Angola volta às urnas na próxima sexta-feira, e o
presidente José Eduardo dos Santos, o Zédu (foto abaixo), tem três cenários à sua frente:
perdendo, o que é improvável, ele sairá como alguém que assumiu uma colônia,
pôs fim a uma guerra civil e entregou uma democracia com alternância de poder,
ainda que altamente corrupta, desigual, pobre, faminta e analfabeta; ganhando,
o que é quase certo, vai consagrar a estratégia que montou para apagar uma
nascente revolta contra esses e outros problemas e se perpetuar no poder.
http://www.jornaldamidia.com.br/2012/08/26/46417/
Mas isso depende de uma vitória legítima e
expressiva. Uma combinação delicada. Daí vem o terceiro cenário: um sucesso
magro pode lhe tirar o controle sobre o partido, ao qual impôs um vice sem
histórico político. E uma fraude flagrante será, em vez de água fria, gasolina
na fogueira de um movimento que tem se inspirado na derrubada de chefes de
Estado longevos como Hosni Mubarak.
No mês que vem, Zédu completa 33 anos no cargo –
mais do que os 30 do egípcio, e menos, na África, só que Teodoro Obiang, que
tem um mês a mais à frente da Guiné Equatorial.
- No momento, não é possível termos eleições
críveis. Há irregularidades bem identificadas, desvios da lei – diz ao GLOBO
Alcides Sakala, porta-voz da União pela Libertação Total de Angola (Unita), o
principal partido de oposição, que questiona a confiabilidade do registro de 6 milhões dos 9
milhões de eleitores e, na sexta-feira, sugeriu o adiamento do pleito.
A Comissão Nacional Eleitoral rejeitou na semana
passada essa e todas as outras reclamações do partido. A Associação Justiça,
Paz e Democracia (AJPD)e a organização anticorrupção Maka Angola denunciam
falhas que consideram graves no processo. A Unita e o movimento 7311, que se
espelhou na Primavera Árabe, decidiram realizar um protesto pedindo eleições
limpas.
Guerra civil - Segundo
maior produtor de petróleo da África, Angola foi palco de uma guerra civil
iniciada em 1975 como um conflito por procuração entre Washington e Moscou
durante a Guerra Fria , e terminada em 2002. O Movimento Popular de Libertação
de Angola (MPLA), liderado por Zédu, recebia apoio soviético e conseguiu abater
as lideranças da Unita, que foi um dos principais destinos da ajuda clandestina americana à
insurgência no exterior. A União Soviética acabou, o MPLA continuou no poder, e
hoje o país é o nono fornecedor de petróleo dos EUA, e o segundo da China.
Zédu nunca foi eleito. Assumiu em 1979 após a morte
do primeiro presidente angolano, Agostinho Neto, do MPLA, em 1979. Venceu o
primeiro turno em 1992, mas a oposição não aceitou o resultado, e o país voltou
à guerra civil. Em 2008, o MPLA obteve 80% dos votos no pleito parlamentar.
Antes de convocar as eleições atuais, ele mudou a Constituição e definiu que o
presidente seria o primeiro nome da lista do partido que vencesse as eleições legislativas.
Ele encabeça a lista do MPLA.
Com a máquina na mão, Zédu terá a vida facilitada por uma oposição rachada. O
cacique da Unita, Abel Chivukuvuku, saiu para liderar a Convergência Ampla de
Salvação de Angola (Casa-CE), que se comprometeu a realizar um referendo sobre
a soberania da região de Cabinda, onde é produzido o grosso do petróleo
angolano.
A maior ameaça parece vir de dentro do próprio
partido. Idoso para os padrões do país – tem 69 anos onde a expectativa de vida
é de 51,1 -, Zédu pode deixar o cargo no meio do período e, para a
eventualidade, impôs seu sucessor ao MPLA: Manuel Vicente, ex-presidente da
principal estatal do país, a Sonangol, que não tem carreira política.
- (A nomeação) ocorreu aparentemente após muito
esforço. Se o MPLA, com Santos e Vicente, tiver um resultado eleitoral
desapontador (com muita abstenção, por exemplo), a questão pode emergir
novamente – diz Markus Weimer, coordenador do Angola Forum do centro de estudos
britânico Chatham House. (Vitor Sorano, em O Globo)
Imagem: http://oglobo.globo.com/
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