quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A origem da grande depressão de 2008 (XV). Novela


CAPÍTULO IV
JACINTO

Transmito a Elder que o apartamento na cozinha tem uma infiltração de água proveniente do vizinho de cima, e que nas escadas existe quase um depósito de lixo municipal. Nas traseiras o panorama é também desolador.
- Elder, já falei com o vizinho de cima. Ele disse-me que ia imediatamente parar com isso… mas não estou a ver nada. Parece-me que cada vez está pior.
Elder de repente fica colérico. Gesticula qualquer coisa. Dá um soco violento na secretária que estremece, como numa explosão. Receie que o computador avariasse devido à violência da pancada. Grita fora de si:
- Negros de merda! É impossível viver com eles… alguns constroem e eles destroem! Deviam viver numa pocilga de porcos que é o lugar onde merecem viver! Heitor!!! Heitor!!!!!
- Elder, o vizinho de cima é branco, não é negro.
- Eh!.. Porra... já não me lembrava. O vizinho anterior vendeu-lhe o apartamento… Heitor! Heitor!

Heitor chega meio atrapalhado a sorrir de gozo. Já se habituou a suportar os ataques de cólera do irmão:
- Diz lá Elder.
- Quero que me resolvas o mais rápido possível uma infiltração de água na cozinha do meu apartamento. Se for preciso parte aquilo tudo...mas eles têm que pagar as despesas.
- Ok chefe.
Heitor aproveita, dá meia volta e afasta-se rápido. Satisfeito por se ver livre da tormenta. Hélder volta-se para mim.
- Já podemos mudar para a Cidadela?
- Sim chefe.
- Então amanhã mudamos, trata de tudo o que for necessário. Carro para transportar as coisas, etc.
- Sim chefe.
- Já abriste conta no IP?
- IP?! O que é isso?!
- Seu burro!.. Se já abriste conta no provedor de serviços Internet.
- Ah!.. sim… já abri.

Elder reforça o diálogo anterior, talvez por não encontrar, ou não lhe interessar outro.
- Então amanhã vamos para a Cidadela. Como vês já temos Internet. Estão todas as condições criadas. Vamos facturar em força… a padaria já funciona. Isso quer dizer que temos sempre pão fresco e dinheiro a qualquer hora.

Elder pretendia que a Cidadela fosse o seu estado-maior. Por isso juntou todos os serviços administrativos, incluindo a central rádio de apoio aos serviços de segurança. As instalações eram espaçosas. No rés-do-chão ficava a padaria, e contíguo ficava o armazém de géneros que sustentava as refeições de todo o pessoal, incluindo as nossas. Havia uma escada que dava acesso à parte superior, onde se situava o escritório central.

Experimentei conectar-me à Internet e funcionou. Também existiam telefone e fax. Um gerador instalado no exterior supria as falhas constantes de luz. Porque a energia eléctrica parecia, ou era de fingimento. Seguranças alternavam-se e velavam dia e noite pelas instalações. À noite a iluminação era deficiente porque as lâmpadas eram insuficientes. Nas secretárias usava-se um candeeiro eléctrico. Tinha uma pequena suite que servia para dormir, com casa de banho. Quatro aparelhos de ar condicionado mantinham o ambiente agradável. Elder diz-me que tem uma novidade:
- Já temos boate. Logo à noite dá um bom jogo de futebol. Instalei uma parabólica com ecrã gigante. Assim já te podes divertir acompanhado das tuas mulheres.

Gil Gonçalves

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