No Festival do Rio 2012, nove títulos disputarão o
troféu da Première Brasil de melhor documentário nacional, em formato
longa-metragem. Entre os competidores estão Dossiê Jango, de Paulo
Henrique Fontenelle, O Dia Que Durou 21 Anos, de Camilo Tavares, Rio
Anos 70, de Maurício Branco e Patrícia Faloppa, entre outros.
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O Dia que Durou 21 anos traz revelações históricas
de telegramas confidenciais da Casa Branca, da CIA e do Exército dos EUA. Com
extenso material de arquivo e Áudios originais da Casa Branca, o filme mostra
claramente como a conspiração contra João Goulart teve início em 1962.
O filme documentário trata da contradição entre os
valores de justiça, igualdade e liberdade política, tal como defendidos pelo
Estados Unidos. Com foco no golpe militar do Brasil que em 1964 derrubou o
presidente João Goulart democraticamente eleito pelo voto popular.
O personagem principal do filme é Lincoln Gordon,
embaixador dos Estados Unidos no Brasil, esteve no centro das operações
norte-americanas que apoiaram o golpe de Estado de 1964, desde a coordenação
das conexões entre Vernon Walters e os conspiradores militares, até o lobby por
uma força-tarefa naval dos Estados Unidos que interviria no caso da explosão de
uma guerra civil entre forças pró e anti-Goulart.
Apesar disso, naquele momento, e nos anos
seguintes, Gordon insistiu em que o golpe de Estado tinha sido “100%
brasileiro”. Através de documentos do Departamento de Estado norte-americano,
discursos de Gordon, testemunhos orais, e de uma entrevista em 2005 com o
embaixador, este artigo analisa as diversas justificativas que Gordon ofereceu
ao longo dos últimos quarenta anos para explicar por que apoiou a derrubada de
Goulart e concedeu suporte incondicional ao novo regime militar.
Brasil, anticomunismo e a guerra fria
Para compreender a relação de Gordon com o Brasil
durante o período em que foi embaixador, é preciso enquadrá-la no contexto da
Guerra Fria. Conforme entrevista concedida por Thomas E. Skidmore: “Lincoln
Gordon era realmente um produto da Guerra Fria, e sua missão era, como ele
mesmo afirmou, garantir que o Brasil não se tornasse comunista”.
Assim como muitos de seus pares, Gordon via o mundo
em branco e preto: se um país não estava alinhado com os Estados Unidos, era
aliado da União Soviética. Consequentemente, as preocupações demonstradas por
Gordon em relação ao clima político brasileiro, enquanto esteve à frente da embaixada,
refletem esses valores. Por exemplo, Gordon refere-se ao golpe que usurpou o
mandato legal de Goulart como “Revolução”, utilizando a mesma terminologia dos
militares. Os conspiradores são chamados de democráticos, apesar de seus
propósitos extralegais.
Infelizmente, Gordon não reavaliou sua visão míope
do golpe ao longo da sua carreira. Desde 11 de setembro de 2001, Gordon teve
sua posição reforçada pela retórica antiterrorista prevalecente no governo Bush
e pela perigosa tendência de transferir para a política a lógica
simplista do amigo-inimigo. Nem sempre quem não está com você, está com os
“inimigos”, ou vice-versa.
Numa correspondência enviada ao secretário de
Estado Dean Rusk, no dia 12 de agosto de 1963, Gordon explicita seu medo de um
iminente golpe do presidente Goulart que, de acordo com a sua percepção, seria
sucedido pela tomada do poder pelos comunistas. Gordon: Parece-me cada vez mais
claro que o objetivo de Goulart é perpetuar-se no poder através de uma
repetição do golpe de Vargas em 1937, instaurando um regime semelhante ao
peronismo, com seu extremo nacionalismo antiamericano.
Para reforçar sua tese, Gordon enviou a Wasdhigton
um relato enviesado da situação política brasileira. Ele alegou que Goulart
tinha se engajado em “uma guerra aberta ou secreta contra (o Congresso, as
Forças Armadas, a imprensa, governadores poderosos, e conselheiros moderados, e
os Estados Unidos)”.
Gordon criou a imagem comunista de Goulart usando
como argumento as Reformas de Base em especial questão da reforma agrária,
comparando Brasil com Cuba o que provocava arrepios em Washington e era
anunciado com verdade nos jornais e rádios do Brasil.
No dia 1 de Abril de 1964 João Goulart é derrubado
por um movimento militar que não encontrou resistência e por um conresso
nacional que em menos de 24 horas legitimou sua saída do poder mesmo ele
estando ainda no Brasil. NO dia 10 de Abril o general Castello Branco assumiu
cassando mandatos políticos, realizando prisões a todos aqueles considerados
comunistas e subversivos. Castello cancelaria no mesmo ano as eleições
presidenciais de 1964 mantendo a hegemonia militar no poder. Após Castello,
assumiu o general Costa e Silva que com o AI-5 deixou bem claro qual eram as
regras da Ditadura , num regme de opressão que continuou com os generais
Médici, Geisel e Figueiredo na presidência do Brasil.
No final de 1969,o sequestro do embaixador
americano Charles Elbrick, no qual o jornalista Flávio Tavares foi um dos
presos políticos libertados, denunciou a ditadura brasileira para a mídia
internacional que teve acesso as torturas. Esta denuncia levou membros da
oposição brasileira e forças da Igreja progressista, acadêmicos e ativistas
norte-americanos, e também com alguns brasileiros residentes nos Estados
Unidos, para denunciar a tortura no Brasil.Em uma das primeiras campanhas
publicou uma série de artigos em diversos jornais progressistas e liberais,
documentando a expansão do uso da violência física contra os oponentes do
regime.
Imagem: Discurso do presidente João
Goulart no comício da Central do Brasil de 13 de março de 1964
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