Orlando
Castro
Chefe de Redacção do Jornal Folha 8
Chefe de Redacção do Jornal Folha 8
Se alguém quiser
saber a quem a Rainha Fabíola deixou a herança, ou o que correu mal, no Iémen,
no resgate a Luke Somers, ou como Mário Soares festejou o 90º aniversário, ou
sobre a identificação dos restos mortais de um dos estudantes mexicanos
desaparecidos, pode ler a Imprensa portuguesa.
No entanto, se quiser saber como é que, hoje, foram
violentamente reprimidos os manifestantes que em Luanda protestavam contra a
violência da Polícia… nada encontra nessa mesma imprensa.
De
facto, a comunicação social portuguesa passa ao lado, com toda a legitimidade
inerente ao facto de ser cada vez menos comunicação e cada vez mais comércio ao
serviço dos seus donos, do que realmente se passa em Angola quando os factos
não abonam o regime.
E em
bom português (também este cada vez menos bom) dir-se-á que cada um sabe de si
e que o poder económico (mais do que o político) sabe de todos. Com razão há
quem diga, é o nosso caso, que nas ocidentais praias lusitanas, no que a esta
questão respeita, há todo o poder dos dólares do MPLA, da Sonangol, do clã
Eduardo dos Santos (são tudo sinónimos).
Tal
como por cá, também em Portugal, os jornalistas que tiverem a lata de querer
dar voz a quem a não tem, correm o risco de serem transferidos para o
desemprego. O que conta é o interesse de quem mete dinheiro a rodos na
comunicação social lusa. E esses não estão interessados em que se fale da
verdade.
De
há muito que se assiste ao recrutamento pelo MPLA de mercenários da imprensa em
Portugal para, em Luanda ou em Lisboa, ajudarem a silenciar uns tantos e a
manter no poder os que já lá estão há 39 anos. Quem tiver dúvidas poderá
comparar a bajulação ao regime com a (não) cobertura a todas as actividades que
sejam de sentido contrário.
Dizem-nos
(o que obviamente é mentira) que o MPLA/Governo de Eduardo dos Santos contratou
mercenários da imprensa para, em Portugal, ajudarem a silenciar uns tantos que
teimam em ser livres e que se julgam no direito de criticar a governação de um
país que é paradigma da democracia e que, aliás, foi elogiada pelos diferentes
primeiros-ministros de Portugal, até mesmo e sobretudo por aquele, José
Sócrates, que está detido sob a acusação de corrupção, branqueamento, burla
fiscal etc..
Porque
razão a imprensa portuguesa só consegue descrever o que vem nos manuais do MPLA
e que são distribuídos nas recepções dos hotéis de cinco estrelas de Luanda?
Porque
razão grande parte da imprensa portuguesa veta (é óbvio que por “razões”
legais, funcionais, editoriais, e uns tantos outros ais) os Jornalistas que
querem escrever sobre a outra face do Governo de Luanda?
Porque
razão os portugueses são obrigados a comer as verdades oficiais do Governo de
Luanda sem que, em Portugal, se diga, mostre e prove (o que não é nada difícil)
que a ditadura de Eduardo dos Santos só interessa aos poucos que têm milhões e
não aos milhões que têm pouco ou nada?
O
MPLA domina (por força do dinheiro com que compra quase tudo e quase todos)
grande parte da imprensa portuguesa. Começou por ter nas mãos alguns
mercenários que estão em estratégicos postos de comando e, mais recentemente,
mosquitou a questão comprando mesmo esses meios.
Mercenários
bem pagos (é claro!) e que quando se deslocam a Luanda (à Luanda de Eduardo dos
Santos, Isabel dos Santos, Passos Coelho e Cavaco Silva, que não à do Povo)
ficam nos melhores hotéis, comem do melhor, bebem do melhor e até têm das
melhores companhias que o general Kangamba tem ao seu serviço.
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