quarta-feira, 28 de abril de 2010

A Ocidente do Paraíso (54). Na realidade a guerra era deles, e não nossa.


Na nossa frequência de serviço, às dezanove horas, escutava-se a emissão radiofónica do MPLA, o Angola Combatente. Confesso, que se me fosse possível fugiria e iria ter com eles, mas como sair daqui era muito difícil, limitava-me a ouvir a emissão.

Tinha um problema que não sabia como resolver. A minha arma ficou com um local torto junto à mira. Deixei-a cair e por azar bateu numa pedra e ficou assim. O pior é que o major da inspecção do armamento estava quase a chegar. Peguei numa pedra e com algumas pancadas bem dirigidas consegui endireitá-la. Quando o major fez a inspecção rezei interiormente. Não me fez qualquer observação. Consegui escapar.

Dos muitos livros devorados, saliento da colecção Enigmas de Todos os Tempos, da Bertrand, as Histórias Desconhecidas dos Homens Desde Há Cem Mil Anos, onde explicava que quatro indivíduos colocando as mãos em pirâmide, por cima da cabeça de outro sentado, primeiro a mão esquerda, depois a mão direita sem se tocarem. Aguardar algum tempo, e depois retirá-las uma a uma. Com o dedo indicador colocado debaixo dos ombros e joelhos, a pessoa levantava-se como se voasse. Ficava sem peso. Também funcionava com objectos. Não havia explicação para o enigma.

Chamei os meus colegas e fizemos a experiência, perante o cepticismo geral, que isso era coisa de malucos. Quando levantámos com quatro dedos o indivíduo, este quase que se elevou até ao teto, parecendo voar. Os meus colaboradores ficaram tão aterrorizados que decidiram nunca mais repetir a experiência. Mas não desisti. A nossa bateria de serviço pesava muito. Quando íamos buscá-la – a de reserva – o local ficava um pouco distante. Fiz a mesma experiência e a bateria ficou tão leve que não se sentia o peso. O mesmo fiz com uma mesa de madeira grande e pesada com os mesmos resultados. Seria assim que colocaram as pedras das pirâmides do Egipto? Porque não existe explicação para isto?

Lembrei-me do Quitério, porque o alferes Lopes passou a receber a Seara Nova e o Comércio do Funchal. Como ele mos emprestava, lia-os com avidez. Os artigos eram muito interessantes e edificantes. Disse-me se o queria acompanhar na próxima operação. E lá fomos.

Descansávamos numa pequena clareira do mato. O Lopes confidenciou que o major das operações, a partir de agora, não estava para brincadeiras. Porque o pessoal fingia que tinha alcançado o objectivo, o que era verdade. Ficavam no meio do caminho a passar o tempo. Na realidade a guerra era deles, e não nossa. O que queríamos era queimar o tempo e evitar problemas com os guerrilheiros. Só que o major veio com a avioneta DO a sobrevoar para confirmar a veracidade dos factos. O Lopes disse-nos a sorrir:
- Estamos fodidos. Temos que andar ainda muito e muito até atingirmos o objectivo. Estão a vigiar-nos.

Imagem: http://www.sitiodolivro.pt/pt/livro/historia-desconhecida-dos-homens/9789722510790/

Sem comentários: