E aos poucos tudo se desvenda. Como naqueles filmes em que os heróis fazem parte de uma quadrilha imobiliária. Millennium Bcp, Teixeira Duarte SA e Planad são os actores. Em Angola e Portugal é muito fácil roubar dinheiro. E nós, Millennium Bcp unidos roubaremos.
Noto que Heitor está preocupado, abordo-o:
- O que é que se passa? Estás doente?!
- Não... um muro que erguemos desabou com a chuva. O terreno afundou e daí a origem… a que o muro desabasse.
- Não fizeste estudos sobre a consistência do terreno? Por exemplo se a água se acumula…
- Estudos de geologia?! Nem vale a pena pensar, o serviço ficaria caríssimo.
Com o passar do tempo novos trabalhadores são admitidos. Estes passam a tratar Heitor como, o senhor engenheiro de construção civil. Heitor parece gostar muito da promoção. A publicidade espalha-se. Até que finalmente recebe o título de engenheiro. Quando alguém pretende um serviço tem que primeiro falar com o senhor engenheiro.
Infelizmente o seu caso não é o único nesta situação. Vários outros idênticos surgem. Aventureiros da pior espécie enriquecem facilmente à custa de vigarices, e tornam-se depois grandes empresários. Chegam sem um tostão e roubando aqui, roubando ali, enveredam com uma facilidade espantosa pelos caminhos do crime. Até contraem empréstimos que não pagam. Organizam-se em quadrilhas criminosas, que pouco a pouco minam os alicerces do país, conduzindo-o irremediavelmente para o neocolonialismo.
Angola não tem contabilistas e os que existem não se lhes dá valor. Os novos empresários constituem várias empresas. Quando fecham as contas, intencionalmente apresentam prejuízo ou um pequeno lucro. Para isso emitem documentos em nome das outras empresas que constituíram, para a fuga ao fisco. Com isto torna-se evidente que o enriquecimento rápido é um facto. Com este dinheiro ganho ilicitamente, corrompem-se os funcionários que intervêm no circuito empresarial.
A riqueza aumenta cada vez mais. Os seus tentáculos introduzem-se no interior do regime a alto nível, onde o empresário gato-pingado obtém protecção, sente-se seguro, à-vontade, para prosseguir a sua actividade criminosa. E avança destemido para outras actividades, sempre prestando maus serviços. Na realidade destruindo o país, ou o que dele ainda resta.
Quando os clientes reclamam, basta telefonar para um dos seus amigos da nomenclatura. Como não tem quadros para efectuar a auditoria às suas contas, (nos regimes altamente corruptos a palavra auditoria não existe), são biliões e biliões de dólares que se perdem anualmente. Também ninguém está interessado nisso, porque todas as empresas estão ligadas a membros do poder. Pode-se ressaltar que o país está à deriva.
Um cliente contratou Heitor para cimentar o quintal da sua casa. Serviria para parque de estacionamento, para si e sua família. Pouco tempo depois do mau trabalho efectuado surgem fissuras. Evidencia-se que o trabalho foi feito por um amador. O cliente sentindo-se ludibriado reclama que o trabalho foi mal feito. Exige a reparação dos danos sem dispêndio monetário da sua parte. Heitor tranquiliza-o:
- Já vou mandar alguém tratar disso.
Os dias passam e tudo continua na mesma. O cliente ameaça-lhe que vai levar o assunto a tribunal. Heitor apenas diz muito convicto:
- Faça o que quiser e bem lhe apetecer, cá nos defenderemos.
Findo o diálogo e como que a desculpar-se Heitor diz-me:
- Vai ficar assim como está... quero que ele se foda!
Entretanto, Heitor consegue um bruto contrato. A construção de seis vivendas para duas empresas que servirão para alojamento dos seus administradores e directores, e também para funcionarem como casas de trânsito. Consegue receber um avanço de cinquenta por cento do valor total. Heitor, aflito com tanta massa socorre-se do Director para pesquisar na Internet fotografias de vivendas. Mostra os modelos aos clientes para ganhar tempo. Elder orgulha-se.
- Com este dinheiro vou já importar diversas mercadorias, vendo-as e vou obter um grande lucro sem gastar um tostão.
Intrigo-me com tal atitude e fazendo-me de parvo interrogo-o:
- Elder, e a construção das vivendas?!
- Vamos ganhar o maior espaço de tempo possível. Depois devolvemos os cinquenta por cento… a prestações… e alegando motivos de força maior. Estás a ver como é que se ganha dinheiro por aqui? Isto é Angola!
Gil Gonçalves
Imagem: Foto para aqui enviada por alguém, do terreno nas traseiras do prédio que o Millennium Bcp roubou.
Noto que Heitor está preocupado, abordo-o:
- O que é que se passa? Estás doente?!
- Não... um muro que erguemos desabou com a chuva. O terreno afundou e daí a origem… a que o muro desabasse.
- Não fizeste estudos sobre a consistência do terreno? Por exemplo se a água se acumula…
- Estudos de geologia?! Nem vale a pena pensar, o serviço ficaria caríssimo.
Com o passar do tempo novos trabalhadores são admitidos. Estes passam a tratar Heitor como, o senhor engenheiro de construção civil. Heitor parece gostar muito da promoção. A publicidade espalha-se. Até que finalmente recebe o título de engenheiro. Quando alguém pretende um serviço tem que primeiro falar com o senhor engenheiro.
Infelizmente o seu caso não é o único nesta situação. Vários outros idênticos surgem. Aventureiros da pior espécie enriquecem facilmente à custa de vigarices, e tornam-se depois grandes empresários. Chegam sem um tostão e roubando aqui, roubando ali, enveredam com uma facilidade espantosa pelos caminhos do crime. Até contraem empréstimos que não pagam. Organizam-se em quadrilhas criminosas, que pouco a pouco minam os alicerces do país, conduzindo-o irremediavelmente para o neocolonialismo.
Angola não tem contabilistas e os que existem não se lhes dá valor. Os novos empresários constituem várias empresas. Quando fecham as contas, intencionalmente apresentam prejuízo ou um pequeno lucro. Para isso emitem documentos em nome das outras empresas que constituíram, para a fuga ao fisco. Com isto torna-se evidente que o enriquecimento rápido é um facto. Com este dinheiro ganho ilicitamente, corrompem-se os funcionários que intervêm no circuito empresarial.
A riqueza aumenta cada vez mais. Os seus tentáculos introduzem-se no interior do regime a alto nível, onde o empresário gato-pingado obtém protecção, sente-se seguro, à-vontade, para prosseguir a sua actividade criminosa. E avança destemido para outras actividades, sempre prestando maus serviços. Na realidade destruindo o país, ou o que dele ainda resta.
Quando os clientes reclamam, basta telefonar para um dos seus amigos da nomenclatura. Como não tem quadros para efectuar a auditoria às suas contas, (nos regimes altamente corruptos a palavra auditoria não existe), são biliões e biliões de dólares que se perdem anualmente. Também ninguém está interessado nisso, porque todas as empresas estão ligadas a membros do poder. Pode-se ressaltar que o país está à deriva.
Um cliente contratou Heitor para cimentar o quintal da sua casa. Serviria para parque de estacionamento, para si e sua família. Pouco tempo depois do mau trabalho efectuado surgem fissuras. Evidencia-se que o trabalho foi feito por um amador. O cliente sentindo-se ludibriado reclama que o trabalho foi mal feito. Exige a reparação dos danos sem dispêndio monetário da sua parte. Heitor tranquiliza-o:
- Já vou mandar alguém tratar disso.
Os dias passam e tudo continua na mesma. O cliente ameaça-lhe que vai levar o assunto a tribunal. Heitor apenas diz muito convicto:
- Faça o que quiser e bem lhe apetecer, cá nos defenderemos.
Findo o diálogo e como que a desculpar-se Heitor diz-me:
- Vai ficar assim como está... quero que ele se foda!
Entretanto, Heitor consegue um bruto contrato. A construção de seis vivendas para duas empresas que servirão para alojamento dos seus administradores e directores, e também para funcionarem como casas de trânsito. Consegue receber um avanço de cinquenta por cento do valor total. Heitor, aflito com tanta massa socorre-se do Director para pesquisar na Internet fotografias de vivendas. Mostra os modelos aos clientes para ganhar tempo. Elder orgulha-se.
- Com este dinheiro vou já importar diversas mercadorias, vendo-as e vou obter um grande lucro sem gastar um tostão.
Intrigo-me com tal atitude e fazendo-me de parvo interrogo-o:
- Elder, e a construção das vivendas?!
- Vamos ganhar o maior espaço de tempo possível. Depois devolvemos os cinquenta por cento… a prestações… e alegando motivos de força maior. Estás a ver como é que se ganha dinheiro por aqui? Isto é Angola!
Gil Gonçalves
Imagem: Foto para aqui enviada por alguém, do terreno nas traseiras do prédio que o Millennium Bcp roubou.
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