terça-feira, 27 de abril de 2010

Assaltos. Diário dos últimos dias de Luanda


Contra milhões de assaltantes ninguém combate.
Um numeroso grupo de motociclistas pára em frente à venda da tia Lwena. Sempre estridentes, um como que se arvorando no chefe, aproxima-se e possuído pelo copo e ou pela droga, berra, amedronta:
- Isto ainda não é nada! Vocês vão ver o que é assaltos. A partir de agora é que vai ser. Vamos fazer um campeonato nacional de assaltos. Não temos medo de morrer.

O Politburo assaltou a Internet, de tal modo que perece como a agora lotaria das casas dos jovens sem petróleo. Para acessar a Internet é outro sorteio.

O Politburo conseguiu um feito notável. Elegeu a juventude para os campos da loucura. E ainda lhes faz sorteios de casas, enquanto diariamente se suicida nos milhões de dólares que arrecada da anarquia petrolífera e diamantífera, que apregoa já está outra vez a dar. Sem hipótese de sobrevivência, à juventude só lhe resta um descaminho: ondear assaltos de minuto a minuto e depois de segundo a segundo?! E quando alguém muito famoso, poderoso, do Politburo lhes cair nas mãos, e o eliminar?! Ninguém pensa nisto, né? Mas é uma hipótese muito provável, muito natural.

Sim! Mesmo com a crise mundial, Angola está em crescimento. Crescem os assaltos e a corrupção também. E como ainda estamos na revolução de Abril, que foi um arrasador terramoto na escala de Richter 11 ou 12, e que revividos dezenas de anos ainda semeia réplicas, ondas de morte, de miséria e de fome.

E o angolano perdeu o espírito de entreajuda, porque se refugia, conserva, defende os estigmas do tribalismo e do regionalismo. A juventude angolana não necessita de ajuda espiritual. Necessita urgentemente de ajuda material. A espiritual significa enviá-los para o cemitério mais próximo.

Até Isaac dos Anjos não está só, este assalta mal. É o assaltante campeão nacional do pó das casas/casebres. Uma coisa daquelas no Lubango ser feita por ele sozinho, até cá, o governo reagiria. Não reage porque há interesses por trás disso. Espoliar a cambada para depois aproveitarem os terrenos. A distribuição de casas serviu inicialmente para dar lugar ao caminho-de-ferro. Mas, o que se pretende é aumentar o cordão para mil metros.

Nesta distribuição de casas as pessoas foram amontoadas com as suas imbambas e posteriormente levadas para a mata onde foram basculadas. E esse local onde foram basculadas, em nyaneka e umbundu designa-se tchavola (lugar putrefacto, onde se destinava todo o lixo da cidade.) Licenciados, mestres e funcionários públicos, atiraram-nos para a mata, sem mantas, sem tendas, debaixo das árvores e na encosta de uma montanha muito frígida.

A terceira guerra em Angola já começou. Os assaltos a todo o momento são de facto e de jure a prova guerreira.

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