sábado, 29 de setembro de 2012

“O Dia que Durou 21 anos” resgata a participação dos Estados Unidos na Ditadura Militar no Brasil


No Festival do Rio 2012, nove títulos disputarão o troféu da Première Brasil de melhor documentário nacional, em formato longa-metragem. Entre os competidores estão Dossiê Jango, de Paulo Henrique Fontenelle, O Dia Que Durou 21 Anos, de Camilo Tavares, Rio Anos 70, de Maurício Branco e Patrícia Faloppa, entre outros.

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O Dia que Durou 21 anos traz revelações históricas de telegramas confidenciais da Casa Branca, da CIA e do Exército dos EUA. Com extenso material de arquivo e Áudios originais da Casa Branca, o filme mostra claramente como a conspiração contra João Goulart teve início em 1962.
O filme documentário trata da contradição entre os valores de justiça, igualdade e liberdade política, tal como defendidos pelo Estados Unidos. Com foco no golpe militar do Brasil que em 1964 derrubou o presidente João Goulart democraticamente eleito pelo voto popular.
O personagem principal do filme é Lincoln Gordon, embaixador dos Estados Unidos no Brasil, esteve no centro das operações norte-americanas que apoiaram o golpe de Estado de 1964, desde a coordenação das conexões entre Vernon Walters e os conspiradores militares, até o lobby por uma força-tarefa naval dos Estados Unidos que interviria no caso da explosão de uma guerra civil entre forças pró e anti-Goulart.
Apesar disso, naquele momento, e nos anos seguintes, Gordon insistiu em que o golpe de Estado tinha sido “100% brasileiro”. Através de documentos do Departamento de Estado norte-americano, discursos de Gordon, testemunhos orais, e de uma entrevista em 2005 com o embaixador, este artigo analisa as diversas justificativas que Gordon ofereceu ao longo dos últimos quarenta anos para explicar por que apoiou a derrubada de Goulart e concedeu suporte incondicional ao novo regime militar.
Brasil, anticomunismo e a guerra fria
Para compreender a relação de Gordon com o Brasil durante o período em que foi embaixador, é preciso enquadrá-la no contexto da Guerra Fria. Conforme entrevista concedida por Thomas E. Skidmore: “Lincoln Gordon era realmente um produto da Guerra Fria, e sua missão era, como ele mesmo afirmou, garantir que o Brasil não se tornasse comunista”.
Assim como muitos de seus pares, Gordon via o mundo em branco e preto: se um país não estava alinhado com os Estados Unidos, era aliado da União Soviética. Consequentemente, as preocupações demonstradas por Gordon em relação ao clima político brasileiro, enquanto esteve à frente da embaixada, refletem esses valores. Por exemplo, Gordon refere-se ao golpe que usurpou o mandato legal de Goulart como “Revolução”, utilizando a mesma terminologia dos militares. Os conspiradores são chamados de democráticos, apesar de seus propósitos extralegais.
Infelizmente, Gordon não reavaliou sua visão míope do golpe ao longo da sua carreira. Desde 11 de setembro de 2001, Gordon teve sua posição reforçada pela retórica antiterrorista prevalecente no governo Bush e  pela perigosa tendência de transferir para a política a lógica simplista do amigo-inimigo. Nem sempre quem não está com você, está com os “inimigos”, ou vice-versa.
Numa correspondência enviada ao secretário de Estado Dean Rusk, no dia 12 de agosto de 1963, Gordon explicita seu medo de um iminente golpe do presidente Goulart que, de acordo com a sua percepção, seria sucedido pela tomada do poder pelos comunistas. Gordon: Parece-me cada vez mais claro que o objetivo de Goulart é perpetuar-se no poder através de uma repetição do golpe de Vargas em 1937, instaurando um regime semelhante ao peronismo, com seu extremo nacionalismo antiamericano.
Para reforçar sua tese, Gordon enviou a Wasdhigton um relato enviesado da situação política brasileira. Ele alegou que Goulart tinha se engajado em “uma guerra aberta ou secreta contra (o Congresso, as Forças Armadas, a imprensa, governadores poderosos, e conselheiros moderados, e os Estados Unidos)”.
Gordon criou a imagem comunista de Goulart usando como argumento as Reformas de Base em especial questão da reforma agrária, comparando Brasil com Cuba o que provocava arrepios em Washington e era anunciado com verdade nos jornais e rádios do Brasil.
No dia 1 de Abril de 1964 João Goulart é derrubado por um movimento militar que não encontrou resistência e por um conresso nacional que em menos de 24 horas legitimou sua saída do poder mesmo ele estando ainda no Brasil. NO dia 10 de Abril o general Castello Branco assumiu cassando mandatos políticos, realizando prisões a todos aqueles considerados comunistas e subversivos. Castello cancelaria no mesmo ano as eleições presidenciais de 1964 mantendo a hegemonia militar no poder. Após Castello, assumiu o general Costa e Silva que com o AI-5 deixou bem claro qual eram as regras da Ditadura , num regme de opressão que continuou com os generais Médici, Geisel e Figueiredo na presidência do Brasil.
No final de 1969,o sequestro do embaixador americano Charles Elbrick, no qual o jornalista Flávio Tavares foi um dos presos políticos libertados, denunciou a ditadura brasileira para a mídia internacional que teve acesso as torturas. Esta denuncia levou membros da oposição brasileira e forças da Igreja progressista, acadêmicos e ativistas norte-americanos, e também com alguns brasileiros residentes nos Estados Unidos, para denunciar a tortura no Brasil.Em uma das primeiras campanhas publicou uma série de artigos em diversos jornais progressistas e liberais, documentando a expansão do uso da violência física contra os oponentes do regime.
Imagem: Discurso do presidente João Goulart no comício da Central do Brasil de 13 de março de 1964

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