sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Os mesmos promotores da democracia recebendo com “tapete vermelho” declarados ditadores só porque aparentemente seus países possuem petróleo ou urânio


Canal de Opinião: por Noé Nhantumbo
O QUE NÃO NOS DIZEM É QUE É A VERDADE

Contornos de uma cooperação internacional que só brilha mas não produz…

A aventura Norte-Sul e a Sul-Sul desaponta…

Beira (Canalmoz) - Quando alguém nos meandros governamentais se esconde atrás de conceitos de política externa que denotam vontade de esconder e impedir que os cidadãos conheçam a verdade do que nossos diplomatas fazem, há que parar e prestar muita atenção. A política externa e os seus resultados são constantemente referidos como áreas de interesse estratégico de acesso restrito a gente classificada.
Não há como não aceitar que segredos existem e que sejam para respeitar para o bem das nações e de seus governos. Mas há que ter muitas cautelas com o que frequentemente nos vendem como se fosse de interesse estratégico. A julgar pelo que depois é anunciado como acordos bilaterais só se pode compreender que muitas das considerações catalogadas de estratégicas não passam de subterfúgios para salvaguardar interesses comerciais, empresariais específicos, de corporações bem identificadas.
O que nos dizem que são agendas de interesse nacional é manifestamente contrário a tal interesse.
Aquele frenesim que caracteriza as visitas de Estado e outras de altos dignitários estrangeiros a países como Moçambique revela em toda a linha a estrutura da cooperação entre países neste mundo cada vez mais globalizado. De conceito a prática implementada por governos de todas as latitudes a globalização reveste-se de uma importância que importa jamais ignorar. Há quem diga que globalização é sinónimo de neo-colonialismo. Há sem dúvida quem “veja diabos onde só há santos”.
Mas convém que os governantes moçambicanos tenham atenção e aprendam com experiências de cooperação internacional que resultaram em fiascos e em vantagens unilaterais para os parceiros externos e quase nada para os receptores da suposta ajuda.
Os corredores da diplomacia internacional estão cheios de casos de ingerência camuflada nos assuntos internos de outros países.
Embora seja de reconhecer que certas decisões tomadas no âmbito da cooperação internacional são de justificação plausível e de aceitar porque concorrem para a estabilidade internacional e desenvolvimento económico multilateral, outras há que merecem todo o questionamento porque se afiguram visando promover interesses obscuros. Por exemplo o Processo de Kimberley nos diamantes tem concorrido para que este mineral deixe de ser parte ou razão para guerras pelo recurso em África e no mundo. Embora se possa afirmar e defender que alguns governos ocidentais querem utilizar este artifício para pressionar o governo de Mugabe e nesse sentido promover a sua agenda neste país, há ganhos evidentes de todo naquele processo. Mas existem situações por esta África fora em que vemos os mesmos promotores da democracia recebendo com “tapete vermelho” declarados ditadores só porque aparentemente seus países possuem petróleo ou urânio.
Os golpes de Estado que se sucedem na África Ocidental francófona poucos reparos têm merecido de Paris e de outros governos de potências ocidentais. Criticam a China quando aparece oferecendo uma ajuda sem linkage a certos países africanos na mira de encontrar acesso a matérias-primas facilitado, mas não se lembram do que fizeram no passado para suportar senhores como Mobutu Sesse Sekou ou Bokassa. Esquecem-se de que Mugabe há bem pouco tempo era um menino bonito nos corredores de Londres. Hoje hostilizado e sob sanções justificam isso como resultado de uma política de reforma agrária que não foi consensual. Sabe-se que parte das terras retiradas do controlo dos agricultores brancos de origem britânica mas por direito zimbabweanos, foram logo açambarcadas pela nomenclatura local e que na maioria delas já não se produz aquilo que um dia fez do Zimbabwe um dos celeiros de África.
Há muitos “gatos escondidos” na agenda de quem é efectivamente potência neste mundo e os governos fracos de países empobrecidos por políticas de desfasadas em África.
Há que referir que entre a maioria dos governantes africanos o poder é largamente utilizado para a concretização de agendas pessoais e está de modo a satisfazer elites geralmente parasitas e com comportamento de autênticas aves de rapina. É entregar o dossier da cooperação nas mãos de quem sabemos que são se tem revelado fatal para as aspirações dos povos africanos. Negoceiam ao desbarato com os recursos naturais dos países e não hesitam em aceitar contrapartidas sem qualquer lógica nem cabimento. Proliferam iniciativas apresentadas como projectos de grande envergadura que benefícios para seus países pouco trazem. Os seus mentores e parceiros internacionais gabam-se de grandes lucros e de facto colhem benefícios chorudos com os seus negócios em África.
Não se pode negar a interdependência existente e que une países e povos mas não se pode continuar a aceitar situações em que prevalecem vantagens unilaterais dos poderosos e “amendoins” para os “coitadinhos africanos”. Os africanos não são cidadãos de “segunda classe” a que se pode enganar com facilidade e sujeitar a termos de troca discriminatórios. Se seus governantes optam muitas vezes pela via infame da corrupção do roubo descarado do erário público de seus países isso não significa que os povos sejam do mesmo calibre daquela gente. Há mais África para além dos corruptos. (Noé Nhantumbo)

2010-11-12 06:05:00
Imagem: casadasafricas.org.br

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