Não há como negar: temos o primeiro-ministro
mais aldrabão, incompetente, irresponsável e perigoso de sempre (desde que há
eleições livres, bem entendido).
por FERNANDA
CÂNCIO http://www.dn.pt
Vejamos as suas últimas declarações sobre as
pensões: um chorrilho de inexatidões, mentiras e acinte. Diz Passos que a
denominada "contribuição especial de solidariedade" (CES) é pedida
aos que recebem "pensões muito altas". Exime-se, desde logo, de
explicitar que para ele as "pensões muito altas" começam nos 1350
euros - primeira aldrabice. E prossegue: esse "contributo especial" é
devido por quem recebe essas pensões "por não ter descontado na
proporção", quando "hoje os que estão a fazer os seus descontos terão
a sua reforma como se esta fosse capitalizada - tendo em conta todos os
descontos". Refere-se ao facto de as regras de cálculo terem mudado em
2007, com o primeiro Governo Sócrates (e uma lei aprovada apenas com votos do
PS), quando antes se referiam aos melhores dez dos últimos 15 anos ou mesmo ao
derradeiro ordenado.
Sucede que, ao contrário do que esta conversa
dá a entender, a dita "solidariedade" imposta às pensões a partir de
1350 euros vai direitinha, como aliás esta semana o insuspeito Bagão Félix
frisou no Público, para o buraco do défice. Não vai para a Segurança Social e
portanto não serve para "ajudar" nas pensões futuras - segunda
aldrabice. E se as pensões "mais altas" não foram calculadas com base
na totalidade dos descontos, as mais baixas também não - aliás, as pensões ditas
"mínimas" referem-se a carreiras contributivas diminutas. Pela ordem
de ideias de Passos os seus beneficiários têm o que merecem: pensões baixas por
terem descontado pouco. Mas faz questão de repetir que lhas aumentou em 1,1%,
dando a entender que a CES serve para tal (terceira aldrabice), enquanto a
verdade é que o faz com o corte do Complemento Solidário para Idosos. Ora se
nem todos os que recebem pensões mínimas são pobres, o CSI, fulcral na
diminuição da pobreza dos idosos nos últimos anos, foi criado para somar às
pensões muito baixas de quem não tem outros meios de subsistência. E é aí que
Passos tira, com o desplante de afirmar que é tudo "em nome da justiça
social" (esta aldrabice vale por cem).
Mas a maior aldrabice, implícita em todo este
discurso, é de que a Segurança Social é já deficitária e urgem medidas hoje.
Citando de novo Bagão, "o Regime Previdencial da SS, além de
constitucionalmente autónomo, até é superavitário (mais receita da TSU do que
as pensões e outras prestações de base contributiva)! E tem sido este regime a
esbater o défice do Estado e não o inverso, como, incrivelmente, se tem querido
passar para a opinião pública".
Sim, Bagão está a falar do seu camarada de
partido, Mota Soares, e a chamar-lhe mentiroso. Incrivelmente? Não: devíamos
estar todos a repetir o mesmo, todos os dias, em todo o lado, até que este
pesadelo acabe. E possamos, finalmente, discutir estas coisas tão sérias com
seriedade.
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