quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A Epopeia das Trevas (36)


- Mentor, antes de aqui cair molhei os pés na biblioteca de Baco. Li textos sobre os Jingola que me surpreenderam. Resumi-os:
Os Jingola odeiam as pessoas, comparam-nas a cães e gatos porque detestam estes animais. Gostam de ratos, da feitiçaria, de vírus e fantasmas. Aprenderam a não confiar em ninguém. O que mais odeiam é a sua sombra. Costumam afirmar que é uma assombração. Convictos, dizem que a inventaram, descobriram.
- Hum! Qualquer na sua superstição milenar vê sombras no seu quotidiano. É como levantar muito cedo, ir para o trabalho e voltar à noite a casa. Biliões de seres humanos desnotaram que os seus cérebros atrofiaram. Desconseguem pensar, e se intentam, lá aparece a mensagem na TV, porque é a primeira coisa que fazem quando chegam a casa. A mensagem é imutável: deitem-se, porque amanhã é dia de trabalho. Levantem-se, está na hora de ir para o trabalho. Exemplificam com um americano que afirma: nasci para enriquecer como empresário, ou ser um homem famoso, trabalhando muito consigo-o. Omitem que ele pouco ou nada dormia, e que acabou na psiquiatria, na psicologia com psicalgia, ou morreu de ataque cardíaco. São bibliotecas de ligação dinâmica, chegam ao trabalho com um chip embutido no cérebro. Muito submissos como a oposição Jingola, não incomodam, não pensam. Se algum consegue remover o chip, começa a pensar, revolta-se… exigindo melhores condições de pensamento. É logo acusado de senzaleiro das ideias incendiárias, não patriota e sumariamente julgado e para um gulag enviado.
- De revolta como Ulisses num gulag marítimo, porque Penélope transcende o amor. Ulisses vai amar na volta do mar
- Ao ir e voltar do trabalho no mar confuso, inúmeras horas irreversíveis são concedidas ao trânsito automóvel. E levantar às quatro, cinco da manhã…essas horas não são pagas. O trabalhador começa a trabalhar logo que se levanta da cama, isso deve ser pago.
- Não pagam porquê?
- Porque apenas existem quatro classes na sociedade. Presidente, ministro, director e os…lémures.

Na senzala, as senzaleiras espevitam-se. Elas e os ratos naufragam na pequenez da ruela esfrangalhada. Uma senzaleira sem tempo para se coçar, encosta-se no restante tapume. Concerta a carapinha, ajeita o pano, enxota as moscas com a vassoura de mateba. Apela excitada:
- Que vergonha meu Deus! Ó caçulinha da mamã traz a escova e a pasta de dentes! Vou entrevistar-se na rádio!
À velocidade de super-mulher os dentes cariados são escovados. O dentífrico não cumpriu a sua missão porque não se notou mudança no alvar dental. Era de fabrico ocioso. O repórter batia com o pé no chão, pressionado pelos estúdios que queriam e não sabiam se deviam despejar o saco da publicidade para o vácuo. A dama encima o hálito renovado no microfone.
- Prontos! Posso dentar!
- Minha senhora, bom dia!
- Sim, bom dia!
- Como se chama?
- Teresa Maka.
- Tanta comoção, porquê?
- Desde as quatro matinais que estamos com isto, desconseguimos mais nos dormir.

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