Foi já há vários anos que o banco BIC fez passar a sua mensagem publicitária que ficou nas orelhas dos angolanos, “Crescemos juntos”. Recentemente, outro banco da nossa praça lembrou-se de imitar o seu concorrente e foi buscar o slogan “Crescemos com Angola”.
ANTÓNIO SETAS. FOLHA 8
Na tortuosa mente do ou dos mentores desta frase, a sua referência, o banco BFA, dava assim a conhecer aos angolanos a falaciosa asserção de que este banco crescia muitíssimo mais do que o BIC. Só que esse "tiro" é dos que sai pela culatra! De facto, o slogan tem algo a ver com a realidade, pois Angola cresce como um balão de Carnaval, correndo o risco de rebentar quando menos se espera na medida em que a esmagadora maioria da sua gente definha. E sob esse ângulo de abordagem, o slogan até está certo, o problema é que o crescimento do BFA com Angola, tão longe do seu povo, transforma o atendimento ao cliente dos seus balcões, a “arraia miúda” que os frequenta aglutinada em filas de espera por vezes de horas, numa sequência de manifestações de menosprezo e humilhações programadas em nome duma balofíssima segurança bancária (a crise, lembrem-se da crise, triliões de dólares a desaparecerem impunes pelas malhas dessa “segurança bancária”).
Para dar um exemplo, aqui vai um. Na passada segunda-feira dia 07.06.10, um pacóvio angolano, por acaso colega de redacção, entrou na agência Serpa Pinto do BFA para receber o montante dum cheque de 400 mil kwanzas. Esteve meia hora na fila, chegou ao guiché e disseram-lhe que naquela agência não havia dinheiro, não pagavam mais de 30 mil kwanzas. “Não podiam pôr um aviso lá fora, estou aqui há mais de meia hora…”, “Tem razão, mas não temos dinheiro, tem mesmo que ir, por exemplo, à nossa sede, aqui perto, “(!?!?)”, “A sede, antes de chegar à Maianga”…
E o pacóvio lá foi. Aí, esteve, no total, quase duas horas nas bichas, porque era preciso conferir o cheque, cujo valor, considerado altíssimo, carecia, por tal razão, de validação. Apareceu então um daqueles empregados tipo “robot de serviço”, formatado para considerar os clientes como peças de engrenagem de bancos, e passou uma hora (UMA HORA!!) a conferir o cheque.
Esse pernicioso personagem fez apenas de conta que conferiu, porque passada uma hora, apresentou-se sorridente ao balcão e anunciou ao pacóvio que não podia pagar tão elevado montante, porque a assinatura de um dos titulares do cheque não correspondia à que havia no computador. O pacóvio sublinhou que essa pessoa era uma figura pública (e é!) e seria fácil confirmar, era só entrar em contacto com ele e pedir-lhe a requisitada confirmação. “Não, senhor, essa não é a nossa maneira de confirmar, “!!!???”, “Não podemos pagar”, “E se eu puser o cheque na minha conta e pedir uma transferência?”, perguntou o otário (agora já era otário). “Não insista, senhor, vá buscar outro cheque com uma assinatura conforme!” E o otário lá foi, rabinho entre as pernas. Agastado, sem ter mais tempo a perder, pôs mesmo assim o cheque na sua conta e pediu a transferência. Acreditem, recebeu o dinheiro na sua conta na quarta-feira seguinte (09.06.10). Afinal a assinatura era óptima e o cheque perfeitamente válido.
O BFA a crescer com Angola? É verdade. Mas a imitar o Governo. O “Zé-povinho” protesta?... Que vá pastar!
Para o Povo?... Areia para os olhos (Q)
“É uma das maiores economias de África e uma das mais dinâmicas do mundo”, eis o que proclama um spot publicitário produzido pelo Governo de Angola e emitido variadíssimas vezes por dia pelos serviços de “publicidade” na nossa TPA para consumo intensivo dos pacóvios angolanos. Estes últimos, que se contam por muito mais de 10 milhões de almas, se estiverem distraídos e lhes escapar a palavra África, vão pensar que o locutor ao proferir tais palavras está-se a referir, sei lá, aos Estados Unidos, à China ou ao Japão, as mais poderosas nações do mundo do ponto de vista económico.
Grandioso engano! Não senhor, esse maravilhoso país, empenhado numa espécie de cavalgada das Walkírias para um esplendoroso futuro, é Angola, não se riam, é mesmo Angola, a nossa querida Pátria “caseiramente” promovida assim a líder mundial do desenvolvimento económico. Fantástico! A TPA merece o “grammy” do filme de ficção mais imaginativo realizado este ano. Com ele, quer dizer, com este anúncio, mostra as jóias de aparato de Angola, que escondem as suas endémicas “carecas”: toda a miséria no nosso povo, as cada vez mais penosas carências nas áreas de Saúde, distribuição de energia e fornecimento de água aos angolanos, num clima de condicionamento de vida, em certos sítios digno da Idade Média europeia.
Linguagem “people”
Depois de mais de um mês sem sentir os arrepios, uns prazenteiros, outros, a maioria, não, causados pelos trejeitos de linguagem de alguns dos participantes do programa dominical da Rádio Antena Comercial (LAC), “Analtina na Rádio”, da agora famosa empresária angolana, Analtina Dias, no passado dia 06.06.10 arriscámos uma sintonizaçãozinha nesse programa, às 10 horas da matina. Para controlar.
Tivemos pouca sorte. É que para além dos equívocos causados pelo enorme fosso que separa o lado “people” e “champanhe” do programa do seu pendente educativo e evangélico - sim, sim, evangélico, com um padre ou pastor a debitar tautologias e um Zé Diogo a colocar a voz num tom de improvisado arauto do predicador -, nesse domingo apareceu à cabeça da emissão uma senhora, denominada de Drª Cárita, que, por mais mérito que tenha no seu trabalho, “Óptimo labor”, segundo testemunhas idóneas, tem de aprender a falar em público.
Nesse dia, só nos primeiros 25 minutos de programa, a Drª Cárita pronunciou a palavra” maravilhoso”, ou “osa”, ou, uma ou duas vezes, “ilha” de “maravilha”, 17 vezes, seguida de muito longe pela nossa Analtina, que se ficou pelos seus 3 “Maravilhosos”, e em último lugar o Zé Diogo, com um “Maravilha”! Desligámos. Mas vamos voltar. Sobretudo na esperança de ouvir o Dr Makuta Nkondo. Um espectáculo radiofónico!
Imagem: mnoticias.8m.com/index5.htm
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