terça-feira, 4 de setembro de 2012

Curandeiros e igrejas evangélicas brasileiras disputam clientes


Maputo (Canalmoz) – Cresce o clima de tensão entre as igrejas evangélicas brasileiras e os chamados médicos tradicionais (curandeiros). Em causa está a disputa de clientes que as igrejas preferem tratar por “crentes”.
As igrejas são acusadas pela Associação dos Médicos Tradicionais de Moçambique (AMETRAMO) de tentarem descredibilizar a medicina tradicional, tentando convencer a população para não optar por este tipo de medicina e recorrer às igrejas para resolver os problemas espirituais.
Durante uma entrevista concedida ao Canalmoz o porta-voz da AMETRAMO, Francisco Mathe,  no âmbito da comemoração do dia internacional da medicina tradicional africana, atirou-se contra as igrejas que dizem ter poder de cura.
Mathe disse que “a população moçambicana está a ser fingida pelas igrejas que dizem para não recorrem à medicina tradicional para resolver seus problemas”.
Mathe disse que muitos dos pastores que aconselham os crentes a não frequentarem a medicina tradicional, são clientes assíduos dos médicos tradicionais.
“É importante que as pessoas saibam que é a medicina tradicional que resolve os problemas de saúde daquela população nas zonas rurais, que não tem acesso aos hospitais. Até mesmo nas zonas urbanas há problemas que não podem ser resolvidos no hospital, então as pessoas recorrem à medicina tradicional, mas meia volta, são essas mesmas pessoas que discriminam os nossos trabalhos”, disse Mathe antes de falar de falsas propagandas.

Falsas propagandas dos médicos tradicionais

“Reconhecemos que existem algumas propagandas falsas, mas é importante entender que nem todas as propagandas que parecem falsas são realmente falsas. Já tentamos combater isso, mas tivemos algumas dificuldades. No entanto, pensamos que a legislação é nossa única salvação”, explicou Mathe em alusão aos curandeiros que dizem curar doenças incuráveis.

Extinção de plantas medicinais

Para AMETRAMO, uma das principais preocupações do grupo prende-se com a extinção de algumas plantas medicinais consideradas indispensáveis para a cura de diversas doenças.
“A demanda mundial de plantas medicinais está a aumentar nos mercados fitoterapêuticos internacionais. Em consequência disso, Moçambique regista cada vez mais um elevado índice de exportação ilegal de plantas com valor medicinal, gerando margens de lucros que pouco ou em nada beneficiam ao Estado. Esta situação acontece devido à falta de mecanismos eficazes de controlo de aproveitamento dessas plantas”, disse o porta-voz da AMETRAMO.
Refira-se que dados da Organização Mundial da Saúde indicam que Moçambique faz parte dos países subdesenvolvidos, onde perto de 80% da população depende da medicina tradicional para as suas necessidades em termos de cuidados primários de saúde. (António Frades)
Imagem: cgvaladares.com.br

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