terça-feira, 18 de agosto de 2009

A Epopeia das Trevas (39)


O que aconteceria se desvendássemos, falássemos, abríssemos a nossa alma? Fazer o invisível, visível? Há muito receio supersticioso. As pessoas vivem noutro mundo possuídas pelos cultos religiosos.
A História recheia-se de guerras santas, de extermínios, de cultos de libertação. Todas, asseguram-nos, são libertadoras. Então porque continuamos oprimidos? Porque não são guerras de libertação. São guerras de continuação da opressão.

Durante muitos anos da minha vida ensinaram-me que os outros povos eram atrasados, incivilizados. Necessitavam do alimento feérico da fé cristã, da condução paradisíaca. Libertar-se-iam dos seus deuses, desconheceriam a maldade, sombras, trevas do paganismo demoníaco. Em consonância os políticos arremetem-nos vida melhor, e a religião promete-nos viver no paraíso eterno. Mas quando um governo se irresponsabiliza perante os cidadãos no abastecimento mínimo de água, luz, comida, chapas de zinco para refazer alojamento e alguma roupa, isto é escravidão. Comparando os tempos, os modernos ultrapassaram os antigos. Nunca aconteceu na História tanta escravidão, submissão, espoliação como actualmente.

Os Jingola autóctones colonizados libertaram-se. Os seus libertadores sangraram o fim colonial e esclavagista. Em seguida como navios escoteiros desbordaram a humanização da História. Submetidos às leis modernas da nova escravatura, às leis da imutável fome, às leis das epidemias que a acompanham. É o destino dos povos, a frustração da História. Isolados como ilha perdida algures em qualquer oceano, à espera da morte salgada. Regimes de excepção suspensos em actos anticonstitucionais, empresariais, actos gratuitos. Não há mandados de citação, há mandatos penais. O poder empresarial é oculto, temeroso. Governante que não caminha pelo meio do seu povo, é impopular, receoso.

A tuberculose galopante inscreveu-se no quadro das epidemias. No hospital os lugares disponíveis são insuficientes. Apesar de alguns novos focos, a cólera, dizia-se, já não assustava. A equipa médica afirmou que seria extinta nos próximos cinco anos.

Este é mundo de dinossauros, seres de pedra com mentes de fontes incoerentes que inutilizam a validade da luz natural, cerebral. Ocos de linha dura, anzolam-nos na sua demência. Prescrevem-se choques nos tecidos tenebrosos mas, os encéfalos teimam que dependemos da inutilidade deles… perfeccionistas da lei de Murphy. Carentes, crentes no poder vitalício permanecem esqueléticos até à morte, a desordenar. Desusam o sentimento de culpa, não antecipam formação de jovens substitutos. Enfadam-se na demagógica criação de empregos, nas oportunidades à massa cinzenta rejuvenescida. As pontes desabam, a do poder não.
O homem mais poderoso e o homem mais fraco não têm a mesma importância. O homem mais fraco é mais importante, porque a qualquer momento derruba o homem mais poderoso

O meu melhor amigo é o silêncio do odor da santidade florestal embalsamado, dos lamentos confessados, convictos. Os meus inimigos são os quatro cavaleiros do apocalipse: o especulador imobiliário, o advogado, o especulador financeiro e o agente funerário. Mas, o meu maior receio é ser queimada por heresia.
Acreditamos, defendemos resoluções, revoluções, e depois deixamo-nos arrastar na correnteza da odienta pobreza
Educaram-me, ensinaram-me, reeducaram-me que a civilização Ocidental é superior. Mais tarde descobri com sorrisos solitários, o quanto estava lesado. Não produzi estátuas ou outras obras de arte porque a minha beleza, o purismo das minhas formas, são renascimentos para os artistas amantes dos superiores primitivismos. A minha civilização é inferior na tecnologia, mas é superior na minha outra impressão de sol nascente.

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