quinta-feira, 1 de abril de 2010

Parabéns Folhinha!


Faço parte do primeiro grupo de escribas que em 1995 deu corpo ao Folha8, o nosso “Folhinha”, numa altura em que acabávamos de perder o Ricardo de Mello (RM), vítima da intolerância endémica, que se mantém até aos dias de hoje, tendo apenas os seus mentores mudado de táctica, com a utilização de métodos menos violentos.

http://morrodamaianga.blogspot.com/2010/03/parabens-folhinha.html

O Folha 8, na sequência do prematuro desaparecimento do pioneiro e temerário Imparcial Fax do Ricardo de Mello, surge na altura como a única referência da emergente imprensa livre da tutela político-partidária do recente passado monolítico que ainda era demasiado presente.
Era e lamentavelmente continua a ser, depois de todos estes anos, com todas as mudanças cosméticas que se conhecem, mas que não resistem ao primeiro abalo, como ficou novamente bem evidente, com o caso das demolições no Lubango e em Benguela e as intervenções musculadas dos respectivos governos locais, sob o olhar silencioso do poder executivo central.
Há 15 anos, o assassinato até hoje não esclarecido de RM, foi um claro aviso à navegação de todos quantos se movimentavam no território dos “médias” com outros propósitos menos concordantes com a orientação geral do Big Brother.
O sanguinário aviso, pelos vistos, não funcionou como era suposto, quando foi programado.
Não foi suficientemente convincente, porque mais forte e determinada já era a vontade de continuar a fazer o jornalismo livre de qualquer correia de transmissão, averso a qualquer colete-de-forças, alérgico a qualquer rolha ou mordaça.
Nada mais seria como dantes. E não foi mesmo.
Menos de um ano depois da tragédia que abalou o jornalismo angolano com o assassinato de Ricardo Mello, surgia nas bancas o Folha-8, que de lá para cá, com todos os altos e baixos que se conhecem, nunca mais se calou.
O “Folhinha” é importante destacar aqui, abriu caminho à criação dos outros semanários que viriam dar corpo ao que é actualmente o dinâmico e interventivo segmento da imprensa privada angolana, sem dúvida um dos mais autênticos, independentes e produtivos pilares da nossa imberbe e decepcionante democracia.
É pois inegável e incontornável a importância do projecto que Wiliam Tonet soube criar com o apoio de todos nós, os seus co-fundadores, no contexto da própria história da evolução do jornalismo angolano rumo a sua afirmação como um espaço de liberdade, independência, seriedade e responsabilidade.
Do lado que nos compete, é bom reconhecer nesta hora de balanço, trata-se de uma evolução que ainda está longe de estar concluída de forma satisfatória. Continuamos a ser confrontados com demasiados amargos de boca que hoje já não se deveriam justificar e que só nos podem aconselhar a sermos cada vez mais profissionais, que é a única ferramenta que os jornalistas têm ao seu alcance para vencerem a batalha da sua própria credibilização.
Mil edições e 15 anos depois, o Folha 8 está aí bem vivo.
Parabéns!
(Este texto foi publicado no Folha8 na sequência de um pedido que me foi formulado pela sua direcção no âmbito do aniversário assinalado pela referida publicação)

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