sábado, 22 de dezembro de 2012

Regime angolano volta a brutalizar jovens manifestantes em Luanda. Por: Pedrowski Teca.-Facebook


Gás lacrimogéneo, porradas com porretes, várias detenções arbitrárias e relatos de tiroteios orquestrados pela polícia anti-terror (anti-motim), foram o saldo da manifestação realizada hoje pela juventude angolana e que visava a exigência da liberdade incondicional de dois cidadãos desaparecidos a 7 meses.
A manifestação pacífica organizada pelo conhecido Movimento Revolucionário juvenil, na tentativa de reivindicar a liberdade de Isaías Cassule e Álves Kamulingue desaparecidos aos 27 e 29 de Maio deste ano, sofreu uma forte repreensão por parte das autoridades angolana.
 Horas antes da concentração do acto, um jovem activista identificado por Alex, foi supostamente sequestrado quando se dirigia ao local e a notícia espalhou-se rapidamente entre os activistas.
 Em Luanda, a marcha partiu do Largo da Independência, no 1º de Maio, e pretendia terminar no Ministério da Justiça na Maianga mas que todos os acessos ao mesmo local foram bloqueados e os manifestantes interceptados na rua Marian Ngoubi pela polícia anti-motim.
 “A manifestação chegou até ao Largo da Maianga sem nenhum incidente e sem acompanhamento policial, para encontrar um cordão de anti-motins. A polícia tentou encetar diálogo connosco, mas havia no nosso seio pessoas infiltradas com intuito de provocar o confronto. Não se tentou muito para apaziguar os ânimos e começou-se logo a disparar essas bombas de gás. Os manos estão todos tontos neste momento,” relatou Central Angola, o site de informação do movimento juvenil.
 Na rua Marian Ngoubi, a polícia dispersou os manifestantes com uso de força excessiva com porretes, detenções e gás lacrimogénio que resultou em desmaios.
 Há relatos de várias detenções e desaparecimentos de jovens activistas e trausentes mas até ao momento conseguiu-se identificar nomes como: Hugo Kalumbo, Alemão “o monstro imortal”, Zita, Marcelina Costa, Chakussanga, Mateus, aparentemente detidos na 4ª Esquadra, e outros não identificados que foram levados à 5ª Esquadra.
 Na sequência das detenções, o Secretário Geral do partido político Bloco Democrático (BD), Filomeno Vieira Lopes, exigiu em nome do seu partido, a liberdade dos jovens manifestantes.
 “O Bloco Democrático protesta veemente contra a ofensiva policial brutal contra os manifestantes duma marcha legal e do conhecimento de toda a estrutura governativa. Exige a libertação imediata de Hugo, detido em estado de inanimidade, devido ao excesso de gás lacrimogéneo que inalou. Apenas por mera casualidade os dirigentes do Bloco Democrático presentes, Luis Nascimento, Alfredo Baruba e Américo Vaz, não sofreram agressões crueis, tendo que se refugiar em sítio seguro. O regime mostra mais uma vez estar muito distante da convivência democrática,” disse Lopes.
 Na mesma senda, um membro da UNITA, o maior partido da oposição, Adriano Sapiñala disse: “a ditadura angolana precisa de ser parada. Não nos podemos permitir mais que Angola e os Angolanos andem ao sabor de JES quando o resto de Angolanos são tratados feitos animais. Infelizmente JES não tem conseguido fazer a leitura dos sinais dos tempos e isso poderá condiciona-lo a ter um final muito trágico. Os Angolanos de hoje não são mais os de 1977 nem 1992, hoje a consciencia dos Angolanos amadureceu e não se deixarão bater mais por muito tempo. O tempo das ditaduras acabou pelo que não será está de Angola que perdurará por muito mais”. 
 Este tratamento agressivo de jovens manifestantes por parte do regime angolano, surgiu dois dias depois que 6 jovens membros do movimento juvenil e dois familiares dos desaparecidos, formalmente tiveram um encontro com representantes do governo angolano, que official e abertamente abriram um processo de inquérito sobre os desaparecimentos, apesar das autoridades negarem conhecimento do caso e do paradeiro dos desaparecidos.
 No que foi conotado como tentiva de prevenção da realização da manifestação convocada, o diálogo com a juventude foi encabeçada pelo Ministro do Interior, Ângelo Tavares, e contou com a presença do adjunto do Procurador Geral da República, Arcanjo Custódio, o Comandante Geral da Polícia Nacional, Ambrósio de Lemos, o Director Nacional de Investigação Criminal (DNIC), Eugénio Pedro Alexandre, e o Secretário do Estado para a Juventude, Nhanga Assunção. No encontro, o Ministro do Interior sublinhou “não ter a mínima intenção de coartar os (…) direitos (dos jovens)” mas avisou que tem “inteligência que haverá infiltrados na manifestação para denegrir a nobre causa e tirar daí dividendos políticos” e ameaçou que “se houver comportamentos irregulares e à revelia da lei, a polícia terá de intervir para repor a ordem e a tranquilidade”.
 No encontro da juventude manifestante com a polícia anti-terror na rua Marian Ngoubi, houve dois jovens que foram vistos a atirarem pedras aos agentes da polícia e aos carros estacionados na via, e o movimento juvenil respondeu sobre o incidente:
 “Estamos convictos que os dois jovens que decidiram pegar em pedras para confrontar a polícia anti-motim, fazem parte dos tais que o Ministro Ângelo Tavares mencionou como ‘infiltrados para tirar dividendos políticos’. A questão agora é quem beneficia mais com a generalização da imagem de manifestantes ‘confusionistas’? Serão os partidos da oposição que poderão acusar o regime de repressivo incorrigível, ou o regime que pode continuar a mostrar que os jovens não conseguem que se lhes dê a mão, querem logo o braço? Uma coisa é certa, os únicos que não beneficiam NADA são os manifestantes, por isso não haveríamos de infiltrar ninguém com intuito de subverter aquilo que professamos”.
 Ao ser contactado por um jovem activista de nome Mauro Smith, o Comandante Geral da Polícia Nacional, Ambrósio de Lemos, manifestou-se “surpreso” com o relato do jovem, quando este lhe contou o que se tinha passado.
 Lemos prometeu indagação imediata e resolver o que fosse possível. 
 A manifestação para a liberdade de Kamulingue e Cassule, que também pretendia recolher donativos de natal para as famílias dos dois, terminou em mais desaparecimentos e detenções, cujo desfecho somente os próximos dias dirão em plena quadra festiva.


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