Luanda - O jornalista angolano, William Tonet,
foi constituido arguido num processo que lhe foi movido pelos serviços secretos
angolanos por difamação e injúria.
Fonte: DW África
Club-k.net
Jornalista processado pela 98ª vez
Trata-se da 98ª vez que o diretor e
proprietário do jornal Folha 8, desde a criação do semanário, em 1996. O
jornalista é acusado de difamação e injúria pela publicação de matérias
relacionadas com o homicídio de dois activistas contestatários ao regime
angolano. Alves Kamulingue e Isaías Cassule foram assassinados em maio de 2012,
quando tentavam organizar uma manifestação anti-governamental.
William Tonet, foi ouvido na
sexta-feira, 28 de novembro, pelo Departamento Nacional de Investigação
Criminal, num interrogatório que o coloca na condição de arguido. Os Serviços
de Inteligência e Segurança do Estado (SINSE), consideraram-se difamados e
injuriados num artigo do Folha 8. Este tecia comparações entre a atuação dos
serviços secretos e a organização terrorista Estado Islâmico (EI).
Comportamento terrorista
Para o jornal Folha 8 a forma como a EI
tem vindo assassinar alguns jornalistas feitos reféns, é idêntica ao método
utilizado pelo Estado angolano através dos seus serviços secretos no homicídio
de Kamulingue e Cassule. Em conversa com a DW África, William Tonet não
desmente, e explica que também os dois ativistas foram assassinados sem
julgamento e sem oportunidade para falar: “Foram barbaramente assassinados. Os
moldes foram os mesmos”. Mas, acrescenta, a comparação “foi uma figura de
estilo”.
O silêncio das autoridades perante as
graves violações dos direitos humanos, é outra questão levantada pelo
jornalista e director do Folha 8. Para William Tonet, quem devia estar sentado
no banco dos réus é o Estado angolano, pois Tonet diz que nunca os serviços
secretos nunca se “distanciaram” dos actos em que é citada a sua participação.
E que incluem, para além do caso de Cassule e Kamulingue, a tortura recente de
que foi vítima a jovem Laurinda Gouveia e outros integrantes do Movimento
Revolucionário.
O crime compensa
Questionado sobre as verdadeiras
intenções dos serviços de inteligência e segurança do Estado em mover um
processo contra si e o seu jornal, William Tonet diz não fazer a mínima ideia.
Mas adianta que este é um reflexo do regime do Presidente José Eduardo dos
Santos promover actos criminosos: "Em Angola premeia-se a incompetência.
Em Angola premeiam-se os delitos. Já viu alguém que rouba ser efetivamente
indiciado? Pelo contrário. Ainda lhe perguntam porque é que roubou pouco, devia
ter roubado mais".
Sobre o assunto a DW África tentou sem
sucesso obter uma reação do SINSE, os serviços de inteligência e segurança do
Estado angolano. Aquela instituição não dispõe de nenhum terminal para que os
jornalistas possam entrar em contato com ela, e é quase impossível obter o
contato particular dos seus responsáveis.
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