sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Cavaco Silva e a sangria desatada


"...No futuro, o neo-colonialismo obedecerá a esquemas de Estados, subordinados a programas das multinacionais. A colonização portuguesa foi feita ao sabor do espírito aventureiro de um povo que se sentia mal-tratado na sua própria terra. O Estado só apareceu para estragar." In "Os colonos" de Antonio Trabulo

«Conquista da paz constitui bem maior do povo angolano – Cavaco Silva
A conquista da paz, em 4 de Abril de 2002, constitui o bem maior do povo angolano nos 35 anos de Independência, considerou o presidente português, Aníbal Cavaco Silva, em entrevista recente à Angop, em Lisboa.

http://www.rna.ao/canalA/noticias.cgi?ID=38578

Numa retrospectiva histórica, Cavaco Silva descreveu o percurso do país desde 11 de Novembro de 1975, destacando o marasmo em que foi levado, face ao conflito armado, o rápido crescimento económico e a assumpção políticodiplomática na arena internacional, oito anos depois do silenciar das armas.

Disse que os angolanos "agarram a paz" como ninguém. "Da última vez que estive em Angola falei com muitos políticos, e nenhum deles pensava em voltar à guerra, constituindo bom presságio para o país", argumentou.

"Temos de pensar que antes da paz, os angolanos passaram momentos de muita tristeza, mas olhando para o futuro vislumbra-se esperança e certeza na realização plena do seu povo", afirmou.

Cavaco Silva apontou que um longo caminho, contudo, se tem ainda por percorrer e, neste momento, "o Governo está muito certo ao olhar para a reconstrução do interior do país, apostar na educação e na saúde, em resumo, na valorização da vida e no respeito ao ser".

No capítulo da economia, reiterou que, apesar dos avanços inequívocos, deve-se fazer um esforço para a sua diversificação.

Por outro lado, reconheceu o papel, cada vez mais actuante e decisivo de Angola, na resolução dos problemas que afligem a humanidade, particularmente o seu engajamento na preservação da estabilidade na África Austral e Central.

"Este estatuto tem-lhe conferido autoridade e influência em África e no Mundo", expressou, ao referir-se à "placa giratória" em que Luanda se viu transformada, nos últimos tempos, com registo de movimento inusitado de personalidades de todos os quadrantes, além das representações nacionais em fóruns mundiais, como a participação do Presidente José Eduardo dos Santos na Cimeira do G-8, em Julho de 2009, na Itália.

Na entrevista, Aníbal Cavaco Silva garantiu que "Portugal estará ao lado de Angola nesta sua afirmação na arena internacional".»


«Sangria desatada
Na África, como em todo o mundo, a ação do capital estrangeiro gera sangria de divisas, e não enriquecimento. Inclusive quando a exploração imperialista traveste-se de “investimento produtivo”: Angola, segundo maior exportador africano de petróleo, enfrenta desequilíbrios em sua balança de pagamentos porque as transnacionais do setor importam os bens de produção que utilizam.

http://tudosobreangola.blogspot.com/search?q=discurso

A “solução” encontrada pelo imperialismo e pelas classes dirigentes compradoras é a mais cruel possível: incremento da exploração do campesinato. A produção agropecuária é cada vez mais direcionada à exportação visando cobrir défices. E aqui se desfaz outra idéia falsa sobre a África: o continente da fome exporta alimentos. A paupérrima Burkina Faso fornece açúcar à França, a faminta Etiópia produz carne para o mercado inglês. É verdade que os países africanos também importam comida – ou recebem-na dos EUA e da Europa em programas de “ajuda humanitária” que não passam de dumping contra os produtores locais. Mas só importam porque exportam: como toda sua produção é voltada ao mercado externo, faltam alimentos para seus habitantes. É exatamente por isso que um dos itens da pauta de reivindicações da greve geral que parou a Guiné em janeiro era a suspensão das exportações de gêneros de primeira necessidade.
Mais uma vez, o imperialismo lucra com falsas soluções para problemas que ele mesmo criou: recentemente, as fundações Gates e Rockefeller anunciaram um programa de modernização da agricultura africana à base de pacotes tecnológicos da chamada “revolução verde”: pesticidas, sementes trasngênicas, etc.
De acordo com Eric Holt-Gimenez, Miguel Altieri y Peter Rosset [1] , pesquisadores da Universidade de Berkeley (EUA) e militantes do movimento Food First, o programa funcionaria como um instrumento de expropriação dos camponeses: obrigados a envididar-se para fazer frente aos custos desses pacotes, grande parte deles terminaria por perder a terra.
Mas os povos lutam
À medida que se aprofunda a exploração, avoluma-se também a resistência.
Em novembro último, a população de Abdijã, capital da Costa do Marfim, acorreu em massa a protestar contra a intromissão da França nos assuntos do país. O Exército francês disparou contra os manifestantes, matando 64 civis.
Na Nigéria, maior exportador de petróleo do continente e responsável por 10% do fornecimento aos EUA, o monopólio anglo-holandês Shell viu-se forçado, nos últimos meses, a evacuar instalações e suspender a prospecção depois que algumas de suas áreas foram tomadas por camponeses armados.
No Senegal, os ferroviários estão na linha de frente da luta contra a desnacionalização da economia e deflagraram uma greve contra a privatização da linha Dacar-Níger. Mas onde o movimento sindical se mostra mais forte é na Guiné: a greve geral de janeiro arrancou da gerência do Estado a redução do preço do arroz e dos combustíveis e a suspensão das exportações de gêneros de primeira necessidade.»

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