terça-feira, 18 de setembro de 2012

Destruição de casas de famílias desfavorecidas em Nampula. Combate à pobreza ou combate aos pobres?!

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Nampula (Canalmoz) – A agenda nacional é o combate à pobreza, mas há quem parece estar a combater os pobres. O município de Nampula, liderado por Castro Namacua, eleito pelo partido Frelimo, acaba de dar evidências de que em alguns sectores de governação o que se combate não é a pobreza, mas, sim, os pobres. Na semana passada, a edilidade de Nampula mandou os seus “tropas” destruírem centenas de casas de construção precária, no bairro da Resta, posto administrativo de Natikiri, deixando milhares de famílias desfavorecidas ainda mais pobres: sem onde dormir.
As vítimas desta destruição dizem que foram encontradas de surpresa, sem prévio aviso da destruição, pelo que, para além das casas, perderam também seus bens que se encontravam no interior das mesmas. Tudo o que é frágil quebrou-se, e os restantes pertences ficaram a apanhar assim que os destrutores se foram embora. No local, conforme documentam as nossas imagens, parece que passou um vendaval… humano.
A Reportagem do Canalmoz visitou o local onde as mais de 200 casas foram deitadas abaixo por uma máquina pertencente à edilidade e colhemos o desespero das vítimas do vendaval municipal. São pais e mães que não sabem para onde levar seus filhos que de um dia para o outro ficaram sem tecto.

Origem dos acontecimentos

Contam os moradores do local, ora escorraçados, que a ocupação do espaço teve início em Maio do corrente ano. Antes o local era uma mata que abrigava pessoas de conduta duvidosa.
Jeremias Calieque, um dos lesados que falou ao Canalmoz, assegurou ter investido 3.500,00Mt (três mil e quinhentos meticais) para a aquisição do espaço onde posteriormente ergueu a sua casa de pau a pique e coberta de chapas de zinco. “Quando vieram destruir não disseram nada a ninguém e muito menos deixaram-nos tirar os nossos pertences dentro das nossas casas”, disse lamentado.
“Nunca imaginei que um dia fossemos corridos, porque nós estávamos a defender a vida das nossas filhas que eram assaltadas aqui pelos bandidos”, disse Calieque.

Jeremias Calieque é pai de quatro filhos e neste momento encontra-se em desespero, pois não tem como assegurar a sobrevivência da sua família.
O mesmo sucede com Lúcio Francisco, pai de uma filha, que ergueu no local três casas e tinha em perspectiva assegurar o futuro da sua filha, mas a sorte lhe foi madrasta. O Conselho Municipal mandou uma máquina destruir-lhe o pouco que tinha conseguido.
Lúcio disse que em momento algum a população negou os procedimentos para a ocupação legal do solo urbano, mas a edilidade os traiu, pois tinham já sido procedido registo dos cidadãos que ocupavam os talhões, faltava, apenas, começarem a cumprir com os planos de urbanização.
Na construção das três casas, Lúcio investiu de forma directa 7.500,00Mt (sete mil e quinhentos meticais) e para já não sabe como reaver o que já gastou, pois do lado da edilidade ninguém de forma clara se predispõe a explicar o futuro dos moradores.
Não queremos ameaçar, queremos viver

Por causa da ocupação de terra não parcelada, alguns dos ocupantes foram parar na cadeia, sem saber os motivos, pois não houve um processo legal e muito menos uma acusação formal, mas a verdade é que ficaram presos três dias.
Salvador Daniel foi um dos cidadãos que se viu privado da sua liberdade por estes três dias e quando voltou para casa já não tinha nada, nem roupa, nem comida e muito menos tecto.
Daniel não esconde a sua indignação e manda recado: “não queremos ameaçar o governo, mas queremos viver em paz”.
Tal como os outros pais de famílias, Salvador Daniel estava a construir a sua casa para garantir o futuro da filha e no processo já tinha despendido 4.500,00Mt (quatro mil e quinhentos meticais). (Aunício da Silva)

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