quinta-feira, 1 de abril de 2010

ANJOS E LUBANGO (fim)


E Lubango sente-se como o cidadão vitimado pelos constantes assaltos da juventude, que aldrabada pelas promessas de uma má vida melhor, arrasam os outros que ainda conseguem trabalhar, porque os libertadores jazem incólumes na protecção de milhares de seguranças e polícias especiais. Porque quem governa vive numa insegurança total e completa.
- Ah! Não vou ficar aqui toda a vida a olhar para a noite. Os demolidores deixaram cair este CD portátil. Vou kizombar, rasgar uns bons nices bocados, xinguilar não adianta. Lembro-me que os colonos meus amigos quando fugiram, preveniram-me que não valia a pena trabalhar na terra, porque depois de estar bem recheada com a frutada, apareceriam eles que a espoliariam. Os da nomenclatura não gostam de trabalhar, para quê, existindo tanta pobre gente à mão de semear que tão facilmente se podem espoliar. Não lhes liguei, agora dou-lhes toda a razão. Fui e continuarei assim sempre muito parvo (?). Pedir um empréstimo bancário (?!). É desistir! Só se for para importar cerveja. Os bancos não arriscam fazer empréstimos a médio prazo, quanto mais a longo. Também, com o piano deles sem teclas, sem sistema. É fácil ludibriar analfabetos, essa do sem sistema é a melhor invenção bancária para não deixar sair dinheiro. Sempre sem sistema para pagamentos mas para recebimentos funciona muito bem, sim senhor! Consideram que investir na agricultura não lhes dá lucros, que é uma pura perda de tempo. Porque quando chegam as chuvas as culturas destroem-se. Depois há que fazer novo empréstimo. O lucro tem que ser imediato, caso contrário… não deixam nada.

E Lubango, de contentamento pela miséria oferecida pelo seu MPLA, ainda crê que é um dom divino o seu MPLA governar-se, do seu sol, da sua terra, da sua miserável vida. E reza para que o seu comandante dos comandantes tenha longa vida. Mas o seu estômago desperta e aqui se vê a verdade das verdades.
- Sinto-me muito cansado e com fome. Nem sei onde dormitar… não me deixaram uma só tenda, mesmo que rasgada já me safava. Disseram-me que depois iria morar algures aí para algum estendal, tendal… vou apanhar um bocado de capim e fazer um casebre. Esses do MPLA nascem e querem tudo só para eles. Nascem infectados com a doença do dinheiro. Bom, vou ver se consigo vender alguma coisa na rua. Espero que os fiscais não apareçam, porque a sua missão é também espoliar-nos. Que grande merda esta, nem ao menos um Robin dos Bosques temos para nos defender. Ou carregar sacos às costas, ou vender água fresca para viver. Arranjar uns papelões para dormir… tenho que desenrascar-me. O MPLA disse que não me abandonaria, mas já estou de saco cheio dessa conversa. Os leigos da oposição é que não. O MPLA goza-os de tal maneira que interiormente rio-me tanto, tanto, que acabo por confessar que assim não dá… deixa-os andar até abrirem os olhos, se o conseguirem. E os seus conselheiros dão-lhes maus conselhos e só aparecem onde há dinheiro à vista. Os príncipes estão muito ocupados com os seus negócios, vivem num mundo distante. O reino é deles, por isso vivem-no e repartem-no. Além disso nada mais existe. Fazem por parecer cultos, mas estão tão ocultos… como se não existissem. Não gostam que os perturbem, a não ser que lhes levem um bom negócio. Eles são a lei e nela repousam, e tudo mais que os contrarie ilegaliza-se. Ninguém é capaz de os abordar, pois o seu poder é imenso. É um MPLA imperador. Aqui não há peixes pequenos, só grandes tubarões. E quem lá entrar jamais sai, é que não existe porta das traseiras. Porque têm um cemitério particular muito mal iluminado, para que não se possam ver as inscrições das lápides. As amarguras dos miseráveis nunca são escutadas, mas os latidos dos cães escutam-se com muita atenção.

E Lubango lembrou-se que o mais cansativo, o que cansa mesmo de verdade é a mais pura fome e a espoliação.
- Cavar, cavar de dia e de noite à procura de diamantes que depois de encontrados se ocultam. As minas são propriedade real do MPLA, disso ninguém duvida. Dançam, pulam, pululam de contentes porque já não há espaço nos cofres para colocarem as riquezas. Para viver neste reino é necessário matar, vigarizar e espoliar. São estas as leis que funcionam. Quem não as cumprir não lhes sobrevive. Só o oculto permanece e não se pode desvendar. Tudo se lhes permite para obterem o pão. Às populações, além da espoliação, os porretes e os camartelos, isto é que é o seu pão. Os milhões de esfomeados em vão suspiram ao governo dos desgovernados. Nada temem e nada receiam, porque os seus exércitos não dormem, estão sempre de atalaia e reforçados no Orçamento Geral do Estado. Ai dos prevaricadores! Apesar disso não dormem descansados. Vivem na perturbação constante de um levante, porque duas malditas rádios e semanários democráticos atiram tudo para fora, não deixam passar nada. E como vingança acusam-nos de democratas malvados, de maldita democracia que denuncia constantemente os corruptos. É por isso que eles não gostam dos democratas e, claro, da democracia.

O Especular Imobiliário do MPLA foi em auxílio do seu vassalo, e disse ao Lubango:
- Não sei se aguentas o que te vou dizer, mas digo-te algumas verdades. Comeste e bebeste com muitos. Emprestastes o teu dinheiro e agora não te querem saber. Só mesmo um Lubango!.. edificaram empresas com o teu dinheiro… ajudaste muita gente?! Pareces o Lubango bíblico. Nunca vi nem conheci um idiota como tu. E alguns ainda aparecem e levam algumas bananas que por milagre se salvaram. Quem te mandou confiar no MPLA? Milhões confiaram nele e vê como estão. A morrerem à fome!.. o MPLA disse que tens que esperar mais trinta, cinquenta anos para saíres da miséria… e que depois de morto ressuscitará e virá salvar-nos uma vez mais do imperialismo internacional. Morto ou vivo nunca desiste da espoliação petrolífera e diamantífera. É aqui que está a continuação da nossa luta… percebes meu parvalhão?!

Entretanto o Especulador Imobiliário deu parecer aos arquitectos e engenheiros portugueses, brasileiros e chineses que construíam um bruto condomínio, brutas torres e prédios nas terras que já não eram do Lubango. Serviriam também para alegrar, para lazer da nobreza do MPLA. Para passarem brutos fins-de-semana na fuga da agitação da cidade demolida, da barulheira e da anarquia dos desempregados esfomeados sem lei.

Perto, algumas cobras oposicionistas, descontentes, rastejavam à procura de local mais aprazível para respirarem. Sentiam-se, estavam de facto e de jure deslocadas nas suas próprias tocas. Iam bem fodidas. O Especulador Imobiliário continua a desvendar os males do mundo ao grande idiota Lubango.
- A questão fundamental da vida é a utilidade pública, esta grande descoberta de todos os tempos. A maldita invenção que os homens fizeram – o dinheiro –. Porra meu! Acorda pá! Já viste a quanto está o metro quadrado de terreno... 2.500.00 dólares! Uma colossal fortuna. Ó Lubango, não sei se tás a ver como se ganha dinheiro sem trabalhar! Aqui não há população, o que manda é o dólar. A negralhada que se lixe… que morram prá aí! Puta que os pariu!!! O dinheiro dá muita satisfação a quem o possui e que nunca se satisfaz, quer sempre mais e mais. Fica obcecado… como uma ideia fixa… torna-se numa doença. A pessoa deixa de ser humana, vira uma desumanidade ilimitada. É o vale-tudo. Daí não desmagnetiza o seu pensamento. No fim vem a loucura, a neurose a necessitar de urgente tratamento psiquiátrico. Provoca guerras para obter mais e mais até à destruição do Lubango, de Angola, do Planeta… da Humanidade. Provoca uma grave contradição: O dinheiro resolve muitos problemas, mas quanto mais abundante mais problemas trás. É isto a origem da maldade.

O Especulador Imobiliário vai ao seu Hummer acabadinho de importar com o dinheiro do petróleo do povo. Retira-lhe a caixa térmica, abre-a. Diminui-lhe uma garrafa geladíssima de Dom Perignon com cinco anos de idade. Convida o Lubango mas este recusa-se com a cabeça. Satisfaz-se com uma farta golada. Reconta a exercitação ao Lubango.
- Sabes Lubango… o nosso MPLA é como um universo-ilha. Nele, os ricos são fábricas de lixo. Os seus lares produzem-no em abundância porque têm muito para consumirem. E obrigam-nos a rastejarmos no que a sua ira produz. Nem as plantas e os animais lhes escapam. Quando a consciência da Natureza se revolta, chamam-lhe calamidade natural... e as vítimas são imensas… os seres humanos que escapam vivem dispersos, na fuga incerta, permanente. A Natureza sussurra os seus segredos, mas já ninguém os entende ou finge não entender. Aparece-nos em visões à noite e desaba em cima de nós, precisamente quando estamos no sono mais profundo. Acordamos espantados e estremecemos perante tal poder. Os espíritos vagueiam à nossa volta, poucos povos já os entendem. O vento fala-nos, previne-nos, mas os nossos olhos já nada vêem. Vencemos, porque tudo e todos corrompemos.
Finalmente, a palavra de ordem é: VAMOS DEMOLIR ANGOLA!

Imagem: morrodamaianaga.blogspot.com/

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