Luanda - A corrupção em Angola, pese o presidente da
República, José Eduardo dos Santos, ter dito ser o segundo mal depois da
guerra, segue indiferente a esta constatação e, cada vez mais, se assemelha a
uma instituição com direito a passadeira vermelha, igual a que medeia os
corredores do poder.
Fonte:
Folha-8
No país, os crimes
de corrupção deixaram de ser repugnantes tal é a sua vulgarização nos níveis
superiores e intermédios, contando que muitos no poder, têm diligente
assessoria e contribuição de operadores e expatriados estrangeiros, seus sócios
empresariais, que aportam entre nós tal como os abutres.
Na semana finda,
um cidadão de nacionalidade chinesa, trabalhador de uma empresa de construção
civil, contratada ao abrigo dos acordos entre as Repúblicas da China e de
Angola, foi apanhado em flagrante delito, com duas malas de bordo, contendo no
seu interior, dólares e diamantes avaliados em 5 (cinco) milhões de dólares.
O traficante
conhecido por Lee, faz parte de uma enorme rede de tráfico de divisas e não só,
com fortes ramificações em todos os sectores, incluindo bancário, agentes da
Emigração, Polícia Fiscal e Forças Armadas, que facilitavam todos os corredores
de evasão financeira. Mas na pretérita semana, a rede só se desintegrou por se
terem zangado as comadres e vai daí a denúncia.
“Um dos membros
que integrava a quadrilha, a um dado momento, pediu mais dinheiro do que o
habitual, mas Lee e pares rejeitaram tal ideia, confiando que não seria a birra
de um, a deitar por terra todo esquema da organização. Redondo engano. A denúncia
seguiu em frente e foi abortada uma das maiores redes de tráfico e evasão de
divisas, a operar no país pela máfia chinesa”, disse ao Folha-8, uma fonte da
Polícia Fiscal.
No entanto, dada
as implicações políticas, militares e policiais, a detenção do mafioso asiático
continua no “segredo dos deuses”, uma vez o mesmo ser um homem influente nos
corredores de muitas empreitadas lideradas pela Casa Militar da Presidência da
República.
“Ele, até agora
não está a denunciar os seus comparsas, pois teme retaliações ou mesmo pela sua
vida, caso indique um dos «tubarões» aliados, devido ao seu peso e influência
nas mais altas estruturas do país, por isso as investigações estão a decorrer
com bastante secretismo”, asseverou a nossa fonte.
A fragilidade das
instituições e a habituação de pagamentos de altos valores financeiros em cash,
estão na origem da criação destes vícios, facilmente explorados pelas máfias
estrangeiras instaladas em Angola.
Os grandes grupos
de traficantes chineses, com as portas escancaradas em Angola, face aos
avultados empréstimos do governo da República Popular da China, ao governo
angolano, virtam um campo fértil para poderem actuar. E isto
têm feito com muita maestria, desde a falsificação de documentos, a adulteração
de produtos e até a exportação ilegal de capitais, para a China e ainda outros
países africanos e europeus, aproveitando a facilidade das ligações aéreas com
a Europa.
A fonte do F8
acredita que desde o início de 2012, pela porta do cavalo, incluindo fronteiras
terrestre e marítima terão saído de Angola, ilegalmente, mais de 250 milhões de
dólares. Isto constitui sempre uma perda considerável para o país, que desta
forma se expõe a toda espécie de tentação mafiosa, dos cartéis financeiros, do
tráfico de seres e órgãos humanos, de armas e de drogas.
Muitos jovens, têm
estado a adquirir drogas fortes, transaccionadas à vista desarmada, na “zunga”,
em rótulos disfarçados, como se fossem medicamentos para dores de cabeça, do
estómago ou ainda para ratos, por cidadãos chineses, sem que as autoridades
tomem medidas reguladoras.
O cidadão Lee,
está segundo a nossa fonte, tão a vontade e seguro, que sairá a qualquer
momento, que não opôs nenhuma resistência, aos agentes da autoridade, pelo
contrário, perguntou-lhes se já tinham as suas vidas resolvidas, pois “podem,
se forem espertos, resolver agora. Eu vos ajudo. Esqueçam isso, porque tenho
dinheiro e trabalho com grandes bosses que mandam em Angola e vou sair de
qualquer forma, pois não roubei nada”, terá confidenciado aos seus captores.
O dinheiro que
estava a transportar, sustentou, em auto de declarações, é fruto de trabalho
legal, feito pelas suas empresas de construção civil, nas várias empreitadas
realizadas no país. “Muitos clientes nos pagam a mão e como nos bancos, em
Angola, é muita burocracia e complicação, então juntamos o dinheiro, para irmos
comprar material de construção civil e comida, para os nossos trabalhadores”,
disse, garantiu a nossa fonte, acrescentando, “nós não traficamos dinheiro,
porque é nosso, que ganhamos com o nosso trabalho. Quando o banco em Angola
trabalhar melhor e as taxas com despachante forem mais baixas, chinês vai
transferir no banco, porque hoje culpa não é do chinês, mas sim do banco”.
Questionado nos
autos de interrogatório, se era, também, traficante de drogas, Lee terá dito,
que sabendo ganhar dinheiro limpo, com a construção civil, não precisa de sujar
as mãos. Quanto aos diamantes, os que estavam na sua mala e que foram
apreendidos, disse serem fruto de pagamentos feitos por clientes, devido a
obras realizadas nas Lundas, muitas das quais no período eleitoral.
Os dólares
apreendidos foram depositados numa conta, para o efeito, junto do Banco
Nacional de Angola, enquanto os diamantes têm a ENDIAMA como a fiel
depositária, até a conclusão do processo, para se aferir se ficam, estes
valores apreendidos, na posse do Estado ou regressam a posse do chinês,
descontando-se as devidas indemnizações e compensações ao Estado angolano.
A ser verdade que
Lee conseguiu juntar tão elevado montante de moeda estrangeira, fora do
circuito bancário e diamantes, este facto vem demonstrar que há muito dólar e
pedras preciosas fora do controlo das autoridades angolanas, podendo estimular
a prática do tráfico.
Imagem: ponte chinesa em Luanda. Facebook
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