quarta-feira, 7 de abril de 2010

A Ocidente do Paraíso (40). Operar em campanha é totalmente diferente do estar instalado nos gabinetes.


Esse colega “mais velho” ficaria mais uns dias para que a passagem de testemunho se assegurasse devidamente, e iria no próximo MVL. Era tudo muito diferente da instrução que recebemos aquando na especialidade, e sentia algum receio. Operar em campanha é totalmente diferente do estar instalado nos gabinetes. Como era eu que tinha melhor classificação, seria o adjunto do furriel Moreira. Éramos oito telegrafistas. Quatro de transmissões de engenharia e quatro de transmissões de infantaria. A diferença entre engenharia e infantaria residia em que os primeiros eram fixos, ficavam no aquartelamento, e os outros carregavam os rádios quando os seus pelotões se movimentassem. Existiam dois operadores de cripto que dependiam directamente apenas de duas pessoas: o Moreira e o comandante da companhia. Esta tinha por nome CCAV 3418, Companhia de Cavalaria nº 3418. Não, não tínhamos cavalos.

A nossa rede de rádio chamava-se ALTA, e dependíamos do batalhão que estava situado no Toto. Era daqui que recebíamos e lhes enviávamos todo o tráfego através de mensagens orais em alfabeto fonético ou cifradas.
O aquartelamento localizava-se no alto de um monte. À entrada ficava o posto de rádio, para a esquerda e no mesmo edifício as instalações dos furriéis. Mais à esquerda e separados, ficavam os oficiais e depois a sua messe. Havia um intervalo vazio, formado por um vale profundo e de difícil acesso. Havia a enfermaria, depois o refeitório, o depósito de géneros, e as nossas casernas. O balneário tinha água continuamente. Ela vinha de uma nascente situada a cerca de quinhentos metros e que servia de regadio a uma plantação de um fazendeiro.
Num outro monte próximo estavam instalados alguns lança-morteiros em posições estratégicas apontados para locais considerados perigosos, no caso de nos atacarem. Como era um monte de dimensões consideráveis mas muito mais afastado.

Na picada que conduzia ao aquartelamento ficavam as instalações de um fazendeiro. Tinha cerca de cinquenta trabalhadores que viviam em condições deploráveis… e uma mulher. Por causa dela, as cenas de pancadaria eram frequentes. Quando o fazendeiro conhecia estas ocorrências castigava-os violentamente. Nós, militares, estávamos terminantemente proibidos de nos intrometermos nos assuntos civis. Era o deixa-correr.

A nossa companhia constituía-se em cinco pelotões. Quatro, pelo vulgarmente dito, de atiradores, e o restante, pelos especialistas vulgarmente chamados de aramistas, porque permaneciam sempre no interior do arame farpado. Mais tarde, juntou-se um pelotão de naturais de Angola. Além do comandante, o capitão Valadas, haviam três alferes: o Lopes, o Santos e o Pereira que ficou pouco tempo entre nós, devido a ter partido uma perna no decorrer de um jogo de futebol.
Os dias passavam. A paisagem com os montes à nossa volta, e a vegetação, já se tornavam cansativos porque não havia mais nada para observar.

Imagem: Emblema da CCAV 3418
http://www.agbmorais.com/angola.htm

1 comentário:

Fonseca disse...

Eu fui um dos enfermeiros do 1 poletao 3418, cabo Fonseca. contacto 00351965534931. Email pppaulofonseca@clix.Pt
Enbarque a 31 de julho de1971, no barco vera cruz. Gostava de contactar antigos camaradas