Já não há ninguém que lhes resista, já não há ninguém que lhes diga não.
Enfatizam-me amiúde que os negros são afamados porque não gostam de trabalhar, que são muito preguiçosos. Este mistério desta cabala é demasiado fácil de explicar: Não lhes dão trabalho e ademais espoliam-lhes os empregos, como é que querem, como é que eles hão-de gostar de trabalhar?!
E por isso mesmo, a revolução sempre presente, ensina-nos que reconstruir é demolir.
E o líder em plena campanha eleitoral aborda um eleitor: «Vai com toda a certeza votar em mim, não é?!» e o eleitor aterrorizado: «Sim, senhor presidente, mas por favor não mande mais demolir a minha casa!»
De uma coisa adquiri a certeza: este tempo está tão irreal, perdido num sonho, latente pesadelo onde me sinto como um viajante perdido no tempo. Custa-me acreditar na ferocidade do ser humano, é sem dúvida um facto incontestável o seu instinto tão destruidor. O destino do humano é a selvajaria.
Não desisti, jamais desistirei dos meus sonhos, eles fortalecem a minha alma. São a esperança da minha perseverança. Lutar é sonhar, é amar. Sem sonhos o amor perder-se-ia. Nascemos, vivemos na ânsia permanente de o encontrar, e encontrando-o não o perder. Não, não é e tudo o vento levou mas, e tudo o vento deixou.
Apesar destas noites cada vez mais intensamente turbulentas, ainda consigo escutar os seus silêncios.
Se tivéssemos coragem de expor todos os nossos sentimentos íntimos, decerto aconteceria uma revolução social. Os costumes nunca mais seriam os mesmos.
Vamos Demolir Angola
Sob o lema, Vamos Demolir Angola, o nosso glorioso Politburo com a desfaçatez que o caracteriza, encetou uma grandiosa campanha de requalificação de Angola em geral, e de deita abaixo tudo onde hajam seres humanos em particular. A viverem em pardieiros ou não, a que majestosamente as correntes mais conservadoras da eliminação física e moral ultrajaram com a introdução nos espoliados do petróleo do acervo… casebres.
Ora, os detentores dos lucros do petróleo habitam em luxuosos palácios, os que não têm acesso nem a um mililitro de petróleo vivem em casebres, mesmo que a sua habitação seja valorizada neste inferno da imolação imobiliária. Este ainda é o povo que não se pode aproximar destes novos senhores feudais. Este povo tem apenas o direito reservado de viver em campos de extermínio, as estrelas das noites que os contemplam têm muitas histórias de terror para narrarem, se entretanto o conseguirem porque da maneira que as coisas andam, nem imprensa teremos, também a vão demolir. O Politburo já conseguiu abolir a família angolana que simplesmente deixou de existir, demoliram-na.
Os bancos logo acorreram em massa esporeados pela angolanidade do lucro fácil, não trabalhoso, obrigados a sustentarem no seu capital social a inutilidade dos eternos habituais bajuladores e o apoio incondicional da Igreja do Deus local. Pudera, sem ela que seria de Angola?! E os bajuladores são os únicos que sabem governar, mais ninguém está habilitado para isso. Porque são detentores dos mais insignes diplomas passados pelas mais famosas universidades marxistas-leninistas.
O que dá trabalho, como a agricultura, que se dane. Bastam alguns pós de conversa: que daqui a alguns anos teremos os nossos campos inchados de produtos, e as nossas populações finalmente libertas da fome. E que o fim da miséria do nosso povo é uma batalha antecipadamente ganha, aliás como todas as outras, pelo nosso famosíssimo Politburo.
De imediato os bancos lançaram-se ao assalto da reconstrução nacional sob as ordens da divina chefia, com o lema: PARTIR, É DEMOLIR!
Antes era o inimigo principal que destruía as habitações com bombas, como se eles fossem os únicos que destruíram Angola. Agora em paz (?) na imprensa escrita, falada e muda, (censurada) somos informados a todo o momento que o bairro tal vai ser demolido, que o mercado tal vai ser demolido – é incrível notar que estes demolidores não constroem mercados municipais, é tudo para arrasar – que as casas da rua tal vão ser demolidas, que o campo de futebol vai dar mais um shoping, que a seguir todos os bairros também serão demolidos… só se houve falar de demolições. Parece que ainda ninguém notou que eles querem demolir integralmente a cidade (?) de Luanda para investirem na especulação imobiliária e a população desaparecer, varrerem-na do mapa?
E as crianças aprenderam uma brincadeira nova: o vamos brincar de demolir Angola! Também lhe podemos chamar muito adequadamente, República dos Tês, a saber: T1,T2.T3, e T4
A delinquência em Luanda tal como a corrupção, para acabar, antes que Angola se volatilize definitivamente, com esse ninho de cobras, há que começar por cima. Mas não, começa-se sempre por baixo, sempre ao contrário. Está quase, falta apenas um pouco para a sua total demolição. As chuvas actuais dão o mote, não há construções feitas a correr, logo atabalhoadas que as suportem. A questão é: como será o desenlace final de milhões de espoliados que aguardam o Juízo Final do ajuste de contas com os seus captores?
Até a Bíblia já profetizava que o Politburo tomaria o poder e com o apoio dos nossos bispos governaria eternamente Angola. E o Senhor abençoou, inspirou e conduziu Angola para um estado de direito, onde todos são iguais e gozam de todos os direitos conforme as leis divinas. E veio uma época de paz, de harmonia social e desenvolvimento sustentado sob o patrocínio do Altíssimo. E todos viveram felizes, muito longe do neocolonialismo e da escravidão. A água e a energia eléctrica jorravam como cascatas perenes. As famílias oravam incessantemente ao seu Senhor, e quando os seus pedidos não eram atendidos, devia-se a que não eram bem queridos aos olhos do Senhor. E lá vinha um sacerdote muito experimentado que elucidava que o pedido ao Altíssimo não fora convincente. E que deviam continuar as orações muito fervorosamente até dilacerarem os joelhos, porque a boa reza deve ser feita com o crente ajoelhado.
E devido ao trabalho incansável de Deus – Ele é como a nossa polícia, nunca dorme – o Vaticano foi industriado para beneficiar a paradisíaca Angola com dezoito santuários, porque o povo era tão temente, e de igual modo tão supersticioso – devido ao trabalho abnegado dos sacerdotes – e o petróleo ainda dava, jorrava e enchia barris até fartar vilanagem. E Angola e o seu povo foram irremediavelmente tomados, assaltados pelo seu Deus. E em cada canto e esquinas habituais somavam-se inumeráveis igrejas servidas por imensos séquitos sacerdotais. E o Senhor rejubilava porque o dízimo a prelatura sustentava. O povo bem estupidificado oferendava-lhes as suas poupanças e a sua pobreza de espírito. E o céu enriquecia-se com o maná da idiotice fácil. E o fausto sacerdotal enchia-se de tesouros terrenos, e os camelos abasteciam-no regularmente. Em nome de Deus tudo é possível. Mas a feitiçaria espreitava e os bancos também. E criminosos e aventureiros famosos pelas suas actividades acorreram em massa beneficiados pelo eterno poder civil assumido e tragicamente instituído. Proporcionava-se o enriquecimento fácil, lucros fraudulentos, logo astronómicos vindos do clero petrolífero. E logo, logo se iniciou a espoliação de tudo o que era autóctone, e nos paços episcopais as cartas pastorais obrigavam os fiéis a rezarem com força inaudita porque Deus estava muito zangado, e daí as calamidades que assolavam a bela, rica, apetecível, avidamente cobiçada Angola. E os púlpitos azafamados não tinham bolsos a medir perante tantas oferendas aos dignos representantes eleitos por Deus na terra de Angola. Tão analfabeta, de povo tão incauto, tão dócil, tão fácil de dominar e subjugar.
Os mosquitos são como as igrejas, quando entram já não saem. E tudo ficou, restou partidarizado, incrivelmente arruinado. E quando a aristocracia se recusa peremptoriamente sanar a miséria dos plebeus, a justiça popular triunfa.
E o Vaticano, cumprindo um sonho profético, enviou um cardeal tarefeiro a Angola na missão solene de mais uma graça – desgraça – divina: a santa prospecção do petróleo angolano. As vaticanas finanças do banco Vaticano urgem por remodelação. E conseguir uns barris de petróleo bem abastecidos made in Angola, o dinheiro novamente brilhará de intenso fulgor, de brilho matizado, barbaramente dourado, estigmatizado. E às novenas e procissões não bastarão os andores
E a luta de libertação libertava mais alguns poços de petróleo, e a energia eléctrica, a água e tudo o mais, oprimia-se, espoliava-se. E a arma secreta de qualquer governo para dominar os seus povos é o futebol.
O que é necessário percorrer para que as ditaduras não me persigam? É que cresci e vivi debaixo de uma, e ao longo da vida elas sucedem-me como tempestades violentas, daquelas aterradoras devidamente acompanhadas de perigosas faíscas da morte.
Já repararam com toda a certeza que Luanda – é Angola pois claro – destruíram-lhe todos os mercados construídos pela população. Bom, Luanda não tem mercados municipais porque os terrenos são utilizados para a próspera especulação imobiliária.
E o terror reinstalou-se sob o disfarce dos deuses dos bancos brancos
E selvaticamente gritaram-nos possessos: «vocês vão morrer intoxicados!» Como a injustiça funciona em força e os demónios voam sanguinolentos, resta-nos aguardar que a justiça prometida, tal como a liberdade nesta terra, retorne audaz porque assim como estamos a justiça popular não deve tardar, não vai faltar. Os crimes da actividade bancária inspiram a onda de assaltos da apátrida juventude espoliada, órfã de país.
Bancos Khmer chegados a Luanda e logo desatinados na louca correria ao ouro petrolífero. Catapultados de poder, espoliam terrenos nas traseiras dos prédios que são legalmente condomínios, têm dono. Instalam a anarquia de potentes geradores que nos assassinam com gases tóxicos e o barulho 24 sobre 24 horas. De portas e janelas fechadas porque o cancro espreita, são três crimes sempre na teimosia de que tudo em Luanda nasce impune. Poluição sonora, veneno ambiental e espoliação de terrenos. É assim que chumbado ao poder factura o Banco Millennium Angola, na rua Rei Katyavala 109, Luanda. Mas afinal ainda não descobriram quem são os selvagens?! Tudo parece a postos para tumultuar porque não dá mais para os aturar. A indemnização será muito choruda, as perdas e danos demasiam.
O reinventar da luta clandestina
As obras clandestinas continuam sob o olhar cúmplice da Nova Constituição e de El-rei. Este esconderijo clandestino afronta-nos porque a flagrante ilegalidade destas obras revela que só a destruição dos casebres é legal. Porque não praticam a demolição nas obras ilegais da nomenclatura?! Isto acontece já há pelo menos três anos nas traseiras da Pomobel, junto ao Largo Zé Pirão, em Luanda. Actualmente, brasileiros contrataram escravos chineses para gáudio da nomenclatura. São três prédios que estão a destruir. Até nas traseiras deles já funciona um estaleiro. Sempre em nome do livre-arbítrio, isto é, sem direito a indemnizações porque o estado de facto e de jure… rasgaram-no.
Convém salientar que para acabar com a criminalidade e a corrupção, é imperioso, fundamental, começarmos por cima. Enquanto tal não acontecer, os criminosos e os crimes jamais terminarão. Não haverá polícia que chegue. O elenco policial combate criminosos e não miseráveis ou esfomeados.
O futuro perdeu-se, foi-se, deixou de existir. Está tudo muito sombrio, incerto, sem saber o que vai acontecer. Nada de bom não será com certeza. Há a intenção obscura de destruir Angola?! Então que decretem a sua destruição.
Ó bendita República Popular das Demolições!
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