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Nampula
(Canalmoz) – A agenda nacional é o combate à pobreza, mas há quem parece estar
a combater os pobres. O município de Nampula, liderado por Castro Namacua,
eleito pelo partido Frelimo, acaba de dar evidências de que em alguns sectores
de governação o que se combate não é a pobreza, mas, sim, os pobres. Na semana
passada, a edilidade de Nampula mandou os seus “tropas” destruírem centenas de
casas de construção precária, no bairro da Resta, posto administrativo de
Natikiri, deixando milhares de famílias desfavorecidas ainda mais pobres: sem
onde dormir.
As
vítimas desta destruição dizem que foram encontradas de surpresa, sem prévio
aviso da destruição, pelo que, para além das casas, perderam também seus bens
que se encontravam no interior das mesmas. Tudo o que é frágil quebrou-se, e os
restantes pertences ficaram a apanhar assim que os destrutores se foram embora.
No local, conforme documentam as nossas imagens, parece que passou um vendaval…
humano.
A
Reportagem do Canalmoz visitou o local onde as mais de 200 casas foram deitadas
abaixo por uma máquina pertencente à edilidade e colhemos o desespero das
vítimas do vendaval municipal. São pais e mães que não sabem para onde levar
seus filhos que de um dia para o outro ficaram sem tecto.
Origem dos acontecimentos
Contam
os moradores do local, ora escorraçados, que a ocupação do espaço teve início
em Maio do corrente ano. Antes o local era uma mata que abrigava pessoas de
conduta duvidosa.
Jeremias
Calieque, um dos lesados que falou ao Canalmoz, assegurou ter investido
3.500,00Mt (três mil e quinhentos meticais) para a aquisição do espaço onde
posteriormente ergueu a sua casa de pau a pique e coberta de chapas de zinco.
“Quando vieram destruir não disseram nada a ninguém e muito menos deixaram-nos
tirar os nossos pertences dentro das nossas casas”, disse lamentado.
“Nunca
imaginei que um dia fossemos corridos, porque nós estávamos a defender a vida
das nossas filhas que eram assaltadas aqui pelos bandidos”, disse Calieque.
Jeremias
Calieque é pai de quatro filhos e neste momento encontra-se em desespero, pois
não tem como assegurar a sobrevivência da sua família.
O
mesmo sucede com Lúcio Francisco, pai de uma filha, que ergueu no local três
casas e tinha em perspectiva assegurar o futuro da sua filha, mas a sorte lhe
foi madrasta. O Conselho Municipal mandou uma máquina destruir-lhe o pouco que
tinha conseguido.
Lúcio
disse que em momento algum a população negou os procedimentos para a ocupação
legal do solo urbano, mas a edilidade os traiu, pois tinham já sido procedido
registo dos cidadãos que ocupavam os talhões, faltava, apenas, começarem a
cumprir com os planos de urbanização.
Na
construção das três casas, Lúcio investiu de forma directa 7.500,00Mt (sete mil
e quinhentos meticais) e para já não sabe como reaver o que já gastou, pois do
lado da edilidade ninguém de forma clara se predispõe a explicar o futuro dos
moradores.
Não queremos ameaçar, queremos viver
Por
causa da ocupação de terra não parcelada, alguns dos ocupantes foram parar na
cadeia, sem saber os motivos, pois não houve um processo legal e muito menos
uma acusação formal, mas a verdade é que ficaram presos três dias.
Salvador
Daniel foi um dos cidadãos que se viu privado da sua liberdade por estes três
dias e quando voltou para casa já não tinha nada, nem roupa, nem comida e muito
menos tecto.
Daniel
não esconde a sua indignação e manda recado: “não queremos ameaçar o governo,
mas queremos viver em paz”.
Tal
como os outros pais de famílias, Salvador Daniel estava a construir a sua casa
para garantir o futuro da filha e no processo já tinha despendido 4.500,00Mt
(quatro mil e quinhentos meticais). (Aunício da Silva)
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