terça-feira, 11 de agosto de 2009

A Epopeia das Trevas (35)


É um dia de juízo para a polícia. Chegou um carro patrulha com seis polícias diligentes. Apeados, encafuam-se nas ruelas. Um tenro Órfão alarma a combinação. Culpados e inocentes dão nos cascos. A terra freme como cavalos de corrida num hipódromo. Os incansáveis vigilantes dos dias e das noites, polícia não dorme, não é?!, aprofundam-se, aferram-se nos labirintos. A missão seja ela qual for, é sempre para repor a legalidade.

Enquanto aguarda pelo restabelecimento da lei, o motorista afunda-se no assento com as mãos na nuca. Ficou pachorrenta sentinela na viatura. Atira uns réditos para uma donzela bem nutrida de carnes frescas. Ela não dá cavaco. O vencimento de polícia está num escalão tão baixo que não dá para comprar um sutiã, quanto mais um biquíni. Ela pisca-lhe os olhos com tal intensidade, que parece que o circuito de voltagem óptico se desregulou. Ele não entende a mensagem semafórica, acredita que ela está no ponto nevrálgico. A carne quente dele rejubila, solta o verbo.
- Estamos muito quentes, vem, vamos arder!
- Seu burro! Os bombeiros chegaram….

Os Órfãos chegaram, cercaram-no à má cara. Crianças com armas de guerra aperradas, e armas brancas afiadas, dos filmes imitadas, cópias de segurança efectuadas. Ainda não têm noção do matar, do coração parar. Por isso matam, como se fosse a brincar. No abandono da inocência pedem meças:
- Sai daí, vamos dar uma volta, depois regressamos.
E foram passear, dar umas voltas pela cidade com as deselegantes da mesma idade.
- Mentor, este conflito entre Órfãos e Politburo permanecerá por milhares de anos.
- Dou o meu acórdão. Nalguns bairros os Órfãos disputam a invisível força armada da defesa civil militarizada. Sem abrir concurso os Órfãos impõem soirée até à matina.

Continuo na travessia das endechas do Homo oeconomicus.
Cooperadores discutiam, não se entendiam. Antes, juntaram-se e consagraram uma cooperativa habitacional. Imaginaram, levantaram habitações cooperativistas. A felicidade eterna nasceu-lhes nos rostos, sentiam-se notáveis. Faziam bom rosto à fortuna. Nas janelas à francesa os casais extasiados, vigiavam a filharada que brincava a ter futuro. Tranquilidade absoluta garantida por seguranças privados, armados. Era mais que um jardim. Um botânico e outro das delícias. Passaram à história o paradoxo do amor, roubaram o tempo de antena para amar. O casario era embarcação de vento em popa

Começou-lhes a dar o vento no rosto. Atingidos pela magia negra apressada restaram descorados, mitómanos, tensos, enfeitiçados, hipertensos… ficaram a ver navios. Casas construídas em menos de dois anos desfaziam-se aos pedaços. Fendas nas paredes utilizadas para cabeças estreitarem os íntimos lares. Inventou-se a hipótese que dantes o local foi cemitério. Persistiu-se na razão de Estado que os Jingola viviam, viveriam sempre em casebres.
- Mentor, esta magia é contagiosa?
- Muito! O Politburo apoiado pelos seus amigos estruturais de todo o mundo redouram os alicerces da democracia popular. Outra vez guerrear para aqui facturar. As guerras inventaram-se para alguns enriquecerem. Guerra… é o acto ou efeito de destruir, para depois reconstruir. São as filosofias da vida, das visões fantásticas dos canhões que disparam o vinho de Cristo, que nos afogam ou banham em sangue. Suam-nos, que a espécie humana é um tremendo erro da Criação. O Criador errou na manipulação genética. Falseou a costela. Criou o Inferno para os bons e a Terra para os maus. Alguns bons escaparam do Inferno para a Terra. Actualmente lutam ferozmente… luta desigual porque há muito sofrimento, muita miséria, muita fome. Os bons são poucos, os maus por enquanto ainda são muitos. Como alguém afirmou: Todos os Politburo sempre mentem.

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