Gás
lacrimogéneo, porradas com porretes, várias detenções arbitrárias e
relatos de tiroteios orquestrados pela polícia anti-terror (anti-motim), foram
o saldo da manifestação realizada hoje pela juventude angolana e que visava a
exigência da liberdade incondicional de dois cidadãos desaparecidos a 7 meses.
A
manifestação pacífica organizada pelo conhecido Movimento Revolucionário
juvenil, na tentativa de reivindicar a liberdade de Isaías Cassule e Álves
Kamulingue desaparecidos aos 27 e 29 de Maio deste ano, sofreu uma forte
repreensão por parte das autoridades angolana.
Horas
antes da concentração do acto, um jovem activista identificado por Alex, foi
supostamente sequestrado quando se dirigia ao local e a notícia espalhou-se
rapidamente entre os activistas.
Em
Luanda, a marcha partiu do Largo da Independência, no 1º de Maio, e pretendia
terminar no Ministério da Justiça na Maianga mas que todos os acessos ao mesmo
local foram bloqueados e os manifestantes interceptados na rua Marian Ngoubi
pela polícia anti-motim.
“A
manifestação chegou até ao Largo da Maianga sem nenhum incidente e sem
acompanhamento policial, para encontrar um cordão de anti-motins. A polícia
tentou encetar diálogo connosco, mas havia no nosso seio pessoas infiltradas
com intuito de provocar o confronto. Não se tentou muito para apaziguar os
ânimos e começou-se logo a disparar essas bombas de gás. Os manos estão todos
tontos neste momento,” relatou Central Angola, o site de informação do
movimento juvenil.
Na
rua Marian Ngoubi, a polícia dispersou os manifestantes com uso de força
excessiva com porretes, detenções e gás lacrimogénio que resultou em desmaios.
Há
relatos de várias detenções e desaparecimentos de jovens activistas e
trausentes mas até ao momento conseguiu-se identificar nomes como: Hugo
Kalumbo, Alemão “o monstro imortal”, Zita, Marcelina Costa, Chakussanga,
Mateus, aparentemente detidos na 4ª Esquadra, e outros não identificados que
foram levados à 5ª Esquadra.
Na
sequência das detenções, o Secretário Geral do partido político Bloco
Democrático (BD), Filomeno Vieira Lopes, exigiu em nome do seu partido, a
liberdade dos jovens manifestantes.
“O
Bloco Democrático protesta veemente contra a ofensiva policial brutal contra os
manifestantes duma marcha legal e do conhecimento de toda a estrutura
governativa. Exige a libertação imediata de Hugo, detido em estado de inanimidade,
devido ao excesso de gás lacrimogéneo que inalou. Apenas por mera casualidade
os dirigentes do Bloco Democrático presentes, Luis Nascimento, Alfredo Baruba e
Américo Vaz, não sofreram agressões crueis, tendo que se refugiar em sítio
seguro. O regime mostra mais uma vez estar muito distante da convivência
democrática,” disse Lopes.
Na
mesma senda, um membro da UNITA, o maior partido da oposição, Adriano Sapiñala
disse: “a ditadura angolana precisa de ser parada. Não nos podemos permitir
mais que Angola e os Angolanos andem ao sabor de JES quando o resto de
Angolanos são tratados feitos animais. Infelizmente JES não tem conseguido
fazer a leitura dos sinais dos tempos e isso poderá condiciona-lo a ter um
final muito trágico. Os Angolanos de hoje não são mais os de 1977 nem 1992,
hoje a consciencia dos Angolanos amadureceu e não se deixarão bater mais por
muito tempo. O tempo das ditaduras acabou pelo que não será está de Angola que
perdurará por muito mais”.
Este
tratamento agressivo de jovens manifestantes por parte do regime angolano,
surgiu dois dias depois que 6 jovens membros do movimento juvenil e dois
familiares dos desaparecidos, formalmente tiveram um encontro com
representantes do governo angolano, que official e abertamente abriram um
processo de inquérito sobre os desaparecimentos, apesar das autoridades negarem
conhecimento do caso e do paradeiro dos desaparecidos.
No
que foi conotado como tentiva de prevenção da realização da manifestação convocada,
o diálogo com a juventude foi encabeçada pelo Ministro do Interior, Ângelo
Tavares, e contou com a presença do adjunto do Procurador Geral da República,
Arcanjo Custódio, o Comandante Geral da Polícia Nacional, Ambrósio de Lemos, o
Director Nacional de Investigação Criminal (DNIC), Eugénio Pedro Alexandre, e o
Secretário do Estado para a Juventude, Nhanga Assunção. No encontro, o Ministro
do Interior sublinhou “não ter a mínima intenção de coartar os (…) direitos
(dos jovens)” mas avisou que tem “inteligência que haverá infiltrados na
manifestação para denegrir a nobre causa e tirar daí dividendos políticos” e
ameaçou que “se houver comportamentos irregulares e à revelia da lei, a polícia
terá de intervir para repor a ordem e a tranquilidade”.
No
encontro da juventude manifestante com a polícia anti-terror na rua Marian
Ngoubi, houve dois jovens que foram vistos a atirarem pedras aos agentes da
polícia e aos carros estacionados na via, e o movimento juvenil respondeu sobre
o incidente:
“Estamos
convictos que os dois jovens que decidiram pegar em pedras para confrontar a
polícia anti-motim, fazem parte dos tais que o Ministro Ângelo Tavares
mencionou como ‘infiltrados para tirar dividendos políticos’. A questão agora é
quem beneficia mais com a generalização da imagem de manifestantes
‘confusionistas’? Serão os partidos da oposição que poderão acusar o regime de
repressivo incorrigível, ou o regime que pode continuar a mostrar que os jovens
não conseguem que se lhes dê a mão, querem logo o braço? Uma coisa é certa, os
únicos que não beneficiam NADA são os manifestantes, por isso não haveríamos de
infiltrar ninguém com intuito de subverter aquilo que professamos”.
Ao
ser contactado por um jovem activista de nome Mauro Smith, o Comandante Geral da
Polícia Nacional, Ambrósio de Lemos, manifestou-se “surpreso” com o relato do
jovem, quando este lhe contou o que se tinha passado.
Lemos
prometeu indagação imediata e resolver o que fosse possível.
A
manifestação para a liberdade de Kamulingue e Cassule, que também pretendia
recolher donativos de natal para as famílias dos dois, terminou em mais
desaparecimentos e detenções, cujo desfecho somente os próximos dias dirão em
plena quadra festiva.
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