quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Os libertadores da independência perdida


As naus já perdiam o navegar e os libertadores seguiam pelos matos a desmatar, a desbravar a liberdade.

Com a ajuda das forças progressistas do mundo fizeram-se muitas promessas: que o nosso povo seria o mais feliz deste mundo e agora jaz no outro.
A independência chegou e de rompante os nossos corações conquistou.
E as promessas multiplicavam-se: que o nosso povo vive na miséria. Que vamos acabar com os musseques e reconstruir uma nova cidade, reconstruir tudo.

Não, não era uma libertação, era uma revolução. E para a apoiar, segurar, fazia-se mister imprescindível a implantação de outra GESTAPO, para prender tudo e todos os que não estivessem de acordo com as leis revolucionárias. E uma só religião, o ateísmo. Povo há quinhentos anos temente a Deus, assim tão de repetente dizem-lhe que Ele não existe, não dá mesmo. É uma atrapalhação e daí a tremenda confusão nas cabeças a abarrotarem de superstição na imolação socialista.

Às Testemunhas de Jeová que se recusavam a combater, a sua religião proíbe-o, utilizava-se o método da NKVD soviética: um tiro na cabeça. E a revolução prosseguia o seu caminho imparável no caminho incerto das conquistas revolucionárias… ao lado dos outros povos amantes da paz, da liberdade, do progresso e da justiça.

E revolucionou-se o comércio com a instituição das bichas, que comparado com o que hoje se passa, era uma bênção divina. Quem ousasse acrescentar algo que não se coadunasse com a pureza marxista-leninista, apelidava-se de contra-revolucionário, defensor da ideologia pequeno-burguesa, burguês… e lá ia mais um pobre diabo para a prisão do campo revolucionário da reeducação.

No fundo era uma concorrência desleal ao Tarrafal. A prisão de S. Paulo que deveria ser uma peça de museu, reabre-se em força no festejo de novas vítimas para os novos algozes, que sentem um prazer mórbido em torturar e aniquilar o semelhante. Trabalho não lhes faltava, era outra concorrência terrivelmente desleal aos campos de concentração nazis.

Sempre com a verborreia de que era necessário fazer a guerra para acabar com a guerra, destruíram a nação na acção libertadora de tantos libertadores. Antes iniciou-se a destruição sistemática de tudo o que era colonial. Todas as estruturas portuguesas condignas destruíram-se selvaticamente apenas porque foram os colonos que as construíram. Era importante acabar com todas as reminiscências ocidentais e conduzir o povo angolano rumo ao abismo dos SEM FUTURO.

E os libertadores da Pátria libertaram só para eles, para as suas famílias e os seus amigos, o petróleo e os diamantes. Para isso instituíram a corrupção e o uso e abuso do erário público. Porque era fundamental para combater o inimigo deter todos os bens nas mãos dos famosos libertadores E são sempre os mesmos revolucionários que nos governam, sempre com o mesmo dicionário. Mas, verdadeiramente Angola está no saque da vitória final e da vitória certa.

E os discursos paternalistas doentios de estadistas sucedem-se. Afinal não aprenderam nada sobre Angola. Na verdade não é possível sintonizar tal aleivosia:

Que interesse tem esta independência sem energia eléctrica, sem água, sem nada.
E agora já sabemos para onde vamos: para lado nenhum, isto é, na eterna procura da independência perdida. Somos apenas um povo constantemente perseguido por fiscais e congéneres que nos espoliam o que nos resta… a fome.




1 comentário:

Calcinhas de Luanda disse...

E tudo isso porquê? Porque ao contrário da história que o MPLA teima em escrever, nenhum dos movimentos angolanos derrotou militarmente os portugueses e seu exército.
Foram questões de carácter "sindical" que levaram à Revolução do 25 de Abril. Somando a isto o facto do MFA ter sido dominado por indivíduos ligados ao PCP (Partido Comunista Portugês), o Agostinho Nero também por lá andou, fez com que o poder em Angola fosse entregue ao MPLA pelos ditos elementos pró-Comunistas (isto é pro-URSS) do MFA. Quando o EME chegou a Luanda, para receber o poder dos seus irmãos ideológicos do MFA, viu espantado que dentro de Angola os seus simpatizante eram quase incontroláveis. Muitos até eram maoistas e mais pró-URSS do que o pessoal dirigente vindo do exterior. Lá veio a limpeza de Maio de 1977...
E depois, mostra a história de quase toda a África e mesmo de quase toda a América Latina, os pretensos libertadores apenas copiam os piores vícios, dos colonizadores. Trataram de encher os bolsos o melhor e mais eficientemente que puderam, e por isso hoje em dia constata-se, com espanto, que afinal a luta de libertação não passou de uma treta, para a grande maioria da população.
Enfim, nada que a história passada não nos tivesse já ensinado.
Isto é quase uma afirmação religiosa, "Por todos os séculos Ámen...".