quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O Cavaleiro do Rei (44). Novela



Epok assusta-se com o barulho na porta.
- Abre esta merda!
Reconheceu a voz. Lembrou-se que a porta estava fechada por dentro, abriu-a.
- Ó pinturas horríveis e mal-educadas.
- Fechaste a merda da porta porquê?!
- Para não te aturar… diz-me como ficou o trabalho nas cozinhas.
Como resposta ela pegou numa lima e começou a limar as unhas. Apontou com a cabeça para o cozinheiro, este diz:
- Chefe, os géneros acabaram. Estava quase tudo estragado. Vinte quilos de…
- Couve, tomate, etc… já sei. Só sabem é roubar, aprenderam com quem? A Pinturas esteve lá a fazer o quê?
- Ai é!? Não sabes ler? Isso não faz parte do meu perfil ocupacional.
- Pára de limar as unhas! O rei saberá que são muito mal-educadas?
- Se não gostas tens que te habituar! Melhor que nós não há!
- Há sim! As piranhas. Só que com as tuas pinturas vais poluir a água e as piranhas não sobreviverão. Entretanto o teu belo corpo de real súbdita será um belo petisco. Faremos boas latas de conserva para exportação. Negras com piranhas enlatadas. Ah! Ah! Ah!
- Grande sacana, desgraçado. Vou preparar um relatório para o rei.
Epok encara o cozinheiro que treme de medo.
- A partir de agora quero ver os géneros estragados!

CAPÍTULO XII
La Padep e a princesa

A armadilha que prende os pobres é impressionante. Os pobres são muitos, e votam. E como são muitos, o que se fizer pelos pobres rende votos. Logo, qualquer medida que favoreça os pobres constitui demagogia, autêntica compra de votos. Ah, se os pobres não pudessem votar, seria ideal, pois poderíamos fazer políticas para os pobres sem que isso deformasse a vontade popular e pesasse nas eleições. Mas votam, e como há eleições a cada dois anos, pode-se fazer política para os pobres uma vez a cada dois anos. Considerando que a desigualdade é de longe o principal problema do país, tentar travar políticas que a reduzam não é oposição, é sabotagem.
In Oposição a quê? Ladislau Dowbor

O cavaleiro La Padep, depois das injustas marteladas que levou nos ossos, conseguiu solidificá-los. Foi a sua amada princesa que conseguiu surripiar dos seus pais o dinheiro necessário para pagar a um físico amigo, e a outro muito conhecido pela fama dos seus unguentos. Tinha-lhe recomendado para evitar a todo o custo as pretensões de qualquer feiticeiro, que não curavam nada, pelo contrário, faziam imensos estragos.

Graças aos cuidados da sua querida, que não poupou esforços, sentia-se como um peixe raro, desses dos aquários reais que não lhes falta nada. Incluindo água e temperatura sempre agradáveis, livres de poluição. Como os cães reais, que têm uma clínica privada para o tratamento de uma simples verruga, ou da comida excessiva. Enquanto os súbditos aguardam com impaciência fora dos portões triplamente reforçados com os melhores aços importados, os restos das latas importadas.

Imagem: Angola em fotos

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