Maputo (Canalmoz)
– Dezenas de trabalhadores do banco Procredit, em Maputo, abandonaram os seus postos de trabalho e saíram ontem à rua para protestar contra inúmeras irregularidades praticadas pela administração, que dizem existir naquela instituição financeira especialmente vocacionada para microfinanças.
Empunhando cartazes e dísticos, os trabalhadores marcharam na manhã desta terça-feira entoando cânticos, apelando à intervenção de quem de direito, porque “as relações laborais atingiram o clímax”. A greve estava agendada para acontecer há mais tempo, mas os trabalhadores tinham preferido dar tempo à administração, para ver se esta resolvia os problemas. O tempo passou, mas os problemas não passaram e a situação manteve-se constante. Os trabalhadores não viram outra saída senão optarem pela greve.
Segundo os trabalhadores, os problemas são os salários baixos, contratos precários, a falta de respeito para com a pessoa do trabalhador e cargas horárias pesadas. Lia-se nos dísticos o seguinte: “Estamos cansados de maus tratos”, “Abaixo as demissões sem justa causa”.
Segundo apurámos, existem trabalhadores que foram demitidos “sem justa causa” e que recorreram ao tribunal e “ganharam a causa”, mas até hoje não lhes foi paga a indemnização. Este grupo de trabalhadores também se juntou à manifestação de ontem.
Segundo dizem os trabalhadores, por várias vezes contactaram a direcção do banco para manifestarem a sua indignação e procurar junto da direcção “soluções pacíficas”. Foi entregue à direcção do banco o caderno de reivindicações onde constavam todas as preocupações dos funcionários. Os trabalhadores dizem que a direcção arquivou as reivindicações e fez de conta que nada estava a acontecer no banco e continuou com as práticas consideradas desumanas, tendo deixado tudo ao critério dos funcionários.
Segundo Carlos Vilanculo, um dos trabalhadores que falou à nossa reportagem, a situação laboral dentro do Procredit “pode ser descrita como insuportável, porque não há respeito pelos funcionários. Os salários são precários e a carga horária é pesada e não é compensada”, afirmou.
Pelo número de grevistas que saíram à rua, não são todos os trabalhadores que aderiram à greve. A reportagem do Canal de Moçambique deslocou-se a uma das agências sita na Avenida “Eduardo Mondlane”, onde constatou que estavam funcionários a trabalhar. Nenhum deles quis gravar a entrevista, mas confirmaram que o descontentamento é generalizado no seio dos trabalhadores.
O que diz a direcção do banco
Apercebendo-se da greve dos trabalhadores, a direcção geral do Procredit convocou uma conferência de imprensa, ainda na manhã de ontem, para apresentar a sua versão sobre os factos relatados pelos trabalhadores. O director geral do Procredit, Yann Groeger, começou por dizer que a direcção do banco sempre se mostrou disponível para dialogar com os trabalhadores para encontrar soluções pacíficas, que não fosse necessariamente uma greve.
O director geral do Procredit afirmou que não são todos os trabalhadores que estão descontentes com a direcção, e que a situação descrita pelos trabalhadores grevistas não é a situação real da empresa. “Se for a ver, a situação não é de crise, como descrevem os trabalhadores que se estão a manifestar”, disse, para depois acrescentar que os trabalhadores que estiveram em greve não correspondem nem a 10 por cento do número total dos trabalhadores do Procredit em Maputo. O director não confirma cenários de maus tratos, e reitera que a direcção está aberta para dialogar com o interlocutor válido, neste caso o sindicato, para encontrar soluções pacíficas e que satisfaçam ambas as partes.
A greve pode chegar às províncias
Entretanto, ficámos a saber que o sindicato com sede em Maputo está em contacto com as delegações provinciais, para que estas levem a cabo greves nas províncias, porque os problemas que os funcionários levantam em Maputo são os mesmos nas províncias. Assim, a nível das províncias podem eclodir greves nas agências do Procredit e até já começam a chegar à nossa redacção notícias que dão conta disso, precisamente.
(Matias Guente)
2010-06-16 06:49:00
http://www.canalmoz.com/default.jsp?file=ver_artigo&nivel=1&id=6&idRec=8122
Imagem: mocambique3.blogs.sapo.pt/arquivo/942400.htm
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