Estes dias foram marcados pela realização de
eleições em Angola e como se esperava, o MPLA confirmou a vitória há muito
anunciada e por maioria qualificada. Dos 220 deputados da Assembleia Nacional
de Angola, o MPLA elegeu 175, o que lhe confere mais 5 anos de governação sem
oposição. Sim, sem oposição porque é na Assembleia Nacional onde se aprovam as
leis, os programas do Governo, bem como se faz a fiscalização do executivo, e
aqui os deputados da oposição não têm poder para mandar.
Nada contra a vitória do MPLA, mas, sim, contra
vitórias arquitectadas a partir da manipulação das instituições da
administração eleitoral, da manipulação da opinião pública e da “compra” do
reconhecimento na comunidade internacional, que correm logo para falar de
“eleições justas e transparentes” e felicitar quem está no poder.
Não é novidade para ninguém que a maioria dos
angolanos não está satisfeita com a situação política, económica e social do
país. Grande parte dos angolanos está excluída da vida económica do país. São
milhões de pessoas que vivem no limiar da indigência, que dia-a-dia clamam por
mudanças, mas quando chega o momento em que têm poder nas mãos para decidir,
então “optam” pela continuidade do “status quo”. Não faz sentido.
A lógica é de que quando não se está satisfeito com
a situação em que se vive, o ser humano procura mudar para tentar uma outra
situação. Porque será, então, que os angolanos, e não só, preferem manter-se na
mesma situação, mesmo tendo oportunidade de operar mudanças? Isto não acontece
só em Angola. Aqui também, onde a maioria do povo não está satisfeita com as
condições em que vive, quando chega a hora de responsabilizar quem tem a missão
de administrar o país, então voltamos a “escolher” a mesma desgraça.
Afinal “quem anda a votar nestes gajos?”,
questionavam os antigos trabalhadores moçambicanos na extinta República
Democrática da Alemanha, num cartaz que carregavam nas suas passeatas pelas
ruas da cidade de Maputo, na sua infinita luta pelo pagamento do seu dinheiro,
que foram descontados durante os anos de trabalho naquele país europeu.
E nós recuperamos aqui hoje esta célebre frase para
perguntar quem anda a votar nestes dirigentes que já tiveram o tempo suficiente
para provar não só a sua incapacidade de administrar um Estado, como também o
quão nocivos são para a construção de uma sociedade justa.
Será que o povo angolano – moçambicano também – é
burro e não percebe que ninguém nasceu com dom para governar e por isso quando
alguém se propõe a resolver os problemas de uma sociedade e não o consegue,
deve ser desqualificado e em seu lugar ser colocada uma outra pessoa capaz de
fazer melhor?
Há quem procure explicação deste paradoxo de se
apostar sempre na mesma “desgraça”, no facto de se apostar naqueles que
libertaram o país do colonialismo, como sendo os únicos com experiência de
governar. Mas já se provou ou se está a se provar que esse apego aos ditos
“libertadores” só retarda os respectivos países, onde o povo “não quer mudar”.
Falando só da região, temos casos de Botswana, e agora Zâmbia, onde o povo
disse “basta” aos libertadores, votaram na “oposição” e estes países continuam
com a sua vida normal e, aliás, com melhor desempenho em muitas áreas do que os
países apegados aos “libertadores”.
Escrevemos “libertadores” entre aspas porque os
avaliando pelo seu desempenho actual estão mais próximos de opressores do que
de libertadores.
Certamente que se perguntar a qualquer pessoa de
bom-senso se gostaria de ver o seu filho a estudar debaixo de uma mangueira,
sentado no chão, e o filho do ministro do Governo que elegeu a estudar num
colégio, numa sala climatizada, certamente que a pessoa dirá não; se perguntar
que gostava de ser transportado por um camião de casa para trabalho e
vice-versa, enquanto o dirigente que elegeu circula numa viatura importada,
dirá, certamente, que não. Responderá “não” também se perguntarmos se está
feliz em caminhar 30 quilómetros para o Centro de Saúde mais próximo da sua
casa, para depois esperar no local pelo atendimento mais de duas horas,
enquanto isso o dirigente que escolheu tem tratamento médico – ele e sua
família – no exterior.
O que custa a estas pessoas de bom-senso para
entender que a solução para os seus problemas está nas suas mãos, que podem
impor a mudança através de voto, um voto contra a desgraça que vivem?
Perante esta situação, como a de Angola e
Moçambique, só pode haver poucas hipóteses para explicar o comportamento
eleitoral do povo. Ou são todos retardados mentais, que não conseguem fazer um
raciocínio tão simples e lógico quanto este, ou então as “eleições” que
acontecem não passam de uma simulação dos respectivos regimes. É que todo o ser
humano deve saber que se um empregado não cumpre com as suas obrigações, é
preciso dispensá-lo e contratar outro, a não ser que queira levar a empresa à
falência! *Título copiado do cartaz dos madgermans (Redacção)
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