sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Cultura Tradicional Bantu. (Reposição) o chefe de Evale tinha poderes mágicos para atrair a chuva.


O último mandamento que se ensina ao jovem nhaneca-humbe diz assim: «Na guerra não mates anciãos nem anciãs. Um ancião é “epa lyohi”, que quer dizer, duro e respeitável como a crosta da terra, ou noutro sentido, deve ser apreciado, como a planta medicinal do mesmo nome».

Pe. Raul Ruiz de Asúa Altuna. Edições Paulinas

Os membros da sociedade «Jindungo», Cabinda, foram, na sua origem, agentes secretos do rei do Congo. Recolhiam informações, denunciavam os abusos dos poderosos e faziam abortar qualquer intento de revolta. Cobravam também as dívidas, apresentando-se mascarados na casa do devedor.

C. Estermann assegura que o chefe de Evale tinha poderes mágicos para atrair a chuva. Mas só os conseguia se sacrificava uma jovem mãe cujo filho era entregue a outra mulher. Juntamente com a vítima, sacrificavam também uma vaca negra, antes do sacrifício, o leite da mulher e o da vaca eram aspergidos várias vezes por terra, como prenúncio da chuva. A mulher era assassinada com um golpe de lança e, com o seu sangue, aspergiam as árvores da chuva. O seu cadáver ficava insepulto e ninguém podia chorar a sua morte nem guardar luto.

O chefe é temido e respeitado na sociedade, porque recebe o poder de Nambe.

Chefe ou dembo da região dos Dembos (fusão étnica e cultural de congolídeos [bacongos] com quimbundos [kimbundu]

Por exemplo, na área quimbunda angolana, os chefes principais chamam-se sobas-banzas, e os inferiores, sobetas.

A audiência é pública, aberta a toda a comunidade, à excepção dos não iniciados e das mulheres em impureza menstrual. Em Angola, serve de fórum a praça aberta debaixo da mulemba, a árvore heráldica e tutelar das chefias bantus, que plantam cada vez que se inaugura uma nova chefia ou se estria uma povoação. O chefe eleito crava, diante de sua casa, várias estacas da mulemba ficus, dedicadas aos seus antepassados ilustres e como testemunho permanente da sua nobreza. Se alguma delas não pega, os antepassados não estão satisfeitos; tornam-se urgentes os sacrifícios propiciatórios de animais.

Costuma estar presente em muitos grupos, o «árbitro da justiça», «grande mestre em questão de direito», que no Nordeste angolano, se denomina «nganji». Intervém, não como conselheiro, mas como guarda legal do depósito jurídico comunitário. É um jurisconsulto, cuja sabedoria e prudência acumulam os códigos tradicionais.

Noutros ordálios fica inocente quem consegue extrair uma agulha do fundo de uma panela de água a ferver. Outras vezes, submetem-se à «prova da agulha»: se não sai sangue depois de picar a língua, o lóbulo da orelha ou as pálpebras, fica provada a sua inocência. Também é inocente quem consegue pisar com lentidão, várias vezes, as brasas, sem queimar os pés.
Mais perigosa, aterrorizante e frequente a prova do veneno, usada sobretudo para esclarecer a acusação de feitiçaria. Em muitas regiões de Angola denominam-se «mbambu». Só o adivinho conhece as propriedades altamente venenosas de certas plantas.

Parece que desfaz em pó a casca de uma árvore chamada, nessas regiões, mbambu, talvez o Erythrophleum guineense. Este composto é mortífero. Também se pensa que extraem veneno das raízes fervidas do estrofanto, da seiva de certos cactos, do suco de algumas euforbiáceas e de bílis dos emidossaúrios. São prodigiosos tanto o conhecimento que os adivinhos e curandeiros guardam sobre os venenos tão variados, como a prática pericial consumada que adquiriram para dosificá-los. «Conhecem com certeza diversos venenos pouco conhecidos fora do mundo especial dos toxicólogos competentes, e talvez tenham encontrado outros que a ciência nem sequer suspeita que existam. Entre os venenos, alguns produzem efeitos imediatos; outros ficam sem acção visível durante meses; outros ainda, causam sintomas idênticos a doenças bem conhecidas». «Observe-se que há 570 plantas africanas conhecidas pela ciência ocidental como venenosas de um modo ou outro. Sem dúvida os curandeiros e adivinhos conhecem muitas mais».
Nos ordálios, o adivinho mistura o veneno com água e obriga os presumíveis culpados a pegar numa colher de pó e a ingeri-lo com água. Devem tomá-lo em jejum. Passado pouco tempo, um dos acusados vomita com fortes convulsões; a sua inocência está provada. Outro morre. Embora a morte seja rápida, não deixa de ser horrorosa, porque chega entre convulsões e vómitos de sangue, com a boca cheia de espuma e os olhos injectados de sangue.

Imagem: imagensraras.pt

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