quinta-feira, 22 de abril de 2010

A Ocidente do Paraíso (50). Vivemos num mundo onde precisamos nos esconder para fazer amor! Enquanto a violência é praticada em plena luz do dia. John



De repente, por cima de nós, ouvimos o barulho de um avião que voava em círculos a baixa altitude. Era uma avioneta DO27, (Dornier). Sentimos algum receio porque não sabíamos da sua presença. Subiu bem alto, e de repente em queda livre veio na nossa direcção. Alguns fugiram em pânico. Estabilizou e executou várias acrobacias. Um espectáculo digno de se ver. Tirei várias fotos. Pensei que a enviaram pelo comando para nos distrair, mas não. Depois de aterrar, chegou próximo de nós o homem que a pilotava – era um oficial piloto aviador – e abraçou demoradamente um furriel da nossa companhia, o Sanches, que o aguardava. O Sanches era familiar do Comandante-chefe da Região Militar de Angola. Demoraram cerca de meia hora a conversar, depois o aviador foi-se embora. Fez mais algumas acrobacias e no fim abanou as asas em sinal de despedida. Tinha vindo aqui de propósito para cumprimentar o seu amigo.

A picada que a engenharia abria já ia distante. Para lhes acompanhar o passo, tínhamos que sair deste local e montar um acampamento de tendas mais à frente. Antes da partida tirei algumas fotos dos bagos dos cafeeiros, que estavam muito bonitos, com uma cor muito provocante.
Novamente a preparar as bagagens para mais uma viagem. A engenharia tinha preparado um local de terra, devidamente nivelado, e à sua volta levantou uma muralha de terra que nos servia de protecção.

Tomávamos banho em regadores suspensos de uma estrutura de madeira improvisada. A água carregava-se a balde de um camião cisterna.
O pó era insuportável e penetrava a todo o momento pelas aberturas das tendas. Quando o pão não ficava resguardado, parecia que tinha sido cozinhado com pó. As formigas não perdoavam, e tudo o que era comida desaparecia. Tínhamos que colocar um prato com água, e no meio um recipiente, onde em cima deste colocávamos as sobras das refeições, que depois aproveitávamos enquanto aguardávamos pelo rancho.

Sentado na minha cama, todos os momentos livres dedicava-os à leitura. Parava para descansar quando as dores me acometiam as costas devido a tão incómoda posição. Nunca li tanto como nestes meses. As deslocações frequentes de um lado para o outro começaram a cansar-me. Já não desfazia a bagagem, apenas tirava o que necessitava, e depois quando de nova abalada, arrumava tudo no mesmo sítio.
Outra vez de partida para novo acampamento, porque a engenharia já ia mais além. Depois a nossa missão terminaria. Tinham-se passado vários meses, e o tempo da nossa comissão quase chegava ao fim. A odisseia da CCAV 3418 prosseguia para o destino final, Balacende.

Vivemos num mundo onde precisamos nos esconder para fazer amor! Enquanto a violência é praticada em plena luz do dia. John Lennon

Imagem: http://www.bush-planes.com/images/TopDornierRight.jpg

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