terça-feira, 18 de agosto de 2009

O Cavaleiro do Rei (48). Novela


Depois de passar a ponte levadiça e antes de chegar ao fosso, um guarda junto da Grande Muralha alarma. Epok aproxima-se, interroga-o:
- Quem roubou as piranhas?
Ninguém sabe, ou não quer responder. Epok olha para baixo. Vê um grande buraco cavado por baixo do Grande Muro. Agora já sabia como os géneros e as piranhas desapareceram. Junto ao túnel estava um papel pendurado com uma espinha de peixe que dizia: OS PESCADORES DO ROBIN ALAMEDA SQUAD. Epok previne o chefe da guarda:
- Ponham guardas de metro a metro.
- Já fizemos isso.
- Ponham arame electrificado.
- Quase há cinquenta anos que a luz está sempre a falhar.
- Temos os geradores.
- Roubam as baterias e o combustivel.
- Se isto acontece na Grande Muralha do Grande Palácio Castelo-forte, não quero imaginar como será no reino e vice-reinos.

CAPÍTULO XIV
O Real Santo Ofício

Esta aliança de interesses empresariais moderados com uma estrutura mafiosa de poder está na base do fato de sermos hoje o país com a distribuição de renda mais injusta do planeta, de não conseguirmos alimentar o povo numa terra tão bem dotada de recursos naturais, de sermos balançados pelos esquemas de especulação financeira como qualquer república de banana. A verdade é que a estrutura mafiosa de poder, e a corrupção sistêmica que a sustenta, tornam inviável qualquer esforço de reforma do Estado, de modernização institucional, de evolução para uma sociedade civilizada.
In O mosaico partido. Ladislau Dowbor


Entretanto, a anunciada manifestação dos estudantes republicanos, que apenas pediam os passes de acesso aos transportes reais, apesar destes estarem autorizados há seis meses – sempre os seis meses – proibiu-se. Parece que ninguém se lembra, ou é cego, que existe espalhado por todos os cantos do reino o seguinte:

NÃO SÃO PERMITIDAS MANIFESTAÇÕES NO REINO!

Mesmo assim os jovens republicanos não desistem. Animados do mais profundo ideal, com o sangue a escorrer e a ferver nas artérias juvenis do corpo ávido de patriotismo, marcharam contra os diabocratas. O Real Santo Oficio aguardava-os, prevenido pelo zeloso alcaide-mor, vice-rei do condado Jingola.

A guarda pretoriana conduzida em quadrigas puxadas por quatro cavalos brancos simbolizando a vitória real, investiram contra o que lhes tinham dito, que eram milhares de jovens leões esfaimados. Pescaram vinte. Treze leões e sete jovens leoas que parecendo peixes atiraram-nos a esmo para debaixo dos pés dos condutores. Conduzidos à presença do grande inquisidor, antes passaram por um túnel que lembrava as noites muito escuras das ditaduras. Ratos e morcegos circulavam felizes na liberdade oferecida a baratas e restos de lixo. Ouviam-se gemidos que qualquer coração não suporta. Pararam junto a um altar de sacrifícios. O grande inquisidor oferece aos olhares a tranquilidade das suas vestes brancas, que acompanha com uma cruz papal. Levanta-a e começa o interrogatório:
- Acaso procurais o Santo Graal?

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