum bando de macacos imbecis, somos cidadãos e o mínimo que pudemos exigir dos poderes públicos é que sejamos respeitados.
O facto insofismável é que a Camarada Suzana jamais aceitaria ver o camarada José Eduardo dos Santos derrotado nas urnas, porque, a semelhança do bom do Gonçalves Muandumba e muitos outros até o oxigênio que respira se deve à clarividência do Camarada Presidente. Por isso a Camarada Suzana jamais vai aceitar a auditoria independente do FICRE por mais denúncias de irregularidades que forem levantadas; a camarada Suzana vai permitir que, sem concurso público, a SINFIC se constitua no suporte técnico do CNE e comande toda a logística tecnológica; vai terceirizar a logística eleitoral a favor de empresas cujos donos estão geralmente ligados ao círculo restrito do Camarada Presidente, seus familiares ou membros da sua Casa Militar; a camarada Suzana vai protelar a publicação dos cadernos eleitorais o máximo que puder; vai permitir que se confunda educação cívica dos eleitores com campanha eleitoral a favor do MPLA; vai retardar e complicar a formação dos agentes eleitorais; vai retardar e complicar o credenciamento dos fiscais e dos observadores nacionais e mesmo estrangeiros; vai fazer para que no dia da votação o caos tome conta da organização, o escrutínio ocorra no meio de irregularidades e em meio ao caos seja depois fácil anunciar aos quatro ventos que o camarada José Eduardo dos Santos ganhou as eleições com 99,99% dos votos!
E depois disso?
Depois disso vai ser muito fácil arregimentar Afonso Quintas, Mama Kuiba, Nagrelha e similares para, nas ondas hertzianas da RNA entoarem o coro ensaiado de que os resultados correspondem ao desejo do povo; na telinha da TPA assistiremos à doutora Conceição Pimenta diagnosticar transtornos de personalidade em observadores que ousarem denunciar irregularidades enquanto o Professor João Pinto com seus calhamaços sob o braço não se cansará de citar ironicamente Norberto Bobbio para justificar os resultados saltando propositadamente o trecho deste autor que diz “em democracia todo o resultado eleitoral acima dos 70% deve em princípio ser suspeito”. Nas páginas do Jornal de Luana Chiara José Ribeiro Artur Queirós surgirão em letras garrafais exaltações à figura do Camarada Presidente elevando-o definitivamente à condição de Deus passando a chamar-se José Eduardo dos Santos DEUS, de cujos caprichos ficaremos todos reféns como se não bastassem os 33 anos do seu longevo consulado autoritário. Valha-nos Deus!
Ainda há quem acha desprovido de sentido o grito estridente da oposição de fraude antecipada? Então que a situação faça um esforço para convencer a oposição do contrário. É que, desta vez nem toda a gente aceitará de ânimo leve tamanha ofensa moral à dignidade de um povo e muitos de nós tomaremos de assalto as ruas para pacificamente, sem armas brancas, pretas ou de outra cor que seja erguer a nossa voz contra o autoritarismo e pela Liberdade.
A resposta ao nosso protesto, já sabemos, virá sob a forma de violência policial e muitos de nós seremos arrastados para as cadeias e presentes depois a um juiz municipal e como prova a polícia apresentará 13 pedrinhas, prova forte o suficiente para merecermos pesadas condenações. E terá razão o juiz municipal em nos condenar. Afinal, se os Conselheiros do Tribunal Supremo que compõem o Conselho Superior de Magistratura alienaram sua independência cedendo aos desígnios do ditador caprichoso porque razão o pobre do juiz Damião haveria de dar uma de independente?
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