Rafael Marques
de Morais
MAKAANGOLA.ORG
Os estadistas mais antigos da região:
Dos Santos (35 anos), Rei Mswati III (28) e Robert Mugabe (34).
Em primeiro lugar, gostaria de partilhar
convosco a minha história com Carlos Cardoso, o grande amigo que nunca tive
oportunidade de conhecer pessoalmente.
Em 1999, quando fui preso em Angola por chamar o presidente Dos Santos de ditador e corrupto, Carlos Cardoso foi um elemento essencial na mobilização de advogados, jornalistas e moçambicanos interessados em prestar-me o seu apoio.
Depois de eu ter sido libertado, iniciámos uma correspondência regular de e-mails que foi muito para além das minhas batalhas legais, da minha condenação, perseguição política e interdição de viajar. Estendemos a conversação ao propósito de nos aliarmos com o objectivo de expor as hordas de corrupção nos nossos países. Acreditávamos em conquistar o espaço público para que nele a liberdade de expressão e de imprensa pudessem assentar raízes.
Tornámos nossa e pessoal, essa luta pelo espaço público. Enquanto o Carlos desbravava terreno trabalhando a tempo inteiro como jornalista, eu dirigia uma organização internacional que, entre outras coisas, prestava suporte aos órgãos de comunicação independentes que então começavam a emergir. Continuei a escrever com vista a catalisar a opinião pública.
Prometi ao Carlos que, assim que me fosse permitido viajar, Moçambique seria a minha primeira paragem, para finalmente poder conhecê-lo, agradecer-lhe pessoalmente e elevar a nossa “conspiração” a um outro patamar.
Mantive a minha promessa, mas já só cheguei a tempo de dar as minhas condolências à viúva. Tinha-me sido finalmente permitido viajar dois meses após o Carlos ter sido brutalmente assassinado, em Novembro de 2000.
Apesar de ter recebido muitos apoios a nível internacional, a solidariedade do Carlos foi a mais inspiradora para mim. Era um profissional cujo trabalho – denunciar a corrupção e outros podres dos líderes moçambicanos, bem como dos seus homólogos da indústria e do mundo dos negócios – colocou a sua vida em risco. No entanto, ele foi meu companheiro de luta. Travávamos a mesma guerra e ele protegia-me. Eu não consegui protegê-lo. Hoje, no entanto, o meu trabalho enquanto jornalista de investigação está todo ele impregnado do seu legado, assim como do legado do meu compatriota Ricardo Melo, cuja vida foi também ceifada demasiado cedo enquanto, em 1995, investigava a corrupção e outros crimes dos dirigentes angolanos.
Estou aqui hoje para falar de liberdade de expressão enquanto luta, em países onde a cúpula dirigente e outros poderosos têm vindo a operar acima da lei; para quem a lei é um instrumento de poder privado. São estes os poderosos que prosperam mediante a sua capacidade de manutenção do medo.
Estou aqui hoje para falar sobre a coragem, a liderança e a solidariedade imprescindíveis a quem queira derrubar as muralhas do medo, e com elas os seus perpetradores.
Em 1999, quando fui preso em Angola por chamar o presidente Dos Santos de ditador e corrupto, Carlos Cardoso foi um elemento essencial na mobilização de advogados, jornalistas e moçambicanos interessados em prestar-me o seu apoio.
Depois de eu ter sido libertado, iniciámos uma correspondência regular de e-mails que foi muito para além das minhas batalhas legais, da minha condenação, perseguição política e interdição de viajar. Estendemos a conversação ao propósito de nos aliarmos com o objectivo de expor as hordas de corrupção nos nossos países. Acreditávamos em conquistar o espaço público para que nele a liberdade de expressão e de imprensa pudessem assentar raízes.
Tornámos nossa e pessoal, essa luta pelo espaço público. Enquanto o Carlos desbravava terreno trabalhando a tempo inteiro como jornalista, eu dirigia uma organização internacional que, entre outras coisas, prestava suporte aos órgãos de comunicação independentes que então começavam a emergir. Continuei a escrever com vista a catalisar a opinião pública.
Prometi ao Carlos que, assim que me fosse permitido viajar, Moçambique seria a minha primeira paragem, para finalmente poder conhecê-lo, agradecer-lhe pessoalmente e elevar a nossa “conspiração” a um outro patamar.
Mantive a minha promessa, mas já só cheguei a tempo de dar as minhas condolências à viúva. Tinha-me sido finalmente permitido viajar dois meses após o Carlos ter sido brutalmente assassinado, em Novembro de 2000.
Apesar de ter recebido muitos apoios a nível internacional, a solidariedade do Carlos foi a mais inspiradora para mim. Era um profissional cujo trabalho – denunciar a corrupção e outros podres dos líderes moçambicanos, bem como dos seus homólogos da indústria e do mundo dos negócios – colocou a sua vida em risco. No entanto, ele foi meu companheiro de luta. Travávamos a mesma guerra e ele protegia-me. Eu não consegui protegê-lo. Hoje, no entanto, o meu trabalho enquanto jornalista de investigação está todo ele impregnado do seu legado, assim como do legado do meu compatriota Ricardo Melo, cuja vida foi também ceifada demasiado cedo enquanto, em 1995, investigava a corrupção e outros crimes dos dirigentes angolanos.
Estou aqui hoje para falar de liberdade de expressão enquanto luta, em países onde a cúpula dirigente e outros poderosos têm vindo a operar acima da lei; para quem a lei é um instrumento de poder privado. São estes os poderosos que prosperam mediante a sua capacidade de manutenção do medo.
Estou aqui hoje para falar sobre a coragem, a liderança e a solidariedade imprescindíveis a quem queira derrubar as muralhas do medo, e com elas os seus perpetradores.
(...)
O texto integral, apresentado na
Universidade de Witwatersrand, na África do Sul em memória do jornalista
moçambicano Carlos Cardoso, encontra-se
disponível aqui.
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