Canal de OpiniãoPor Noé Nhantumbo
Demissões, expulsões, transferências, premiações, nomeações
maquiavelicamente elaborados e executados…
Maputo
(Canalmoz) - Afinal não há nenhuma mão externa em Moçambique, conspirando e
executando missões contra o regime de Maputo. Há é uma “mão interna”
conspirando contra a democracia e desenvolvimento sustentável de Moçambique
sediada na Pereira do Lago. Quando se convocam dirigentes de órgãos de
informação públicos a fim de criticar e transmitir instruções, como se ainda
prevalecesse o partido único, não só é grave como é perigoso. Pode parecer
politicamente uma forma expedita de resolver um problema. Pode também
significar uma forma de agir que ignora completamente a existência de um Estado
de Direito duramente conquistado pelos moçambicanos. Em termos práticos é uma
ilusão de “avestruz”. Significa mau aconselhamento de uma liderança que se
encontra distraída com um número crescente de dossiers privados com que tem de
lidar.
Os
principais instigadores de uma prática contra a democracia estão se revelando à
luz do dia. O promotor da tese de que é ”imperativo” que o partido Frelimo
continue perpetuamente no poder, porque não consegue “engolir” com urbanidade e
dignidade as derrotas eleitorais e após repetir-se a derrota em Quelimane,
procura culpados na comunicação social. Outros derrotados já sofreram na carne
o custo de derrota e já não farão parte do próximo CC da Frelimo a ser eleito
no congresso de Pemba.
Compreende-se
o nervosismo de certas pessoas e que isso transborde para a comunicação social.
Não há inimigos na comunicação social e isso já deveria estar claro nas mentes
dos que se pretendem liderança esclarecida de Moçambique. Mas é deveras
inaceitável que alguém procure levar os moçambicanos de volta àquele passado de
má memória, em que alguns que se julgavam eleitos e especiais, impunham a todos
os outros moçambicanos toda uma série de coisas, inclusive como se deviam
vestir e o que deviam comer, o que podiam falar ou dizer em público. O
Departamento de Trabalho Ideológico auxiliado pelos órgãos de segurança
governamentais, partidários e uma miríade de militantes sempre prontos a
agradar a seus superiores hierárquicos havia criado um ambiente de desconfiança
efectiva entre os moçambicanos, onde houvesse 3 ou 5 moçambicanos juntos quase
certo que 1 era informador dos serviços de inteligência e segurança. Só quem
não viveu aqueles tenebrosos dias pode duvidar.
Também
parece que alguns dos defensores da actual política de controlo e censura
informativa de hoje, não chegaram a sentir os efeitos de tudo o que significava
ser manietado e sufocado ideologicamente. Hoje querem impor aquelas fórmulas
que levaram à guerra civil. Ao mesmo tempo que querem enganar os moçambicanos
sobre quem era o inimigo, não hesitam em deitar lenha na fogueira da exploração
dos recursos naturais do país.
São
rápidos a acusar os políticos das oposição ao mais pequeno deslize mas negam-se
a denunciar uma autêntica indústria de conflitos de interesses e de tráfico de
influência colocado em marcha por ministros-empresários.
De
que vale a pena a Autoridade Tributária de Moçambique arrecadar receitas
fiscais se estas volta e meia não vão ser direccionadas para a construção de
infraestruturas públicas? Só uma parte ínfima é realmente utilizada para o bem
público pois como os moçambicanos já aprenderam a ver seus governantes são
ávidos de mordomias e luxos alimentados pelo erário público.
Quando
os deputados da maioria parlamentar são domesticados e proibidos de manifestar
com honestidade e hombridade seus pontos de vista em nome de uma disciplina
partidária estamos perante uma situação de coacção efectiva.
Agora
com a intromissão aberta nos assuntos editoriais da comunicação social pública
há razoes fortes dos moçambicanos se mostrarem preocupados e ofendidos nos seus
mais elementares direitos.
A
democracia não se faz com jogos baixos e tropelias. Ninguém está contestando o
direito do partido Frelimo se reunir com seus membros seja qual for a sua
proveniência. Mas isso é diferente de ditar uma agenda para órgãos que
funcionam com recursos que são a contribuição de todos os moçambicanos.
O
peso descomunal que a comunicação social pública jogam no panorama político e
social do país não podem ser negligenciados sob pena de a democracia sofrer
revezes nos próximos pleitos eleitorais. É preciso ver a acção do porta-voz do
partido Frelimo como parte de uma estratégia que visa assegurar ganhos através
da manipulação da vontade popular. Estamos perante um afinar das armas para as
batalhas que se avizinham. Pela rádio, jornais afectos e teleguiados, estações
televisivas, vai se observar decerto um crescendo de manifestações visando
influenciar os moçambicanos a terem os seus olhos e opiniões no partido
governamental.
Já
não se confia unicamente nos órgãos eleitorais pois mesmo sob um aparente
controlo não tem garantido que não se registem derrotas.
Ao
crescimento da democracia no país, da evolução da oposição política a resposta
eleita tem sido a supressão sempre das vozes discordantes sempre que isso se
mostre possível.
Há
uma contradição fundamental que continua sendo exibida no panorama político
nacional e isso resume-se a implementação do conceito de intolerância política
activa pelos que se julgam poderosos e insubstituíveis na arena política
nacional.
Continuará
sendo cada vez mais difícil ver a democracia triunfando enquanto vestígios
fossilizados dos tempos de partido único e da guerra civil permanecerem no
activo e alistando novas forças para as suas alas.
Sem
conspirar-se ou desenhar teorias da conspiração onde não existem fundamentos ou
factos que o consubstanciem é interessante que se observem os sinais de
emergência de um segmento político moçambicano que não admite compartilhar as potencialidades
e potencialidades nacionais.
O
“Eldorado”moçambicano que neste momento é o carvão e o gás estão deixando muita
gente preocupada e com receios talvez não fundamentados.
Mais
e melhor democracia, o fim da intromissão, da interferência, dos excessivos
poderes do chefe do executivo, não vão colocar o país em perigo mas sim criar
condições para que o desenvolvimento tenha impactos positivos na vida de um
número cada vez maior de moçambicanos.
Está
claro que a “mão interna” não comunga com a democracia nem se mostra disposta a
contrariar os apetites de uma elite política e financeira parasita.
Os
poucos jovens a quem um alinhamento com o núcleo duro da oligarquia em
Moçambique tem favorecido jamais serão os milhões que vegetam na mais indigna
miséria.
Controlar
o que veiculam os órgãos de comunicação social pública pode adiar mas não
impedir a emergência de contestação rigorosa e sustentada de uma governação
lesa-pátria… (Noé Nhantumbo)
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