E encontramo-nos profundamente gratos ao Criador do Céu e da Terra, e ao nosso espectacular Politburo, mentor do céu e da terra angolana, por tamanha religiosidade, empenho nas ditosas leis que nos governam e orientam as nossas liberdades fundamentais, na feitura de exemplares leis que preservam, que apontam a claridade do caminhar da nossa gloriosa e eterna liberdade, de textos literários tão sublimes, da moderna concepção da liberdade:
Lei contra a Segurança de Estado:
Artigo 25º, dispõe: (Ultraje ao Estado, seus símbolos e órgãos)
1 – Quem, publicamente, em reunião ou mediante a difusão de palavras, imagens, escritos ou sons, ultrajar maldosamente a República de Angola. O Presidente da República ou qualquer outro órgão de soberania é punido com pena de prisão de 6 meses a 3 anos ou com a multa de 60 a 360 dias.
2 – Se o ultraje tiver por objecto a bandeira, as cores, a insígnia ou o hino da República, a pena de prisão é até 2 anos ou de multa até 240 dias.
3 – Se o ultraje for dirigido a membros da Assembleia Nacional, do Governo ou a magistrados, a pena de prisão é de 2 anos ou de multa até 240 dias, se a pena mais grave lhe não couber por força de outra disposição penal.
Lei dos Partidos Políticos, Artigo 38º
Incitamento à violência:
É punido nos termos da Lei Penal em vigor o dirigente ou activista de um partido político que por escrito, actos, gestos ou declaração pública, no exercício ou por causa do exercício das suas funções:
a) – Incitar à violência ou empregá-la contra a ordem constitucional e legal vigente;
b) Atentar contra a unidade nacional;
c) Fomentar o tribalismo, racismo, regionalismo ou qualquer forma de discriminação dos cidadãos;
d) Incitar à violência contra membros ou simpatizantes de algum partido ou ainda contra outros cidadãos.
Assim nos libertaram do colonialismo e outorgaram-nos a liberdade ainda revolucionária. Como é salutar manter a pureza férrea do Estado em que se encontra. E tudo se resume apenas a uma questão de conjuntura. Na verdade vos digo que ainda há muito lixo nas estrebarias reais por limpar. E que sobretudo ninguém respeita ninguém, na realidade impõem-nos a lei dos feudos. É esta a lei que falta decretar, porque na imposição deles, feudos, já vivemos. Outra vez no naufrágio da escravidão e dos caminhos de 35 anos emboscados nas ciladas aos sem futuro.
Pretender conduzir Angola e os angolanos movendo os ponteiros dos relógios para trás, para o passado esclavagista da repressão colonial é uma pura perda de tempo. Angola não é uma ilha, tem fronteiras vastas e a incapacidade de as gerir. Pois se nem energia eléctrica e água se consegue prover…
Ah sim! Silenciar ou liquidar todos os opositores… neste tempo já não dá. É pura loucura, uma aventura cheia de perigos porque já ninguém acredita numa palavra dos arautos, dos únicos defensores da actual conjuntura independentista. Compreendemos perfeitamente que o partido-estado-empresa pretenda manter o estatuto de única empresa em Angola e o povo passar, já está, a empregados sem remuneração nem direito a reclamar. Assim como naquele tempo das minas na América Latina em que os espanhóis obrigavam os autóctones a trabalharem até ao limite das suas forças… acabando na morte. E perdemos a soberania nacional para a China, para acontecer o Carnaval do desfecho cubano?!
Para os investimentos funcionarem devidamente é necessária estabilidade social permanente. Sou um sonhador inveterado: sonho sempre com o fim das ditaduras e que finalmente adquiri a liberdade. É por demais evidente: se o povo é idiota, elege idiotas para o governar. E depois da independência, da guerra e da paz, prometeram-nos que viveríamos felizes e no bem-estar. Afinal presentearam-nos a vida do horrível inferno. O Politburo está orgulhosamente só, porque tecla sempre que está tudo bem. Mas todos sabemos que está tudo muito mal. Uma democracia que é imposta pelo poder do petróleo só nos traz desgraça, fome e morte. Mas nós lutámos para libertar Angola, ou para a escravizar? A população não ganhou nada com isso. O lucro é outra opressão de irmão contra irmão. E quem se opor será catapultado como antes acontecia. Quem exigir e lutar pela sua liberdade, será, primeiro, taxado de terrorista, preso sob acusação de autor moral de qualquer coisa até apodrecer nas prisões. Segundo, os pelotões da morte estão preparados para dispararem, aniquilarem quem quer que seja. Mas que ironia: a história repete-se, os factos são idênticos, repetitivos. Os campos de concentração também dantes eram bairros indígenas, agora são ao ar livre.
Seculares potências unem forças. A ditadura sem nome e a cruz da Igreja são muito fiéis nas suas capelas. A luta agora deixou de ser contra um governo. É a luta pela sobrevivência, porque ele deixou de existir, é uma miragem. Já não o temos, é uma minagem no deserto da decadência. A luta resvala para o odiento refrão. Já foi de luta de vida ou de morte, agora é a saque, porque tudo eles nos espoliam. Até os baloiços juntos com as crianças se aniquilam como leões esfaimados à procura de algo humano que lhes sirva de sustento. Tudo vale, neste vale descampado sem lei, na mais desordenada desordem da ímpar lembrança da secular matança.
Há cada vez mais geradores nas traseiras dos prédios que trabalham dia e noite para alimentarem empresas, particulares, novos-ricos e agências bancárias que mais parecem funerárias, que suportam os especuladores imobiliários. Expelindo o fumo mortal como Auschwitz, tal e qual. É bom lembrar que toda a espoliação acontecida tem o monstro bancário que tudo faz para nos devorar. As nossas vidas para os bancos não têm qualquer valor. Daí o insistente morticínio que se faz presente, permanente. Angola não é de todos, é apenas de um pequeno grupo que nos usa e abusa como numa espécie de ferocidade. De feras insaciáveis na inconstante caça humana. Nos altares da religião os sacerdotes oram para que os rebanhos da população se mantenham. Porque à igreja interessa-lhe manter a actual conjuntura. Porque basta-lhe uma sobra de contentamento para a qual já fez o impávido juramento. Com a extinção dos rebanhos, sem continuação, a igreja findará. Sem rebanhos a igreja não sobreviverá. De modos que se torna incompreensível o abate das manadas humanas. Parece só existir uma explicação: a igreja está louca! Apoiando o opressor, a igreja oprime-se, flagela-se, perde-se no reino de Deus, leva a opressão para os céus. Abandonando as pobres ovelhas ao governo tresmalhado, mas fartamente abençoado. Há tempo para orar e para espoliar. Tempo para depositar nos bancos lavados os dinheiros sujos, e tempo para os levantar. Tempo para comissionar e tempo para corromper. Não há tempo para governar, só tempo para orar nos casebres que vão derrubar. O tempo da independência nunca aconteceu e tudo nela e com ela faleceu.
O poder está nas mãos de Deus e dos especuladores imobiliários e bancários.
Angola não é país, é um banco com muitos tentáculos que nos agarram e nos arrastam para a morte. Não surpreende que diariamente se montem as Parcas tendas dos campos de concentração, onde com má imitação nazi se imolam crianças nos altares de um deus desconhecido, bárbaro. O martírio do grande campo de concentração Angola, executa-se conforme as sagradas escrituras da nobre e digna civilização cristã. E diariamente se importam contentores com toneladas de deuses e demónios. E na mais horrenda devassidão, cada banco ordena, faz a sua lei, os bancos destroem-nos. O único negócio rentável para um banco é o imobiliário. Daí o arrasar casas e terrenos, na batalha campal em que Angola se transformou, e os bancos regozijam-se: «Estamos aqui para dominar Angola e o que sobra dos angolanos. Viva Angola, viva o generoso e heróico povo angolano. Um só povo, um só banco! Cada cidadão é e será uma agência bancária.» E se mais casebres houverem, lá os derrubaremos, lá permaneceremos. Nós, bancos, somos os vossos donos, os novos senhores dos sem futuro. Até o pensamento nos querem usurpar…
Os motores da igreja e da governação griparam. Aguardam por bons mecânicos que os reparem. Em Angola, cada caso é um campo de concentração ao acaso. Os bancos?! São os garimpeiros de Angola, quer queiramos quer não. Somos todos humildes servidores do vosso templo. E em Angola as empresas mais rentáveis, de lucros imediatos, são as das demolições.
Há governos que primam pela inutilidade do governar, agora acaba-se de chegar ao cúmulo de que destruir um país é governar. Angola é África, e como tal está em conflito permanente, porque há a pretensão da opressão e da espoliação das populações. É muita podridão e lixo. E não há nenhuma empresa especializada nestas imundícies que as consiga sanar. E com a dignidade de campo de concentração, o comité da especialidade de preços sobe-os à Luís XV, na preparação da revolução. Angola parece cair no governo clânico da Somália. Quando cada um na sua parcela governa como quer formando clãs, Angola decreta a incerteza.
Este é o tempo dos jovens nas festas do alcoolismo presente, mas sem futuro. Trocam muitas notas de cem dólares e perdem-se na bebida das noites. Não trabalham, então como, onde conseguem o dinheiro? Perdidos no reino da desilusão e da desunião, movem-se por aqui e por ali apenas com duas preocupações: aparelhagem sonora nos carros com barulho tão aterrador que os faz, não, já estão completamente loucos, e bebida como se fosse um alambique portátil. Todas as diabólicas noites nesta vida de apodrecer os corpos, eles sabem que vão morrer demasiado cedo. Estamos então na presença de um suicídio colectivo. Mas agora temos mais algo novo, atroz: as mulheres também embarcaram nesse canal alcoólico, e bebem, bebem, e perguntam nas outras com admiração: «Ah! mas tu não bebes?! É sem sombra de dúvidas uma nação afogada em álcool. E onde os sem futuro aparecem é a desgraça, ninguém dorme, não falam, berram. Abrem as portas dos carros e atiram para fora tal berreiro musical que naturalmente nos demonstra o que é o inferno. E não adianta ninguém aproximar-se deles para lhes falar, porque estão completamente possessos pela loucura, no estágio final do etanol. Depois os das motos já muito aprimorados na imitação de armas que disparam tiroteios dos escapes fazem, completam a equipa dos sem futuro.
Na rua da Liga Nacional Africana e imediações, polícia antiterror para perseguir pobres vendedores de rua?! Esta Angola cada vez surpreende mais pela negativa. Esta nossa polícia mudou de nome, para polícia do terror? Caminhamos para o eclipse total?! Um grupo de quatro polícias antiterror circula pelas ruas limítrofes à Liga… e destroem os bens dos aterrorizados que amaldiçoam o dia em que nasceram angolanos. De preferência pontapeiam e espezinham os produtos que os esfomeados conseguiram para vender, já que estão completamente excluídos dos bens petrolíferos e diamantíferos… não têm direito a nada. E que por exemplo, os agora grandes amigos de Angola, como a China, Aníbal Cavaco Silva, José Sócrates e comandita se pronunciem, com os apoios dos habituais discursos do doentio paternalismo. Somos os sem futuro porque os dias dos trinta e cinco anos continuam armazenados, acorrentados no pesadelo de 1975.