Os chineses reparam as vias rodoviárias do Uíge. Numa fazenda próxima extraem pedra. De repente encontram uma gruta infestada de oiro. Espoliam-no e acto contínuo apoderam-se da fazenda. O fazendeiro, angolano, queixa-se no governador, mas debalde. Os chineses estão na fazenda, na agora terra deles e o oiro e outros minerais extraem-nos, espoliam-nos e enviam-nos para a China. No Porto de Luanda as suas bagagens não são revistadas.
«Quais as consequências? A colonização económico-financeira e a filosofia da não ingerência nos assuntos internos de outros países, são atentatórias à integridade nacionalista dos povos. Certa vez, o meu colega Fernando Baxi, fez-me lembrar que,segundo Jhomo Kenyata: “Quando os europeus vieram para África, eles tinham a Bíblia e nós a terra, quando despertamos, eles ficaram com a terra e nós com a Bíblia”.
FÉLIX MIRANDA. FOLHA 8
Isto quer dizer que, a invasão económico científica, é pior do que a invasão armada. Enquanto a um dado momento um exército invasor é forçado à se retirar do território ocupado, a “invasão económica, científica e financeira”, é mais perigosa, pois é subtil, matreira, cria raízes profundas e nocivas que jamais se consegue arrancar.
Ao longo dos tempos, a imposição económica acompanhada pela presença humana, sacraliza progenitura que tarde ou cedo vai reivindicar poder. Por outro lado, os recursos materiais penhorados e que intervêm nessas negociatas, à longo termo transformam os autóctones em cativos. Logo, se não são letais, também não são pacíficas porque em termos económicos, forçam a importação de produtos, aniquilam a criatividade nacional na formação de quadros, na criação de infra-estruturas transformadoras e geradoras de emprego. Financeira, porque o poder dos bancos corrompe dirigentes e elites, subjuga povos, aliena forças armadas, polícia, etc. numa palavra, mesmo sem ser poder, a invasão económica acorrenta o Estado e o governo.
Referências: Em todo o lado que isso aconteceu salvaram-se algumas elites que pactuaram ou se deixaram vergonhosamente aliciar. Em contra-partida, o autóctone foi dizimado. Em Madagáscar por exemplo, onde imperam os mestiços de olhos rasgados, os autóctones africanos foram dizimados cultural e economicamente. Não se trata de uma cruzada contra os ímpios, tão pouco de xenofobia, é legítimo. Se os povos querem evitar a via-sacra, têm de conhecer a história. Defender o contrário, é o mesmo que credibilizar a tese do colonialismo que desde os nossos antepassados imediatos combatemos a sangue.
O grande problema é que, não são os angolanos que estão a pensar Angola. E aqueles que pensam Angola pelos angolanos, não se cingem na filosofia cartesiana ou pacifista confuciana. A lei do mais forte é que impera em Angola. Os projectos de reconstrução em curso visam afastar os angolanos do centro do poder e da zona dita asfáltica, para os kilombos dos marginais; os angolanos deixarão de ser donos e passarão a ser inquilinos caloteiros porque nunca conseguirão pagar as rendas ou impostos dos lugares que ocuparem. Para o antropólogo Pombolo Diakinté: “As terras pertencem ao Estado, subentendido, nós somos mercadorias do Estado e para o infortúnio dos mwangolés, este Estado não é natural, é virtual, tornou-se mercantil, ficou corrompido, comprometido com os credores até as suas vísceras. Portanto, será impotente para defender os mais fracos”.
O Papel da imprensa
É verdade que hoje, para termos um carrito modesto, uma casita e umas gorjetas, somos obrigados a mutilar a nossa honra, encobrir factos e enveredar pelos trilhos da bajulação ou incúria. Mas, ao não denunciarmos isso, é um autêntico crime e traição às gerações vindouras.»
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