quinta-feira, 6 de agosto de 2009

A Epopeia das Trevas (34)


Revejo as lâmpadas acesas dia e noite. A energia parece gratuita, ninguém assume pagar, ou os Jingola têm cegueira diurna. Estudam o manual de como desperdiçar energia facilmente, que é distribuído gratuitamente. Há intenção de não querer saber, ninguém requerer atenção ao outro. O chamamento de antemão é entonado, destoado: «não chateia pá!» na insistência segredam: «deixa-o falar, vai-se cansar!».
- Maremoto conduto!!!
- Não! É de moto-próprio!
Assustei-me e desassustei-me. Mais uma conduta de água quebrou-se, rompeu-se. A água liberta da prisão jaz caudalosa, persegue os interstícios do solo desestabilizado. Concebe uma via rápida com cratera. O rio chegado arreda coisas e pessoas. A visita líquida é desejada pelas crianças que se fantasiam de rãs e sapos. Atiçam-se:
- Vamos brincar no rio das condutas!
Um mais crescido, taciturno, explica solenemente à criançada:
- Chama-se rio das condutas porque tem nascentes em todo o lado. Mas, ninguém sabe explicar onde nasce.

Um poeta de última geração é rimado pelo ritmo caudal. Refaz-se, impoluto rebrilha o cabedal dos sapatos nos intervalos da calçada. Processa cantante:

Nesta planície de petróleo jorrante, jactante
De sol e solo exuberantes. Descontraídos novos-ricos cativantes
De desconstruídos, expectantes currais eleitorais errantes
Requisitados, mal abençoados pela natureza Humana
De festeiros participativos 24 sobre 24 horas
Que fortaleza tem esta tristeza! Viver na extrema pobreza!

Muitos… muitos jovens deambulam. A facturação dos biliões petrolíferos sobe, o desemprego também. Novas ruas novos nomes: ruas dos desempregados, apinhados. Futuros continuadores da involução Jingola. Sem estudos, sem ciências humanas, morais e sociais. Apoiados por pretensa ciência, lentes na ciência penitenciária. Futuros trapeiros patriotas, neófitos vendedores de tralhas para aquecer. Os cavaleiros andantes nas justas pela libertação descuidaram brechas da neocolonização. Olvidaram o buraco negro da aldeia global, a senda triste da eterna escravidão neocolonialista.

Pode-se ruminar que não há emprego para ninguém. É constante noticiar mais desemprego. Despedidos porque a empresa faliu, ou há trabalhadores a mais. Mil e uma estratégia sem lei nem rei para trabalhadores autónomos, que do pé para a mão, vão para o olho da rua. Os Jingola lixados emparceiram com rebuçados, bolachas, cigarros e cacarecos que as esposas remendam. No mar de lama da magnitude da globalização empresarial, peixe graúdo abocanha peixe a miúdo.

O polícia monta guarda num mercado de rua. De vez em quando volteia, passeia, pára. De olhar frouxo repara, enquanto descansa o peso dos braços nas mãos enlaçadas, nas costas coladas. Está armado e equipado. O telemóvel espalha sem som nem tom o seleccionado timbre horripilante arquivado. À velocidade de cágado dormente desenlaça uma mão, solta o telemóvel da cintura, petrifica-se. Está colocado pelos Órfãos.
- Passa o telemóvel!!!

Imagem: http://alemmarpeixevoador.blogspot.com/

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