A filha Isabel é accionista da Galp, do BPI, da Unitel (parceira em Angola do BPI e da PT), do BES Angola e do banco BIC; a gigante Sonangol, do Estado presidido pelo pai José Eduardo, está também na Galp, no BCP, é sócia do Totta e da Caixa em Angola; há ainda relações com a Mota-Engil e BPN, bem como intenções angolanas noticiadas na construção, imobiliário, comunicação social, transporte aéreo em Portugal.
In http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS&id=346106
Entra um idoso com um silêncio impressionante. Vai cumprimentando os presentes, mas a sua voz não se houve. Aproxima-se de nós lenta e silenciosamente, como se evitasse o barulho dos seus passos. Elder chama-me a atenção:
- Apresento-te o Jacinto, mais conhecido por Hitler. Repara no bigode dele. É exactamente uma cópia do Hitler… é ou não é?!
Não prestei atenção ao insulto, embora me desse vontade de rir. Deu-me uma boa noite com uma voz quase imperceptível. Elder interroga-o:
- Na boate não falta nada? Temos tudo garantido para o sucesso?
- Tudo não. Parece-me que o gerador não aguenta com a carga. O disjuntor dispara.
- O electricista não resolveu, porquê?
- Bem… resolveu não é bem assim… o senhor não lhe paga.
- Mas o que é que tu queres?! Ele deixa os trabalhos inacabados e…
- Acho que não é outra vez bem assim. Há dois meses que não recebe nada.
- Amanhã vou-te dar o dinheiro, e quando ele acabar os trabalhos ponho-o a andar.
- Muito bem, seja feita a vossa vontade.
- Jacinto, quando o contabilista precisar de transporte manda o motorista. Dá-lhe o número do teu telemóvel.
Retira uma folha do seu bloco de notas escreve o número e entrega-mo. Jacinto afasta-se silenciosamente. Nota-se o cansaço da idade. Parece arrastar as pernas. Chega à porta de saída, fecha-a e desaparece.
Retive a sua imagem. Tem cerca de sessenta anos. Cabelo e barba cor de prata. Olhos pequenos e profundos. Estatura baixa. Um pouco gordo. Apesar da idade nota-se que está bem conservado. Elder começa a falar-me sobre ele:
- Tenho pena dele, já está velho. Em Portugal vivia muito mal, por isso trouxe-o para aqui. Actualmente está com a responsabilidade dos transportes e da alimentação, e supervisor dos seguranças. É um indivíduo culto, mas tem um senão, nunca mexeu num computador, nem quer ouvir falar disso. Não tem aqui ninguém da sua família. Consegui-lhe um apartamento na Maianga. Está a viver com uma mestiça que tem trinta anos. Desde que está com ele, já engravidou duas vezes. As crianças não são filhos dele, mas trata-as como se fossem suas. Depois fala com ele para fazer um inventário de tudo o que se encontra na boate, senão vai ser uma roubalheira. Já falei com ele para mandar o motorista apanhar-te às vinte horas. Encontramo-nos na boate.
O motorista acaba de chegar. Entro e noto que está acompanhado de uma senhora. Ele fala muito alto. Diz-me que a senhora é sua esposa. Quer impressioná-la e diz-me:
- Quero ver como vai o seu trabalho. Amanhã entregue-me um relatório sem falta.
O carro passa num buraco e ouve-se o barulho de garrafas vazias a baterem umas nas outras. O homem grita por tudo e por nada. A sua condução é perigosa. Temo pela minha vida. Baixo-me e começo a contar. São oito garrafas de cerveja que andam de um lado para o outro a passear. Algumas chocam com os seus pés e incomodam o acesso aos comandos. O homem não se preocupa. Está bêbado. Será um milagre chegar-mos ao destino. Num cruzamento surge um carro com polícias. O motorista despreza-os. O condutor do carro da polícia faz-lhe sinal de luzes. Lembro-lhe:
- Então você não sabe que eles têm direito a prioridade?
O motorista pára de repente. Os polícias avançam. O motorista pergunta-me:
- Ah! Eles têm direito a prioridade?!
Gil Gonçalves
In http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS&id=346106
Entra um idoso com um silêncio impressionante. Vai cumprimentando os presentes, mas a sua voz não se houve. Aproxima-se de nós lenta e silenciosamente, como se evitasse o barulho dos seus passos. Elder chama-me a atenção:
- Apresento-te o Jacinto, mais conhecido por Hitler. Repara no bigode dele. É exactamente uma cópia do Hitler… é ou não é?!
Não prestei atenção ao insulto, embora me desse vontade de rir. Deu-me uma boa noite com uma voz quase imperceptível. Elder interroga-o:
- Na boate não falta nada? Temos tudo garantido para o sucesso?
- Tudo não. Parece-me que o gerador não aguenta com a carga. O disjuntor dispara.
- O electricista não resolveu, porquê?
- Bem… resolveu não é bem assim… o senhor não lhe paga.
- Mas o que é que tu queres?! Ele deixa os trabalhos inacabados e…
- Acho que não é outra vez bem assim. Há dois meses que não recebe nada.
- Amanhã vou-te dar o dinheiro, e quando ele acabar os trabalhos ponho-o a andar.
- Muito bem, seja feita a vossa vontade.
- Jacinto, quando o contabilista precisar de transporte manda o motorista. Dá-lhe o número do teu telemóvel.
Retira uma folha do seu bloco de notas escreve o número e entrega-mo. Jacinto afasta-se silenciosamente. Nota-se o cansaço da idade. Parece arrastar as pernas. Chega à porta de saída, fecha-a e desaparece.
Retive a sua imagem. Tem cerca de sessenta anos. Cabelo e barba cor de prata. Olhos pequenos e profundos. Estatura baixa. Um pouco gordo. Apesar da idade nota-se que está bem conservado. Elder começa a falar-me sobre ele:
- Tenho pena dele, já está velho. Em Portugal vivia muito mal, por isso trouxe-o para aqui. Actualmente está com a responsabilidade dos transportes e da alimentação, e supervisor dos seguranças. É um indivíduo culto, mas tem um senão, nunca mexeu num computador, nem quer ouvir falar disso. Não tem aqui ninguém da sua família. Consegui-lhe um apartamento na Maianga. Está a viver com uma mestiça que tem trinta anos. Desde que está com ele, já engravidou duas vezes. As crianças não são filhos dele, mas trata-as como se fossem suas. Depois fala com ele para fazer um inventário de tudo o que se encontra na boate, senão vai ser uma roubalheira. Já falei com ele para mandar o motorista apanhar-te às vinte horas. Encontramo-nos na boate.
O motorista acaba de chegar. Entro e noto que está acompanhado de uma senhora. Ele fala muito alto. Diz-me que a senhora é sua esposa. Quer impressioná-la e diz-me:
- Quero ver como vai o seu trabalho. Amanhã entregue-me um relatório sem falta.
O carro passa num buraco e ouve-se o barulho de garrafas vazias a baterem umas nas outras. O homem grita por tudo e por nada. A sua condução é perigosa. Temo pela minha vida. Baixo-me e começo a contar. São oito garrafas de cerveja que andam de um lado para o outro a passear. Algumas chocam com os seus pés e incomodam o acesso aos comandos. O homem não se preocupa. Está bêbado. Será um milagre chegar-mos ao destino. Num cruzamento surge um carro com polícias. O motorista despreza-os. O condutor do carro da polícia faz-lhe sinal de luzes. Lembro-lhe:
- Então você não sabe que eles têm direito a prioridade?
O motorista pára de repente. Os polícias avançam. O motorista pergunta-me:
- Ah! Eles têm direito a prioridade?!
Gil Gonçalves
2 comentários:
Gil,
Que preciosos textos. Cá estarei mais vezes para os apreciar melhor!
Abraço, e já agora:
BOM NATAL
Obrigado, Olhos Abertos.
Gil Gonçalves
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