terça-feira, 4 de agosto de 2009

A Epopeia das Trevas (32)


- Prefere morrer de fome na velhice?
- Não tenho coragem para enganar pessoas.
- Jasmim da astuta Noite… Tanta demanda, tanto tempo perdido em vão à procura dele…
- Dele?!...
Sim! Sim! Do dinheiro, quitare. A riqueza monetária é o Santo Graal.
Ouvi o coro transparente de vozes infantis a ensaiar um cântico de louvor a Deus. Um piano acompanhava-as. Vozes tranquilizantes no angelical Paraíso, alento para almas destroçadas. Magnificat para penetrar o espírito deificado. O Bispo Éden deixou-me. Foi a cantarolar, a sorrir como se fosse o homem mais feliz deste mundo. Juntou-se às crianças, afagou-as, abraçou-as, beijou-as, nublou-se de branco como no reino dos céus.

- Mentor… estaquei! Quanto mais mergulho nas religiões, mais confusa fico. Ah, se o perfume dos jasmins saturasse as nossas consciências… as palavras honradas movem-se como o vento pela rama jasminal.
- Os possuídos pelo dinheiro como milho dão as cartas, jogam, nunca perdem. Os terra-a-terra jogam na carta constitucional, perdem sempre.
- À boa vida.
- Quando um vírus de nível quatro ataca, e está prestes a dizimar a população, pára porque não sobrevive sem portador. As igrejas lutam para que os fiéis esfomeados não sucumbam. Sem mão-de-obra extinguem-se. Mas, as seitas religiosas adulteram, não panificam a religião. Inundam nos pobres de Cristo banalidades supersticiosas… poluição religiosa. Os Estados são pessoas de bem, nos píncaros do desenvolvimento científico. Entretanto, legalizam seitas religiosas que atentam a dignidade humana, mais-valia da fome.
- Resta a religião natural do bombeiro abnegado que falece para salvar o próximo. Os vivos permanecem, a memória dos bombeiros mortos também.

Dos largos anos do poder executivo ao reboliço do povo, do chover no molhado, vêm vivas incrementados nos baldes com águas das lavagens das roupas e detritos das cozinhas. De atalaia, as militantes reincidentes continuam o despejo dos recipientes. Com técnica militante rudimentar mas funcional, promovem chuva ácida para arejar o ambiente. Ainda não aderiram, ratificaram convenções locais sobre destruição presente. Sem princípios, meios, prestam os fins
Um carro apresta-se para interiorizar uma grávida, a amiga despede-se a cantar vitória:
- Faz boa viagem, não te esqueças, quando voltares traz-me as roupas da moda.
- Querida, tens que esperar aí uns quatro meses.
No estado interessante as Politburo endinheiradas viajam para Olísipo, rebentam, retornam. Não desejam que os filhos nasçam em Jingola. Preferem-nos nacionais estrangeirados.

Como formigas obrigadas a desviarem-se de obstáculos democráticos, as zungueiras flúem no trânsito popular ineficiente. As zungueiras são pobres clientes da grande democracia. Desafortunadas, a ela não dão crédito, não recebem créditos. A pequena democracia é dos clientes Politburo VIP afortunados, com créditos. Democracia legítima com actos ilegítimos, contrariando o direito de sobrevivência. Diviso a anunciação de sol a sol, da fuga desesperada do formigal mulherio. Os filhotes corcovam nos costados maternais. Os alguidares movem-se como navio agitado pela procela. As sem-pão param a prudente distância, a ver de que lado sopra o vento. Sem peitos para correr, o imprevisto confronta-as, tentam fazer marcha-atrás, estão cercadas. Cacarejam, como galinhas acossadas por galo de briga. Como habitualmente em grande desaire, gritam como só mulher sabe:

Imagem: http://alemmarpeixevoador.blogspot.com/

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