sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

A Origem da Grande Depressão de 2008 (XIX). Novela


Banco Millennium Angola, um banco do holocausto.

E a lista continua. João de Matos foi chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Angolanas e tem a empresa Genius, com interesses referenciados nas minas, electricidade e Bellas Shopping Center. José Pedro Morais (ex-ministro das Finanças), Kundi Paihama (ministro da Defesa) e Pedro Neto (Estado-maior da Força Aérea) partilham a Finangest, 'holding' com interesses nos transportes, construção e segurança.
In http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS&id=345994

Elder sabia despertar, cativar a atenção do interlocutor. Sabia fazer pausas intencionais. Quando eu tentava dizer uma palavra, não conseguia porque ele mostrava ser convincente. Assim deixava-o falar:
- Interessa manter as populações na miséria, no desemprego, para que os custos de produção baixem muito, e assim obterem-se grandes lucros. Num país asiático pagam-se noventa e sete dólares por mês, com dez horas de trabalho diário. A exploração do trabalho infantil é um facto. Por exemplo, as empresas de calçado desportivo têm lucros impressionantes com esta exploração. Uma delas ganhou sem impostos 1.123 biliões de dólares em 2003. David Beckham recebe em patrocínio 161 milhões ao longo da sua vida. A diferença de salários é abismal. Vamos supor que os salários seriam quase iguais às economias desenvolvidas. Seria a ruína do sistema financeiro internacional. Porque os custos subiriam e os lucros quase deixariam de existir. Por isso é necessário manter a todo o custo governos fiéis e corruptos, que obrigam as suas populações a ficarem na miséria. Uma dependência eterna. Um grandioso exército de escravos a mendigar qualquer coisa.
- Elder, acho que as ideologias estragam tudo.
- De facto isso é verdade. Wole Soyinka já se referiu a isso, quando afirmou que o maior erro de África foi expulsar os brancos. Mas Ladislau Dowbor exemplifica muito bem como surge a dependência, a manutenção da miséria e da fome permanentes.

«John Perkins faz parte de uma geração de autores que denunciam o funcionamento do sistema neo-liberal, mas que não vêm da esquerda: são pessoas cuja revolta surge justamente do facto de entenderem profundamente como o sistema funciona. E entendem profundamente porque a ele pertencem, ou pertenceram.

Perkins trabalhava na MAINE, uma empresa de intermediação de contratos internacionais, negociadora do financiamento de grandes obras, e executora de infra-estruturas energéticas, com o perfil da ENRON, da BECHTEL e outras semelhantes. Como economista-chefe da empresa, era encarregado de traçar as grandes linhas de investimentos, e de negociar a triangulação entre governos de países do Terceiro Mundo, empreiteiras, e o sistema financeiro norte-americano. A lógica básica é simples: ele era encarregado de inflar artificialmente as perspectivas de crescimento do PIB do país visitado, (como Angola) e de assegurar o financiamento de grandes obras de infra-estruturas pelo Banco Mundial ou outra instituição, com a condição das infra-estruturas serem executadas por grandes firmas americanas. Assim o dinheiro não sai dos Estados Unidos, vai directamente para uma das empresas executoras. (Como a China faz com Angola)

Como o crescimento projectado do Pib era artificialmente inflado, o país fica endividado além da sua capacidade de pagamento. Frente à ameaça da moratória entra então uma segunda rodada de negociações, assegurando o controlo por firmas americanas das reservas de petróleo ou outros recursos.(Como a China fará a seguir em Angola). Em resumo, Perkins era encarregado de organizar, para as grandes empresas americanas, o aprisionamento dos países na armadilha da dívida, na chamada “debt trap”. In Armadilha da dívida. Ladislau Dowbor

…O caso da Arábia Saudita é exemplar: “Eu simplesmente punha a minha imaginação para funcionar e escrevia relatórios que apresentavam uma visão de futuro glorioso para o reino. (Como também se faz em Angola). Eu tinha referências aproximadas para as cifras que eu poderia utilizar para estimar coisas como o custo aproximado de produzir um mega watt de energia eléctrica, uma milha de estrada, água, esgoto” etc. (...) “Eu sempre tinha em mente os verdadeiros objectivos: maximizar pagamentos a firmas dos EUA, e tornar a Arábia Saudita cada vez mais dependente dos Estados Unidos. (Assim como Angola, dependerá em absoluto da China). Não levei muito tempo a entender como os dois objectivos se articulavam; quase todos os novos projectos desenvolvidos exigiriam “upgrading” e serviços de apoio contínuos, e eram tão complexos do ponto de vista técnico que assegurariam que as empresas fornecedoras teriam que mantê-los e modernizá-los.

Na realidade, conforme eu avançava com o meu trabalho, comecei a juntar duas listas para cada um dos projectos que eu visionava: uma para os contratos do tipo “design e construção”, e outra para acordos de serviço e gestão de longo prazo. MAIN, Bechtel, Brown & Root, Halliburton, Stone & Webster, e muitas outras empresas americanas de engenharia e construção teriam lucros generosos para as décadas seguintes”. A expansão das firmas era acompanhada da negociação da sua protecção militar, evidentemente apresentada como segurança do país, convenientemente ameaçado pelas tensões regionais “A sua presença (da indústria da defesa) iria requerer uma outra fase de engenharia e construção, projectos, incluindo aeroportos, (como o novo aeroporto de Luanda) sites de mísseis, bases de pessoal militar, e toda a infra-estrutura associada com estas instalações”. Um dos chefes do Perkins se referia ao reino da Arábia Saudita como “a vaca que iremos ordenhar até que o sol se ponha sobre a nossa aposentadoria”…

…É interessante fazer o paralelo entre Perkins, o homem do sistema que sai denunciando, e Stiglitz, que larga o Banco Mundial e publica “A globalização e os seus malefícios”, ou ainda David Korten que participa dos programas da USAID na Ásia e sai denunciando o que se faz na realidade (“Quando as corporações regem o mundo”). O sistema é realmente bastante podre, e chamar isto de “livre mercado” é realmente um insulto a Adam Smith» In Actualizações. Ladislau Dowbor

Gil Gonçalves
Imagem: Angola em fotos

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