sexta-feira, 14 de setembro de 2012

A intoxicação ideológica e cultural ao serviço da hegemonia. Canal de Opinião Por Noé Nhantumbo

  
…Não se descure o que a Coca-Cola, Hollywood e os Hamburgers fazem…

Num país em que logo que se descubram recursos minerais como rubis, diamantes são as esposas de presidentes que se arvoram proprietários das mesmas se não são outros elementos com fortes ligações a liderança política governamental. Temos de ser honestos e afirmar que essa cobiça e vontade de açambarcar tudo, fere os interesses mais legítimos dos moçambicanos e dos africanos.

Maputo (Canalmoz) - Na luta pela hegemonia o tipo de armas utilizadas varia consoante a agenda de momento.
Aos africanos até o acesso ao tratamento com anti-retrovirais era a tempos negado ou condicionando com alegações de que não havia conhecimento suficiente ou condições técnicas para implementar os programas protocolares relacionados com o combate com o HIV/SIDA.
Os contratos internacionais tanto de acesso a fundos de crédito como para realização de obras de infra-estruturas são controlados e condicionados a regras estabelecidas pelos outros.
A posição generalizada dos africanos é de esperar, depender e de aceitar tudo o que lhe “ofereçam”.
Como se pode julgar atendendo ao que se passa na maioria dos países o desenvolvimento tarda em arrancar. Governos sucessivos chegam ao poder executivo e proclama-se a solução para os seus países. Passado algum tempo o que se observa é a continuação de uma miséria atroz, instabilidade e coerção.
Na ausência de actores políticos de envergadura, pessoas interessadas em participar nos debates globais da actualidade África foi sendo colocada na periferia. As antigas alegações de que a colonização era a causa do atraso continental foi perdendo consistência e agora está claro que as culpas residem em África.
Numa situação em que os países funcionam com base em realismo e que as diversas relações que estabelecem entre si têm essa base, rapidamente a tese das consequências nefastas com origem no colonialismo passado perdeu qualquer consistência que ainda pudesse ter.
A acção concreta das chancelarias internacionais dos países poderosos age concertadamente e utiliza todo o tipo de meios e recursos para continuar a dominar.
Numa ingenuidade recorrente, são os africanos que colocam os recursos dos seus países como “pasto rico” pago ao desbarato por todos que entendem aqui estabelecer os seus negócios.
A desordem não para de aumentar nos diferentes países africanos. Ora são questões de natureza étnica, ora é compartilha dos recursos naturais que provoca guerras e adia o desenvolvimento nacional. Quase sempre o que se verifica é que os africanos estão longe da tolerância política e quando estão na política é para resolverem seus problemas pessoais.
Num país em que logo que se descubram recursos minerais como rubis, diamantes são as esposas de presidentes que se arvoram proprietários das mesmas se não são outros elementos com fortes ligações a liderança política governamental. Temos de ser honestos e afirmar que essa cobiça e vontade de açambarcar tudo, fere os interesses mais legítimos dos moçambicanos e dos africanos.
Com cobertura e concertação com as multinacionais que se dedicam a extracção de petróleo, gás e carvão, milhões de dólares são desviados dos cofres públicos sem conhecimento dos parlamentos locais.
Sempre que os africanos se colocam em posição de sujeito das acções em seus territórios aparecem logo vozes os catalogando de incompetentes. Em geral quando aparece uma figura política perseguindo uma agenda de cariz nacionalista, não demora que forças opostas, com apoio internacional de certas chancelarias, em geral ocidente, famosas como Paris, a financiar uma revolta, um golpe de estado sob os infames justificativos.
Sabe-se ou imagina-se, pois provas são quase impossíveis de reunir, qual tem sido a interferência directa e indirecta na concretização de estratégias e agendas dos poderosos. Quando as armas não são suficientes utilizam-se as telecomunicações, as tecnologias de ponta, o GPS, para fornecer informações vitais aos opositores e beligerantes. Casos de conflitos têm terminado abruptamente sem que tenha havido uma vitória de uma das partes. De fora tanto se diz e se manda combater como se manda parar com os combates. Aos teimosos e recalcitrantes sugere-se uma eliminação cirúrgica, conveniente para que os negócios prosperem.
E para que seja assegurado que as coisas aconteçam e seja aceites com normalidade pelo público tanto africano como do resto do mundo, montam-se ofensivas mediáticas visando condicionar o entendimento que os cidadãos têm dos assuntos africanos.
Quantas vezes não é dito aos africanos, através de fundos estatais, orçamentos parcialmente ou quase na totalidade financiados com fundos externos que o melhor caminho é continuar a votar em governos que não conseguem produzir resultados palpáveis.
A entrada e proliferação de mensagens culturais dos mais diversos tipos nos países africanos, a invasão cinematográfica, os vídeos de filmes que assaltam salas de cinema e os mercados informais de bens pirateados tudo se combina para intoxicar os africanos. É bom tudo o que os outros fazem e aquilo que é produção local não tem valor.
As vezes o grau de intoxicação é de tal forma grave que é comum encontrar africanos com saudades fortes dos tempos de dominação colonial. Face a incapacidade de ver resultados por parte dos seus governantes, as pessoas recorrem ao saudosismo para alimentar a sua mente.
Amontoados de lixo, bairros de lata, estradas esburacadas, valas de drenagem com águas paradas, escolas secundárias e primárias sem carteiras, hospitais sem medicamentos ou sofrendo rotura de stocks periodicamente, mediocridade generalizada caracteriza muitos dos países africanos senão a grande maioria.
Por mais altas que sejam as doses de caridade internacional e filantropia isso não passa de mais uma forma de mostrar e revelar o descalabro da governação em África. Verdade que milhões de pessoas devem a sua sobrevivência a esse tipo de apoios mas verdade maior é que apoiando resolutamente esforços democratizantes não haveria necessidade de tal caridade ou filantropia.
A libertação de África ainda não é uma realidade enquanto subsistirem todos os factores que concorrem para a desagregação de países, enfraquecimento programado da capacidade de decisão e controlo dos recursos.
África já é suficientemente adulta para deixar de ser alvo de manchetes noticiosas pela negativa.
É vergonhoso que se tenha tudo para sermos países viáveis e que volta e meia tenhamos que nos ajoelhar aos poderosos para recebermos mais um pacote de financiamentos. Não nos emprestam o que realmente precisamos para sair da dependência mas aquilo que garante que continuemos na dependência.
E como o processo de endividamento de nossos países está fora do controlo dos cidadãos e de seus representantes a dívida só asfixia e mata os milhões de cidadãos empobrecidos, adoentados e sem esperança.
Denunciar a intoxicação ideológica e cultural é um imperativo pela libertação e democratização de África.
O verbo habitual de que não somos capazes é obra de uma confraria de interesses ao estilo de Rupert Murdoch do “News of the World”. Planificam-se campanhas nos mídia e utilizam-se os mais variados meios tudo para garantir que nada se altere.
Cabe aos africanos libertarem-se mais uma vez pois a ascensão à independência trouxe um novo tipo de dependência e condicionalismos.
E como se tem visto ao longos anos corromper africanos é bastante fácil. Presentes e prémios têm “dobrado” os mais resistentes… (Noé Nhantumbo)

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