sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Editorial. Quem anda a votar nestes gajos*


Estes dias foram marcados pela realização de eleições em Angola e como se esperava, o MPLA confirmou a vitória há muito anunciada e por maioria qualificada. Dos 220 deputados da Assembleia Nacional de Angola, o MPLA elegeu 175, o que lhe confere mais 5 anos de governação sem oposição. Sim, sem oposição porque é na Assembleia Nacional onde se aprovam as leis, os programas do Governo, bem como se faz a fiscalização do executivo, e aqui os deputados da oposição não têm poder para mandar.
Nada contra a vitória do MPLA, mas, sim, contra vitórias arquitectadas a partir da manipulação das instituições da administração eleitoral, da manipulação da opinião pública e da “compra” do reconhecimento na comunidade internacional, que correm logo para falar de “eleições justas e transparentes” e felicitar quem está no poder.
Não é novidade para ninguém que a maioria dos angolanos não está satisfeita com a situação política, económica e social do país. Grande parte dos angolanos está excluída da vida económica do país. São milhões de pessoas que vivem no limiar da indigência, que dia-a-dia clamam por mudanças, mas quando chega o momento em que têm poder nas mãos para decidir, então “optam” pela continuidade do “status quo”. Não faz sentido.
A lógica é de que quando não se está satisfeito com a situação em que se vive, o ser humano procura mudar para tentar uma outra situação. Porque será, então, que os angolanos, e não só, preferem manter-se na mesma situação, mesmo tendo oportunidade de operar mudanças? Isto não acontece só em Angola. Aqui também, onde a maioria do povo não está satisfeita com as condições em que vive, quando chega a hora de responsabilizar quem tem a missão de administrar o país, então voltamos a “escolher” a mesma desgraça.
Afinal “quem anda a votar nestes gajos?”, questionavam os antigos trabalhadores moçambicanos na extinta República Democrática da Alemanha, num cartaz que carregavam nas suas passeatas pelas ruas da cidade de Maputo, na sua infinita luta pelo pagamento do seu dinheiro, que foram descontados durante os anos de trabalho naquele país europeu.
E nós recuperamos aqui hoje esta célebre frase para perguntar quem anda a votar nestes dirigentes que já tiveram o tempo suficiente para provar não só a sua incapacidade de administrar um Estado, como também o quão nocivos são para a construção de uma sociedade justa.
Será que o povo angolano – moçambicano também – é burro e não percebe que ninguém nasceu com dom para governar e por isso quando alguém se propõe a resolver os problemas de uma sociedade e não o consegue, deve ser desqualificado e em seu lugar ser colocada uma outra pessoa capaz de fazer melhor?
Há quem procure explicação deste paradoxo de se apostar sempre na mesma “desgraça”, no facto de se apostar naqueles que libertaram o país do colonialismo, como sendo os únicos com experiência de governar. Mas já se provou ou se está a se provar que esse apego aos ditos “libertadores” só retarda os respectivos países, onde o povo “não quer mudar”. Falando só da região, temos casos de Botswana, e agora Zâmbia, onde o povo disse “basta” aos libertadores, votaram na “oposição” e estes países continuam com a sua vida normal e, aliás, com melhor desempenho em muitas áreas do que os países apegados aos “libertadores”.
Escrevemos “libertadores” entre aspas porque os avaliando pelo seu desempenho actual estão mais próximos de opressores do que de libertadores.
Certamente que se perguntar a qualquer pessoa de bom-senso se gostaria de ver o seu filho a estudar debaixo de uma mangueira, sentado no chão, e o filho do ministro do Governo que elegeu a estudar num colégio, numa sala climatizada, certamente que a pessoa dirá não; se perguntar que gostava de ser transportado por um camião de casa para trabalho e vice-versa, enquanto o dirigente que elegeu circula numa viatura importada, dirá, certamente, que não. Responderá “não” também se perguntarmos se está feliz em caminhar 30 quilómetros para o Centro de Saúde mais próximo da sua casa, para depois esperar no local pelo atendimento mais de duas horas, enquanto isso o dirigente que escolheu tem tratamento médico – ele e sua família – no exterior.
O que custa a estas pessoas de bom-senso para entender que a solução para os seus problemas está nas suas mãos, que podem impor a mudança através de voto, um voto contra a desgraça que vivem?
Perante esta situação, como a de Angola e Moçambique, só pode haver poucas hipóteses para explicar o comportamento eleitoral do povo. Ou são todos retardados mentais, que não conseguem fazer um raciocínio tão simples e lógico quanto este, ou então as “eleições” que acontecem não passam de uma simulação dos respectivos regimes. É que todo o ser humano deve saber que se um empregado não cumpre com as suas obrigações, é preciso dispensá-lo e contratar outro, a não ser que queira levar a empresa à falência! *Título copiado do cartaz dos madgermans (Redacção)

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